As especulações na reta final da corrida eleitoral impulsionaram o dólar ao maior patamar em quase seis anos. No penúltimo pregão antes da eleição, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 1,03% e encerrou valendo R$ 2,510, a maior cotação desde 4 de dezembro de 2008. O dólar comercial subiu 1,29% e foi a R$ 2,513. O real teve a maior baixa em relação ao dólar entre 24 moedas emergentes.
INFOGRÁFICO: Veja a cotação atual do dólar
Já a Bolsa teve o quarto pregão negativo da semana e zerou os ganhos do ano. O Ibovespa fechou em baixa de 3,24%, marcando 50.713 pontos. É a menor pontuação desde 15 de abril deste ano. Em 2 de setembro, o índice marcava 61.895 alta de 20,2% no ano.
Segundo analistas, as oscilações de ontem tiveram como motivo rumores sobre a abertura de vantagem da presidente Dilma Rousseff (PT) sobre o candidato Aécio Neves (PSDB). As previsões foram confirmadas pelos institutos Ibope e Datafolha em pesquisas divulgadas logo após o fechamento dos mercados: no Datafolha, Dilma obtém 53% e Aécio, 47% das intenções de voto, considerando os válidos; no Ibope, os números são Dilma com 54% e Aécio com 46% (levantamentos registrados no Tribunal Superior Eleitoral sob os números BR-01168/2014 e BR01162/2014). "[A expectativa eleitoral] foi um fator mais do que relevante para puxar o dólar para cima, já precificando uma vitória da Dilma no domingo", justifica Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso.
Volatilidade
A expectativa para hoje é de mais um dia de forte ajuste nos preços de ações e da moeda americana. Há uma percepção de que a alta recente, devido ao avanço da oposição nas pesquisas, não foi completamente revertida.
Para Marco Aurélio Barbosa, analista da CM Capital, a Bolsa já começou a precificar a vantagem de Dilma. "O mercado tenta antecipar. Uma vantagem de seis, sete pontos nas pesquisas dificilmente vai se reverter nas urnas. A chance de uma queda brusca na segunda-feira cai", diz.
"A grande volatilidade prevista é, sim, para segunda, quando o mercado trabalhará diante de fatos. Pode até adiantar parte por causa das pesquisas, mas ainda será diante de expectativa, como tem sido ao longo desta semana", disse Eduardo Glitz, diretor de varejo da XP.
Por causa dessa expectativa, a corretora XP decidiu triplicar as exigências de depósito para operações consideradas de altíssimo risco na próxima segunda. Por exemplo, um investidor que pretenda comprar R$ 100 mil em uma aplicação no mercado futuro terá de depositar pelo menos R$ 36 mil na segunda. Até hoje, a exigência é R$ 12 mil. "A pessoa quebra se o índice cai 12%; perde os R$ 12 mil e fica devendo os R$ 100 mil emprestados. Com R$ 36 mil, fica mais difícil."
"Essa volatilidade vai seguir até saírem os nomes e os projetos do próximo governo. E isso independentemente de quem ganhar", diz Marcio Cardoso, sócio da Easyinvest.