A BM&FBovespa irá rever a estratégia de parcerias com outras bolsas de forma global após a sequência de anúncios de fusões internacionais, principalmente a das bolsas de Nova York (Nyse) e da Alemanha (Deutsche Börse), diz o diretor-presidente da companhia, Edemir Pinto. "Todas as estratégias mirando parcerias e crescimento terão de ser revistas", destacou. Ele ainda minimizou os riscos da entrada de um concorrente para a BM&FBovespa no país e disse que o grande concorrente da bolsa hoje é o BNDES. O executivo alertou para o que chamou de "risco regulatório", mas reiterou a confiança nas ações do governo para o mercado de capitais brasileiro.
O momento econômico atual é propício para as aberturas de capital?
Não tenho dúvida. O Brasil hoje vive um momento muito importante, principalmente para o mercado de capitais. Tivemos aí um boom em 2007, foi recorde para o nosso mercado, não só em quantidade de aberturas de capital, mas em volume financeiro. Mas, neste ano de 2011, o Brasil apresenta todas as condições para que possamos, pelo menos em volume financeiro, superar o volume de 2007. A nossa expectativa é de que isso aconteça, apesar de a crise internacional ter atrapalhado um pouco este início de ano.
Qual a expectativa para o volume de ofertas neste ano?
Temos expectativa de que pelo menos R$ 50 bilhões a R$ 55 bilhões sejam conseguidos em aberturas de capital e follow ons em 2011. Em quantidade, houve quase 70 operações em 2007. Eu acho que o mercado tem potencial, mas para 2011 devemos ficar bem abaixo desse número.
Os investidores têm interesse em pequenas e médias empresas também?
Não tenho dúvida nenhuma. E não só aqui no Brasil. Olhamos para o mercado internacional; aliás, é o nosso grande alvo, e tanto em Londres como no Canadá esse modelo de mercado de acesso é o que mais cresce.
Qual o potencial desse mercado?
Nós temos hoje perto de 15 mil empresas que faturam entre R$ 100 milhões e R$ 400 milhões por ano. Esse mercado tem um potencial muito grande e o Bovespa Mais oferece as condições de governança de forma gradual. A empresa não precisa se estruturar já como exigem, por exemplo, as regras do Novo Mercado. Ela pode fazer isso ao longo dos anos e pode, inclusive, se listar sem fazer captação, para ganhar visibilidade, não só no mercado interno como no internacional.
Como a BM&FBovespa avalia essa tendência internacional de consolidação de bolsas?
De fato, estamos experimentando na indústria de bolsas um grande movimento. Mas de todos os que ocorreram, a operação da Deutsche [Börse] com a NYSE de fato mexe com o setor. Eu tenho dito que todas as estratégias olhando parcerias e crescimento terão de ser revistas pelas bolsas. A operação quebra vários paradigmas, dá uma outra dimensão, então é o que estamos fazendo neste momento: analisando todas essas oportunidades e também revendo nossa estratégia de parcerias de forma global.
O que está sendo reavaliado?
Os mercados de capitais e derivativos agora não têm mais muro, cerca, nada. Os players são completamente globais, arbitram todas as bolsas ao mesmo tempo. Você tem de apostar cada vez mais em centros de liquidez e buscar suas parcerias focadas em montar centros de liquidez. No nosso caso, nós não temos de olhar para mercados amadurecidos e consolidados, e sim para mercados em desenvolvimento e que possam permitir à nossa bolsa e aos nossos participantes expansão no negócio. Os projetos de fazer parcerias com as bolsas na América Latina, principalmente aqui do Cone Sul, não mudam. O modelo vertical integrado, uma bolsa multiativos, passou a ser sonho agora de todas as bolsas. Quem não tem vai atrás, o que não é o nosso caso.
Nesse sentido, como andam as negociações para a dupla listagem com a bolsa de Hong Kong e a parceria com a bolsa de Xangai?
Com Hong Kong estamos trabalhando. Isso leva algum tempo porque depende muito dos órgãos reguladores. Com Xangai, o acordo é mais genérico e tem evoluído. Já acertamos um segundo fórum em Xangai após o encontro realizado no Brasil no mês passado. Pode anotar aí: na última semana de setembro deste ano, em Xangai.
Aqui no Brasil existe a possibilidade de criação de uma bolsa concorrente. Como a BM&FBovespa pretende responder a essa possível concorrência?
A concorrência aqui no Brasil já está prevista desde 2007, quando a CVM [Comissão de Valores Mobiliários] publicou a instrução que permitiu às bolsas brasileiras abrirem capital e já previa que qualquer instituição local ou estrangeira pudesse se estabelecer aqui como bolsa. Para nós, essa concorrência não assusta, é inclusive muito bem-vinda, porque se eventualmente alguém de fora vem para cá é porque também avalia, como nós avaliamos, o potencial desse mercado.
A BM&FBovespa busca a popularização e tem o objetivo de atingir 5 milhões de investidores. Como andam esses projetos?
De fato, nós temos essa meta para alcançar até o fim de 2014. O projeto está baseado em pelo menos dois grandes pilares: o primeiro é o da educação financeira, levar o conhecimento a nossa população, principalmente o pequeno investidor. Apesar de o mercado de capitais brasileiro ter esse volume, tamanho e visibilidade, ainda está muito distante do cidadão. O segundo é ter no país a continuidade da estabilidade macroeconômica. Essas premissas também precisam acontecer, porque a renda per capita do brasileiro melhora.
E com relação à quantidade de empresas listadas?
Nós temos uma meta de aumentar em 200 o número de companhias até 2014. Eu acho muito tímida essa meta, pelo potencial do país. E por que isso não acontece rapidamente? Você tem hoje um grande concorrente da bolsa, que é o BNDES. O banco é importante e fez o papel dele durante a crise, mas uma hora vai acabar chegando ao limite. Por isso nós esperamos que o governo tenha sensibilidade com o mercado de capitais porque o risco regulatório pode levar esse mercado embora.
O que exatamente preocupa a bolsa quando se fala em risco regulatório? É só o aumento do IOF?
Quando o governo fala em conter a apreciação do real, o mercado fica preocupado com tudo. Ele pode fazer isso com medidas estruturais, de médio e longo prazo, e medidas de curtíssimo prazo. Essas nós tememos e trazem o risco regulatório para a mesa. E o que o governo vem com habitualidade fazendo é aplicando IOF. Fala-se também em limites de posição, até em margens diferenciadas na bolsa. Mas eu não acredito em nada disso.
E por quê?
Pelo que tenho conversado com o governo, o entendimento é de que o mercado de capitais é mola mestra nesse desenvolvimento do país, mas é preciso dizer isso. O mercado precisa ver essas políticas estruturais mais definidas pelo governo para tirar esse receio. Eu, ao contrário, estou na expectativa de que retirem o IOF, principalmente no mercado de ações. E já fiz pedido nesse sentido ao ministro Guido Mantega, pelo menos para as aberturas de capital.
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