Os presidentes da Renault, Nissan e Mitsubishi Motors vão criar uma tríade para comandar a aliança automotiva entre as montadoras, agora que o brasileiro Carlos Ghosn, executivo responsável por costurar a união das três empresas, está preso, no Japão.
Representantes das três montadoras se reuniram pela primeira vez desde que o escândalo eclodiu, no início da semana passada. Na última segunda-feira (26), fontes ligadas à Bloomberg relataram que estava sendo cogitada uma separação entre as três empresas.
As três empresas, cuja aliança foi formada por Ghosn há quase duas décadas, divulgaram uma declaração conjunta nesta quinta-feira (29), em que afirmam estar “totalmente comprometidas” com a aliança global. O elo se deu depois que a montadora francesa Renault investiu em sua rival japonesa Nissan. Hoje, a Renault possui 43% da Nissan, enquanto a Nissan possui apenas 15% da Renault.
“Foi uma reunião muito produtiva”, disse o CEO da Nissan, Hiroto Saikawa. “Reafirmamos que nós três vamos tomar a liderança, o que é excelente”.
A grande questão em aberto é sobre quem irá liderar a aliança. Atualmente, a Renault tem o direito de apontar o chairman e CEO, e cabe à Nissan indicar o vice-chairman. Por enquanto, dividir a liderança entre os três presidentes resolve este problema, além de ajudar as empresas a adentrarem uma era pós-Ghosn sem grandes traumas.
Em conversa com jornalistas, o CEO da Mitsubishi Motors, Osamu Masuko, ressaltou que é o momento de restaurar o senso de normalidade.
Após a prisão de Ghosn na semana passada, a Nissan e a Mitsubishi expulsaram o executivo como seu respectivo presidente, embora ele continue sendo o CEO da Renault, que nomeou executivos para preencher esses cargos de maneira provisória.
Pessoas próximas à Nissan disseram que a saída de Ghosn é uma oportunidade para reequilibrar o poder com a Renault. Já pessoas ligadas à Renault afirmaram que a empresa se oporia a qualquer tentativa de reformular fundamentalmente sua parceria.
A reunião desta quinta-feira não discutiu regras da aliança. Questões como a estrutura de capital e governança não entraram na pauta, relata uma fonte próxima ao assunto.
“A aliança não é nacional, e sim global; e não depende de alguns indivíduos, mas de todo o nosso time para funcionar”, diz a carta, assinada por Saikawa, Masuko e o CEO interino da Renault, Thierry Bollore. “Estamos confiantes que podemos confiar ainda mais na aliança, baseados na estrutura sólida construída com a dedicação de todos desde 1999”.
Queda de braços
A Renault está confortável com o domínio que construiu na aliança durante o período de Ghosn, e gostaria de tornar o modelo permanente. Quem lidera esta empreitada é o acionista majoritário da Renault, o estado francês, o que só aumenta as tensões com o Japão.
Há tempos que a Nissan tenta equalizar o poder dentro da aliança, para garantir aos japoneses o controle de uma das empresas mais importantes do país, relatam fontes. O que leva a temores, do lado francês, de que a prisão de Ghosn pode ter sido orquestrada como um golpe, acusação negada por Saikawa. Promotores de Tóquio estão tentando ampliar em mais 10 dias a prisão do executivo, segundo informações do Kyodo News.
Apesar das tensões, analistas tem elogiado a condução da crise dentro da aliança. Não faz sentido se separar repentinamente, disse Takaki Nakanishi, analista da Jefferies em Tóquio.
“A Renault-Nissan trabalhou duro para criar essa aliança nos últimos 20 anos. É realmente difícil voltar à estaca zero da noite para o dia”, disse Nakanishi. “Eles devem sentar para recuperar a confiança e tomar uma decisão racional sobre o que é bom para eles.”