Consumidores na Rua XV, em Curitiba: contratação de temporários pelo comércio ajudou a baixar o desemprego| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Cenário é oposto ao exibido pelo Caged

O cenário do mercado de trabalho apurado pelo IBGE em novem­­bro parece bem diverso do registrado pelos resultados do Cadastro Geral de Empregados e Desem­pregados (Caged), do Mi­­nis­­tério do Trabalho, que mostrou forte queda na geração de postos de trabalho no mercado formal.

Segundo o gerente da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), Cimar Azeredo, há grandes diferenças entre as duas pesquisas. Enquanto a abrangência do Caged é nacional, a PME engloba apenas seis re­­giões metropolitanas. O Caged en­­globa apenas o mercado formal, enquanto a PME também apura o mercado informal.

"É inquestionável o valor do Caged ao que ele se propõe; assim como é inquestionável o valor da PME. Mas essas diferenças podem ocorrer", afirmou. Cimar acrescentou que, no caso da pesquisa sobre mercado de trabalho do Dieese – que anteontem apontou desemprego de 9,7% –, o levantamento abrange regiões metropolitanas diferentes das pesquisadas pelo IBGE, com outra metodologia.

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A onda de contratação de temporários derrubou a taxa de desemprego nas seis regiões metropolitanas do país monitoradas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Recife, Salva­dor, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. De outubro para novembro, a taxa de desocupação recuou de 5,8% para 5,2%, a menor desde o início da atual Pesquisa Mensal de Emprego (PME), em 2002. Na avaliação do IBGE, houve antecipação, de de­­zembro para novembro, no movimento sazonal de abertura de novas vagas para atender à demanda aquecida desta época do ano.

Mas a boa notícia representa também uma preocupação a mais para a inflação em 2012, que pode ser impulsionada pela renda. Os ganhos do trabalhador continuam em patamar elevado. Embora tenha apresentado estabilidade contra outubro, o rendimento real em novembro foi de R$ 1.623,40, o valor mais elevado para o mês em nove anos.

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"O mercado de trabalho está superaquecido", avaliou o professor do Departamento de Economia da PUC-Rio e economista da Opus Gestão de Recursos, José Marcio Camargo. O especialista lembrou o histórico da taxa de desemprego, que caiu pela metade desde 2003, favorecida por um crescimento eco­­nômico médio anual em torno de 4,5%. "Se continuássemos a crescer a taxas próximas a 4,5%, teríamos zero de taxa de desemprego. E isso não seria bom para a inflação."

O consumo em alta do trabalhador contribuiu para o avanço gradativo da inflação de serviços. Este segmento acumula alta de 9% este ano, contra uma inflação média de 6,56% medida pelo IPCA-15, prévia do IPCA, usado pelo governo como referência para a meta inflacionária. "Não adianta ter aumento de salário com inflação alta. O trabalhador pode ter to­­dos os aumentos que quiser, mas o salário acabaria sendo corroído pela inflação elevada", alertou Camargo.

O bom momento do mercado de trabalho pode ser um dos vilões da inflação para o ano que vem, mas deve gerar em 2011 o menor nível de desemprego anual da história da PME. A taxa média de desemprego de janeiro a novembro deste ano foi de 6,1%, abaixo de igual período no ano passado (6,9%) e inferior à de 2010 (6,7%), até o momento a menor da série.

Para o gerente da PME, Cimar Azeredo, é errado dizer que o mercado de trabalho não foi afetado pela atual desaceleração da economia, visto que os números de no­­vembro foram beneficiados pela contratação sazonal de temporários. "É preciso ver em janeiro qual será o contingente que será contratado de forma efetiva", resumiu.

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