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Entenda

Robôs x humanos

Captcha é um acrônimo da expressão "Completely Automated Public Turing test to tell Computers and Humans Apart" (em português, "Teste de Turing Público Completamente Automatizado para Diferenciar Computadores e Humanos). Trata-se de um teste de desafio cognitivo, baseado em mecanismos descritos em 1951 pelo matemático inglês Alan Turing. Adaptados pelas empresas de segurança, os conceitos de Turing foram transformados em uma poderosa ferramenta anti-spam: só um ser humano consegue discernir letras e números entre as formas distorcidas apresentados num Captcha. Turing, entretanto, imaginava que as máquinas em algum momento passariam pelo teste. Uma estimativa mais atual, do futurólogoRaymond Kurzweil, prevê que computadores com capacidade de vencer tal teste de inteligência seriam fabricadas em 2029.

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Ataques maciços afetam usuários do Facebook

Duas empresas de segurança de dados emitiram na semana passada alertas sobre ataques à segurança dos usuários da rede social Facebook. A fabricante de soft­wa­re antivírus AVG Technologies classificou o ataque como "maciço", com mais de 300 mil ameaças em um único fim de semana – uma taxa mais de três vezes superior àquela considerada normal.

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Em face de medidas de segurança mais rígidas para a internet, alguns spammers começaram a adotar uma técnica muito popular no mundo capitalista: a terceirização. Spammers sofisticados estão pagando pessoas na Índia, Ban­gladesh, China e outros países em desenvolvimento para lidar com testes simples conhecidos como captchas, os quais solicitam que os usuários da web digitem uma série de letras e números distorcidos a fim de provar que são seres humanos e não robôs geradores de spam. O valor pago pelo serviço varia de US$ 0,80 a US$ 1,20 dólar pago para cada 1.000 caixas decifradas, de acordo com sites de recrutamento online como o freelancer.com, onde dezenas de projetos deste tipo são ofertadas toda semana. Luis Von Ahn,um professor de ciência da computação da Universidade Carnegie Melon e pioneiro no desenvolvimento de captchas, estima que milhares de pessoas em países em desenvolvimento, principalmente na Ásia, estão resolvendo estes enigmas em troca de pagamentos. Algu­mas operações são mais sofisticadas e envolvem brokers e intermediários, acrescentou o cientista. "Alguns sites são coordenados. Essas pessoas fomentam o interesse. Seus amigos contam a outros amigos, que contam a outros amigos", disse.

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Ficar sentado na frente da tela do computador por horas decifrando caracteres emaranhados e digitá-los em uma caixa é um trabalho monótono. O salário não é nada extraordinário quando comparado com outras atividades de entrada de dados. Mesmo assim, a remuneração parece ser suficientemente tentadora para atrair jovens em países em desenvolvimento, locais onde um salário de US$ 0,50 dólar por hora trabalhada pode ser considerado como um valor razoável. Trabalhadores despreparados das regiões agrícolas de muitas partes da Índia não ganham mais de US$ 2 por dia.

Dia e noite

Ariful Islam Shaon, um universitário de 20 anos de idade em Ban­­gladesh, disse que lidera uma equipe de outros 30 estudantes que trabalham para ele no preenchimento de captchas. Ele disse que os membros de sua equipe trabalham em suas casas uma média de 3 horas diárias e ganham no mínimo US$ 6 por quinzena, podendo ganhar mais dependendo de quão rá­­pido e precisos forem. Não é muito di­­nhei­­ro, reconhece Shaon, mas é preciso muito pouco esforço para complementar a mesada. O estudante, que concordou em ceder en­­trevista a um repórter so­­men­­te via chat, disse que consegue trabalho em websites e é pago através de serviços de pagamentos oferecidos na internet. Ele desconhece a identidade de seus contratantes e não possui interesse al­­gum em descobri-la. "Se pedir que se identifiquem", diz ele, "arrisco não receber meu pagamento".

Outro operador em Bangla­desh, que responde pelo apelido de Workcaptcha no site freelancer.com ostenta em sua página de perfil que sua empresa tem atualmente mais de 30 computadores, e que começou com apenas 5 máquinas, há um ano.Três turnos de trabalhadores permitem que a operação funcione 24 horas por dia, 7 dias por semana. No site, Workcaptcha possui 197 reviews, a vasta maioria positiva, de outros usuários.

Não foi possível averiguar as informações fornecidas por Workcaptcha e Shaon, mas Von Ahn revelou que está claro que Bangladesh se tornou um pólo de resolução de captchas, assim como a China e a Índia. Os captchas decifrados ajudam os spammers a abrir novas contas online para mandar lixo eletrônico e realizar outros tipos de atividades ilícitas.

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Executivos de empresas da internet como o Google revelaram não se preocupar muito com o fato de pessoas estarem recebendo para decodificar captchas, pois eles são apenas uma dentre várias ferramentas que os websites utilizam em sua estrutura de segurança. Alguns sites, por exemplo, podem também enviar códigos de confirmação através de mensagens de texto a celulares, que devem ser, então, digitadas em uma página de verificação antes de novas contas de e-mail sejam ativadas. "Não é possível impedirmos que pessoas recebam dinheiro para decodificar captchas. Nosso alvo é tornar a criação massiva de contas menos atrativa para spammers, e o simples fato de vermos spammers pagando pessoas para decodificarem captchas prova que estamos no caminho certo", disse Macduff Hughes, diretor de engenharia da computação do Google.

Viabilidade econômica

Von Ahn disse que o custo de contratação de pessoas, mesmo que seja aparentemente baixo, deve limitar a extensão destas operações apenas a spammers que já descobriram maneiras de ganhar muito dinheiro com a prática do spam. "Somente pessoas que realmente já sabem lucrar com estas operações é que podem fazer isto", comentou. Esse ponto de vista foi confirmado por um executivo de uma empresa de outsourcing (terceirização) no Sul da Índia que anunciava seus serviços de decodificação de captchas em um website. O executivo, Dileep Paveri, disse que sua empresa pa­­rou de ofertar este tipo de serviço, pois ele deixou de ser lucrativo. A sua empresa, SBL, localizada em Cochin, conseguia cerca de 200 dólares mensais em receitas para cada um dos 10 funcionários que contratou para decodificar spammers para uma empresa do Sri Lanka. "Descobri­mos que não va­­le a pena continuar com essa atividade. Depois de algum tempo, a produtividade das pessoas despenca, pois é um trabalho mui­­to monótono. Elas simplesmente perdem o interesse", disse Pa­­veri, gerente do processo de terceirização e unidade gráfica da SBL.