Ex-presidente Michel Temer chega à Polícia Federal no Rio de Janeiro| Foto: MAURO PIMENTEL/AFP

 A prisão do ex-presidente Michel Temer, em mais um desdobramento da Operação Lava Jato, e a apresentação da proposta de reforma da previdência dos militares, que prevê uma economia de cerca de R$ 10 bilhões em dez anos, azedaram o humor do mercado financeiro nesta quinta. O Ibovespa - índice referencial das ações brasileiras - caiu 1,34% e o dólar aumentou 0,9%, chegando à marca dos R$ 3,80. 

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 Segundo o economista Pedro Afonso Coelho, nesta quinta, o mercado reagiu mais por impulso. “A reforma previdenciária é uma questão matemática. Vai ter de sair de algum jeito, nem que seja a fórceps.” 

 “A situação envolvendo o ex-presidente cria uma situação de constrangimento no curto prazo. Mas no médio e longo prazo quem ganha é o Brasil. Dá a impressão de que está havendo um combate à corrupção”, diz Álvaro Bandeira, economista-chefe do banco Modalmais. 

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 Forma ruim para reformas 

 Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, ressalta que a prisão de Temer pode ser lida pelo Congresso de uma forma ruim para reformas. 

 “Um dos detidos (ex-ministro Moreira Franco) é sogro do presidente do Congresso Nacional e a prisão aconteceu alguns dias depois de um atrito entre ele e o ministro da Justiça. Esta leitura, que não é única, pode colocar o mercado em estado de alerta, já que a dinâmica de curto prazo da reforma da previdência seria afetada.” 

 Paulo Gama, analista político da XP Investimentos, diz que as prisões desta quinta não ajudam na expectativa de que o governo adote um tom menos de campanha e mais pragmático em relação ao Congresso e aos políticos em busca da aprovação da reforma da Previdência. 

O que o Congresso esperava para ter esse avanço era que o governo conseguisse se descolar do discurso de campanha crítico à política tradicional e caminhasse para uma prática mais pragmática. Quando é preso um dos símbolos dessa política tradicional, fica mais custoso para o presidente Jair Bolsonaro fazer esse movimento" 

"Tudo o que desviar o foco do Congresso, turvar o ambiente de discussão, tumular o ambiente e deixar o clima mais acirrado não ajuda na votação de uma reforma que já não é fácil de passar", diz. 

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Na avaliação do economista-chefe da Necton, André Perfeito, a prisão de Temer aumenta também as tensões entre a classe política e as forças da Lava Jato e do judiciário, que já era grande. 

Na véspera, Maia fez duras críticas ao ministro da Justiça, Sergio Moro, e a seu pacote de medidas anticrime. O economista cita ainda a criação da CPI Lava Toga, para investigar integrantes do STF (Supremo Tribunal Federal) e de tribunais superiores. 

"Tudo isso em conjunto evidencia que teremos maior incerteza política num momento que o presidente não está com sua capacidade de articulação plena", diz Perfeito. Pesquisa Ibope revelou que a aprovação do governo de Bolsonaro caiu 15 pontos desde a posse. 

"A prisão de Temer foi um aviso em dois, como se diz no jargão de mercado. Outros nomes de peso devem ser presos ou pressionados em breve ao que tudo indica." 

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Previdência dos militares 

O anúncio da proposta da reforma da previdência dos militares também foi frustrante, mas o economista avalia que os investidores estão olhando, no longo prazo, para a aprovação como um todo. “O mais importante neste momento é garanti-la. Há margem de manobra”, diz Bandeira. 

 "Uma das avaliações feitas é de que a economia de R$ 10 bilhões em 10 anos é muito pequena em relação à da PEC da Nova Previdência (R$ 1 trilhão). Outra é a sinalização negativa do comprometimento do governo devido às concessões estabelecidas para o grupo", disse a XP em relatório. 

"O mercado viu como negativo o plano para os militares, uma vez que ele trouxe uma série de benesses para uma categoria do serviço público [...] O governo tem se apoiado na estratégia de comunicação de que a previdência gera e perpetua desigualdades esdrúxulas no país, e que por isso a mesma precisa ser reformada. Porém, com esse projeto para os militares, o governo instalou um gigantesco telhado de vidro em cima da sua principal linha retórica", escreveu a Guide.