O Departamento do Tesouro dos EUA já tem um plano de contingência para o caso de o Congresso não votar a liberação de novos empréstimos do governo até terça-feira. Sem listar que contas deixará de pagar, não conseguiu aplacar o temor do mercado. A pergunta, que o Tesouro diz que responderá antes da data-limite, no dia 2, monopoliza o foco de investidores, analistas, eleitores e lobbies. O Tesouro, porém, hesita em detalhar o plano enquanto o Congresso ainda discute se aumenta o teto da dívida, alimentando a ansiedade.
O plano do republicano John Boehner, que prevê um aumento provisório do teto de endividamento, deveria ser votado ontem na Câmara dos Representantes, mas até o fechamento desta edição, às 22h45 (horário de Brasília), ainda não havia nenhuma definição sobre o assunto. Mesmo que os deputados aprovem a proposta, o líder do Senado norte-americano, o democrata Harry Reid, já havia dito ontem que a casa votaria o plano na mesma noite para bloquear o projeto.
"Assim que a Câmara concluir a votação, o Senado irá organizar-se para apreciar a proposta e a mesma será bloqueada esta noite [de ontem]", disse Reid em nota. Os democratas do Senado precisam de uma maioria de 51 votos para bloquear a lei. Todos os 51 senadores democratas e dois independentes já disseram que não darão apoio à medida. "Nenhum democrata irá votar a favor desse curativo de curto prazo, que colocará nossa economia em risco e a nação em uma situação indefensável em poucos meses", disse Reid.
Títulos
Os juros que o governo paga sobre os títulos de curto prazo do Tesouro subiram a 0,10% ontem. Os papéis vencem dia 4. A variação pode ser discreta, mas títulos com vencimento próximo têm virtualmente taxa zero de retorno, e a rapidez da mudança indica que os investidores se preparam para um calote. "O que posso dizer agora é que, embora só o Congresso possa garantir que o governo pague todas as suas contas, o Tesouro detalhará, conforme se aproxima o dia 2, como fará sem poder tomar empréstimo", disse uma porta-voz do Tesouro.
Segundo a mesma porta-voz, as medidas podem ser anunciadas "a qualquer momento até terça", quando a verba dos empréstimos acaba. Na prática, o plano deve apontar manobras de caixa e mostrar como será o calote se doméstico ou externo.
Embate
A Casa Branca não divulgou dados completos, mas a estimativa mais corrente, do Centro de Políticas Bipartidárias, mostra que o governo tem contas de US$ 307 bilhões e expectativa de receita de US$ 172 bilhões no mês. A diferença implicaria em calote. Resta saber onde o governo decidirá cortar. As possibilidades vão dos juros sobre títulos da dívida americana o que afetaria a economia global, já que eles são referência do mercado a cheques dos aposentados.
Para aumentar a dívida, o Congresso precisa aprovar cortes no Orçamento que tornem o déficit sustentável. É sobre esses cortes que falta consenso entre os partidos e até mesmo dentro deles.