Nova Iorque - Na quarta maior concordata da história americana, e a maior de uma empresa industrial, a General Motors foi estatizada de fato, com o governo dos EUA assumindo 60% do controle acionário.
Mas a administração federal, que se descreve como um "acionista relutante", prometeu ficar longe do dia a dia dos negócios da montadora, participando apenas de decisões consideradas "fundamentais".
Em pronunciamento ontem, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse que não haverá a participação de funcionários públicos no comando da GM e que autoridades federais só deverão intervir na administração quando isso for "absolutamente imprescindível". "Seremos acionistas relutantes, pois esta é a única maneira pela qual a empresa pode obter sucesso."
A concordata da GM, registrada ontem em uma corte de Manhattan, prevê a divisão da montadora em duas: a "nova GM", que continuará produzindo as marcas mais rentáveis, aliviada de grande parte das dívidas; e a "velha GM", que ficará com os passivos e encarregada de liquidar o restante dos negócios que não interessarem.
Entre as marcas e modelos a serem mantidos constam Cadillac, Chevrolet, Buick e caminhonetes e caminhões GMC. Outras, como Saturn, Hummer e Pontiac serão eliminadas.
Como parte desse processo, são esperados o fechamento de até 20 fábricas, o encerramento de 2,4 mil das 6 mil revendedoras da companhia no mercado americano e a demissão de mais 21 mil trabalhadores sindicalizados (de um total de 54 mil) e representados pela United Auto Workers (UAW).
A GM emprega diretamente 92 mil pessoas nos EUA e também é responsável pelo pagamento de aposentadorias a 500 mil. Em seu auge, nos anos 1950, empregava 514 mil.
Como parte de um acordo anterior à concordata, por ter feito concessões, a UAW terá 17,5% na "nova GM"; o governo do Canadá, 12%; e os credores de US$ 27 bilhões da empresa, uma participação inicial de 10%, mas que pode ir a 25%.
Além dos quase US$ 20 bilhões já injetados na GM, o Tesouro americano e o governo do Canadá, onde a GM também opera, deverão colocar mais US$ 30 bilhões para manter a companhia funcionando.
Fritz Henderson, atual presidente da montadora, deverá ser mantido no comando da "nova GM". Em entrevista em Nova Iorque, ele disse ontem que a divisão da empresa era a única saída possível. Questionado sobre por quanto tempo ele acredita que o governo dos EUA terá de continuar como principal sócio da GM, Henderson respondeu: "Será uma questão de anos, não de meses".
Mesmo assim, segundo prevê o ambicioso plano de reestruturação, a "nova GM" já estaria pronta para entrar em funcionamento dentro de um prazo estimado entre 60 e 90 dias. E, assim, poderia sair da concordata.