Além de concorrerem em quantidade e qualidade com os produtos brasileiros, os chineses continuam invadindo o mercado com mercadorias e uma estratégia que não dá chance à competição saudável: o subfaturamento. Segundo nota publicada na coluna de Ancelmo Gois na semana passada, um lote de ternos apreendido pela Receita Federal chegou ao Brasil em meados do mês, cotado a apenas US$ 0,27 (cerca de RS$ 0,54) por peça.
Em fevereiro, e apesar de o Brasil ser conhecido também como o país do biquíni, 57 mil peças provenientes da China também foram barradas, cotadas ao incrível preço de US$ 0,38 cada. Nesse mesmo mês, a Receita reteve 84 mil conjuntos de malha feminina, faturados a US$ 2,25 por unidade, e outra carga de calças de lã feminina cotada a US$ 1,14 o quilo (equivalente a quatro calças).
Para o presidente do Sindicato da Indústria Têxtil de São Paulo (Sinditêxtil-SP), Rafael Cervone Netto, essas apreensões da Receita Federal já deixaram de ser novidade e passaram a representar a ponta de um preocupante iceberg.
Em fevereiro, também foram descobertos 230 mil pares de luva vendidos a US$ 0,07. Obviamente, não eram luvas, porque não há frio no Brasil que justifique tantas luvas, mas era produto têxtil ilegal em quantidades absurdas reclama.
Um dado importante permite, segundo o dirigente, ter uma idéia de quanto vestuário produzido na China entra no país de forma ilegal.
Em seus dados de comércio exterior, o governo chinês informa, oficialmente, ter enviado ao Brasil 40 mil toneladas de produtos têxteis em 2006. Já o governo brasileiro, por sua vez, comunica que foram 18 mil toneladas. Ou seja, a diferença - 22 mil toneladas - é o descaminho; o que não é contabilizado frisa, perplexo, Cervone Neto.
Ao fazer as contas, o presidente do Sinditêxtil-SP também constata que metade das confecções chinesas entrou no país cotadas a US$ 3,50 a tonelada, enquanto a outra metade veio cotada a US$ 14, mais próxima da média mundial, de US$ 16. Ainda assim, os argentinos importam da China pagando US$ 16 a tonelada, enquanto os Estados Unidos - maior importador mundial de roupas da China - pagam entre US$ 17 e US$ 18 a tonelada.
Rafael Cervone Netto citou a elevada carga tributária do país, a taxa de juros e a defasagem cambial como os principais obstáculos a um comércio mais justo e equilibrado entre Brasil e China.
Enquanto no BrasIl temos uma moeda supervalorizada; do outro lado, temos um yuan desvalorizado artificialmente há 10 anos. E a diferença de 7.8 (relação yuan/dólar) para 2.1 (relação real/dólar) é um golpe para qualquer empresa no Brasil que queira competir. Não há competitividade que elimine essa diferença critica.
Esse câmbio maximizou e desnudou as nossas fraquezas no Brasil. E essa fraqueza só acontece do portão da fábrica para fora, porque a indústria têxtil nacional é extremamente competitiva até o portão; é um setor que investiu US$ 10 bilhões de dólares nos últimos 10 anos. E não só em tecnologia de ponta, mas inclusive em responsabilidade social e ambiental acrescenta.
Para Cervone Netto, a solução para essa ameaça à indústria têxtil nacional passa providências urgentes, como o combate à sonegação e a práticas ilegais de comércio, a desoneração da indústria dos impostos que incidem sobre a folha de pagamento, e a publicação da lista - já solicitada ao governo - da relação de importadores do país na internet.
O dirigente considera que o governo precisa 'olhar com cuidado' para o setor têxtil nacional, segundo maior empregador do setor produtivo do país ("só perdendo para alimentos e bebidas, juntos).
Fora do setor produtivo, só perdemos para a construção civil. São mais de 1,650 milhão de pessoas que dependem diretamente do setor. E, de acordo com o BNDES, a cada R$ 10 milhões transacionados no setor têxtil, são gerados, de imediato, 1.400 mil empregos, entre indiretos e diretos enumera.
Em 2006, o setor, que soma 30 mil empresas no país, faturou US$ 33 bilhões, além de ter exportado US$ 2,5 bilhões. Mais de 65% dos empregados são do sexo feminino e 57% já cursaram até ao equivalente à antiga oitava série do ginasial.
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