Em uma “Segunda Negra” para os mercados mundiais, a Bolsa brasileira registrou a maior desvalorização diária em oito meses e voltou ao patamar em que se encontrava em 2009. O dólar acompanhou o aumento da aversão ao risco no exterior e a busca por ativos mais seguros e fechou com a maior cotação desde março de 2003.
O Ibovespa, principal índice do mercado brasileiro, caiu 3,03%, para 44.336 pontos. Foi a maior queda diária desde 12 de dezembro do ano passado. No início dos negócios, o índice chegou a cair 6,5%, mas moderou a queda ao longo da sessão. Com a desvalorização desta segunda, a Bolsa voltou ao patamar de abril de 2009 – quando ensaiava uma recuperação dos efeitos da crise econômica mundial.
INFOGRÁFICO: confira o desempenho das principais bolsas de valores do mundo nesta segunda
Os mercados mundiais vivenciaram um dia de pânico gerado pelas dúvidas sobre o crescimento da economia chinesa. Na sexta-feira (21), o índice Caixin dos executivos de compras – que acompanha a atividade do setor industrial – caiu à sua marca mais baixa desde o começo de 2009, o momento de pico da crise financeira mundial. Os analistas vinham esperando sinais de melhora.
Os investidores esperavam que, diante de dados econômicos fracos no gigante asiático, o governo lançasse medidas amplas de estímulo neste final de semana, o que acabou não acontecendo.
Para tentar injetar liquidez na Bolsa, o governo chinês autorizou os fundos de pensão administrados por governos locais a investirem no mercado acionário. A decisão, inédita, buscava canalizar potencialmente centenas de bilhões de yans para o mercado acionário chinês.
A medida não segurou a queda das Bolsas chinesas. A Bolsa de Xangai fechou o dia com forte queda de 8,49%, para 3.209 pontos. A Bolsa de Shenzhen, a segunda maior da China, registrou queda de 7,70%, a 1.882 pontos.
“O governo tem buscado conter a queda dos mercados, mas perdeu a mão. Os incentivos que concedeu anteriormente para ajudar na formação de uma classe média consumidora e que pudesse investir em Bolsa estão sendo revertidos pela perspectiva de uma desaceleração mais forte da economia”, avalia Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.
Agora, a expectativa dos investidores é que, após a queda generalizada desta segunda-feira, o governo chinês decida promover uma nova rodada de estímulos econômicos no país. Alternativa que, na visão de André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, não vai se concretizar.
“A China vive uma bolha no mercado acionário. O governo está achando bom desinchar a Bolsa, pensando no longo prazo”, avalia. Entre 12 de junho de 2014 e a mesma data deste ano -quando atingiu seu pico em sete anos-, o índice composto de Xangai teve valorização de 151%. Desde então, acumula queda de quase 38%.
Pânico
A preocupação com China fez as Bolsas europeias desabarem nesta segunda. O principal índice europeu de ações despencou nesta segunda-feira após os mercados chineses desabarem, reduzindo em bilhões de euros seu valor de mercado e atingindo a mínima em sete meses. O índice FTSEurofirst 300 fechou com queda de 5,44%, para 1.349 pontos, e perdeu cerca de 450 bilhões de euros (US$ 521,42 bilhões) em valor de mercado -pior performance de fechamento desde novembro de 2008.
Em Londres, o índice FTSE-100 recuou 4,67%, para 5.898 pontos. Em Frankfurt, o índice DAX caiu 4,70%, para 96.648 pontos. Em Paris, o índice CAC-40 perdeu 5,35%, a 4.383 pontos.
Em Milão, o índice FTSE-MIB teve desvalorização de 5,96%, para 20.450 pontos. Em Madri, o índice Ibex-35 registrou baixa de 5,01%, a 97.756 pontos. Em Lisboa, o índice PSI-20 se desvalorizou 5,80%, para 4.981 pontos.
Nos Estados Unidos, os principais indicadores também caíram, após registrarem a pior semana em quatro anos devido a preocupações envolvendo China.
O índice Dow Jones teve queda de 3,57%, enquanto o S&P registrou desvalorização de 3,94% e o índice da Bolsa Nasdaq cedeu 3,82%.
Juros nos EUA
A queda no preço das commodities causada por uma menor demanda da China – grande importador de matérias-primas – ameaça provocar uma pressão deflacionária na economia americana, em um momento em que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) discute o aumento dos juros no país.
“O cenário de grande incerteza pode levar o Fed a adiar para o próximo ano a alta dos juros. O movimento deflacionário é um fator de risco que o banco central americano vai discutir e avaliar seu impacto na perspectiva inflacionária para o país”, afirma Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho no Brasil.
Em julho, o índice de preços ao consumidor nos EUA subiu 0,1%, abaixo da expectativa de analistas, que viam avanço de 0,2%. Foi o menor ritmo em três meses, o que gera dúvidas sobre a velocidade com que a inflação vai voltar à meta estabelecida pelo Fed, que é de 2% ao ano.
O adiamento da elevação dos juros nos EUA deve diminuir a pressão sobre o dólar aqui, com os investidores optando por manter recursos em economias emergentes, como o Brasil, que oferecem taxas de remunerações maiores. O movimento de entrada de dólares tende a conter a valorização da moeda americana e pressionar a cotação para baixo.
Ações
Aqui, o forte aumento da aversão ao risco fez as ações preferenciais – mais negociadas e sem direito a voto – da Petrobras fecharem no menor nível desde 30 de setembro de 2003. As ações caíram 6,51%, para R$ 7,76, mas chegaram a desabar mais de 9% no início dos negócios.
As ações ordinárias da estatal – com direito a voto – fecharam com queda de 5,43%, para R$ 8,70. No início da sessão, também chegaram a perder mais de 9%. As ações foram afetadas pela desvalorização do preço do petróleo no mercado internacional.
Já as ações da Vale chegaram a desabar mais de 10%, influenciadas pela preocupação com China, o que fez os preços do minério de ferro caírem 5% nesta segunda-feira. Os papéis preferenciais da mineradora tiveram queda de 7,96%%, para R$ 12,38, no menor patamar desde 15 de setembro de 2004. As ações ordinárias caíram 7,78%, para R$ 15,40, no menor nível desde 3 de novembro de 2004.