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Os mercados mundiais vivenciaram um dia de pânico gerado pelas dúvidas sobre o crescimento da economia chinesa | Paulo Whitaker/Reuters
Os mercados mundiais vivenciaram um dia de pânico gerado pelas dúvidas sobre o crescimento da economia chinesa| Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Em uma “Segunda Negra” para os mercados mundiais, a Bolsa brasileira registrou a maior desvalorização diária em oito meses e voltou ao patamar em que se encontrava em 2009. O dólar acompanhou o aumento da aversão ao risco no exterior e a busca por ativos mais seguros e fechou com a maior cotação desde março de 2003.

O Ibovespa, principal índice do mercado brasileiro, caiu 3,03%, para 44.336 pontos. Foi a maior queda diária desde 12 de dezembro do ano passado. No início dos negócios, o índice chegou a cair 6,5%, mas moderou a queda ao longo da sessão. Com a desvalorização desta segunda, a Bolsa voltou ao patamar de abril de 2009 – quando ensaiava uma recuperação dos efeitos da crise econômica mundial.

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Os mercados mundiais vivenciaram um dia de pânico gerado pelas dúvidas sobre o crescimento da economia chinesa. Na sexta-feira (21), o índice Caixin dos executivos de compras – que acompanha a atividade do setor industrial – caiu à sua marca mais baixa desde o começo de 2009, o momento de pico da crise financeira mundial. Os analistas vinham esperando sinais de melhora.

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Os investidores esperavam que, diante de dados econômicos fracos no gigante asiático, o governo lançasse medidas amplas de estímulo neste final de semana, o que acabou não acontecendo.

Para tentar injetar liquidez na Bolsa, o governo chinês autorizou os fundos de pensão administrados por governos locais a investirem no mercado acionário. A decisão, inédita, buscava canalizar potencialmente centenas de bilhões de yans para o mercado acionário chinês.

A medida não segurou a queda das Bolsas chinesas. A Bolsa de Xangai fechou o dia com forte queda de 8,49%, para 3.209 pontos. A Bolsa de Shenzhen, a segunda maior da China, registrou queda de 7,70%, a 1.882 pontos.

“O governo tem buscado conter a queda dos mercados, mas perdeu a mão. Os incentivos que concedeu anteriormente para ajudar na formação de uma classe média consumidora e que pudesse investir em Bolsa estão sendo revertidos pela perspectiva de uma desaceleração mais forte da economia”, avalia Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.

Agora, a expectativa dos investidores é que, após a queda generalizada desta segunda-feira, o governo chinês decida promover uma nova rodada de estímulos econômicos no país. Alternativa que, na visão de André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, não vai se concretizar.

“A China vive uma bolha no mercado acionário. O governo está achando bom desinchar a Bolsa, pensando no longo prazo”, avalia. Entre 12 de junho de 2014 e a mesma data deste ano -quando atingiu seu pico em sete anos-, o índice composto de Xangai teve valorização de 151%. Desde então, acumula queda de quase 38%.

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A recente desaceleração da economia chinesa não deve preocupar os brasileiros, segundo o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa.

Apesar de a Bolsa brasileira abrir em queda superior a 6% nesta segunda-feira (24), o ministro afirmou que o país “está preparado para enfrentar esse tipo de volatilidade”, com ações focadas no controle da inflação e na capacidade de o governo produzir “um resultado primário mais elevado em bases recorrentes”.

“Essas são as âncoras da estabilidade. Nós trabalhamos com câmbio flutuante e isso faz com que a taxa de câmbio flutue às vezes excessivamente diante de notícias novas como as de hoje, com a queda bem forte da bolsa chinesa”, disse o ministro após participar da reunião de coordenação política do governo.

“Nós temos um elevado estoque de reservas internacionais, que dá ao Brasil segurança para enfrentar essa flutuação cambial sem gerar problemas financeiras no país e temos uma agenda fiscal de curto, médio e longo prazo que garante a consistência da nossa política fiscal e a estabilidade da dívida pública a médio prazo”, completou.

Pânico

A preocupação com China fez as Bolsas europeias desabarem nesta segunda. O principal índice europeu de ações despencou nesta segunda-feira após os mercados chineses desabarem, reduzindo em bilhões de euros seu valor de mercado e atingindo a mínima em sete meses. O índice FTSEurofirst 300 fechou com queda de 5,44%, para 1.349 pontos, e perdeu cerca de 450 bilhões de euros (US$ 521,42 bilhões) em valor de mercado -pior performance de fechamento desde novembro de 2008.

Em Londres, o índice FTSE-100 recuou 4,67%, para 5.898 pontos. Em Frankfurt, o índice DAX caiu 4,70%, para 96.648 pontos. Em Paris, o índice CAC-40 perdeu 5,35%, a 4.383 pontos.

Em Milão, o índice FTSE-MIB teve desvalorização de 5,96%, para 20.450 pontos. Em Madri, o índice Ibex-35 registrou baixa de 5,01%, a 97.756 pontos. Em Lisboa, o índice PSI-20 se desvalorizou 5,80%, para 4.981 pontos.

Nos Estados Unidos, os principais indicadores também caíram, após registrarem a pior semana em quatro anos devido a preocupações envolvendo China.

O índice Dow Jones teve queda de 3,57%, enquanto o S&P registrou desvalorização de 3,94% e o índice da Bolsa Nasdaq cedeu 3,82%.

Juros nos EUA

A queda no preço das commodities causada por uma menor demanda da China – grande importador de matérias-primas – ameaça provocar uma pressão deflacionária na economia americana, em um momento em que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) discute o aumento dos juros no país.

“O cenário de grande incerteza pode levar o Fed a adiar para o próximo ano a alta dos juros. O movimento deflacionário é um fator de risco que o banco central americano vai discutir e avaliar seu impacto na perspectiva inflacionária para o país”, afirma Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho no Brasil.

Em julho, o índice de preços ao consumidor nos EUA subiu 0,1%, abaixo da expectativa de analistas, que viam avanço de 0,2%. Foi o menor ritmo em três meses, o que gera dúvidas sobre a velocidade com que a inflação vai voltar à meta estabelecida pelo Fed, que é de 2% ao ano.

O adiamento da elevação dos juros nos EUA deve diminuir a pressão sobre o dólar aqui, com os investidores optando por manter recursos em economias emergentes, como o Brasil, que oferecem taxas de remunerações maiores. O movimento de entrada de dólares tende a conter a valorização da moeda americana e pressionar a cotação para baixo.

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Ações

Aqui, o forte aumento da aversão ao risco fez as ações preferenciais – mais negociadas e sem direito a voto – da Petrobras fecharem no menor nível desde 30 de setembro de 2003. As ações caíram 6,51%, para R$ 7,76, mas chegaram a desabar mais de 9% no início dos negócios.

As ações ordinárias da estatal – com direito a voto – fecharam com queda de 5,43%, para R$ 8,70. No início da sessão, também chegaram a perder mais de 9%. As ações foram afetadas pela desvalorização do preço do petróleo no mercado internacional.

Já as ações da Vale chegaram a desabar mais de 10%, influenciadas pela preocupação com China, o que fez os preços do minério de ferro caírem 5% nesta segunda-feira. Os papéis preferenciais da mineradora tiveram queda de 7,96%%, para R$ 12,38, no menor patamar desde 15 de setembro de 2004. As ações ordinárias caíram 7,78%, para R$ 15,40, no menor nível desde 3 de novembro de 2004.

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