As aplicações de renda fixa, em especial os fundos de investimento e o Tesouro Direto, estão "herdando" os recursos que estão deixando a bolsa. O movimento reflete a aversão ao risco, um movimento típico de momentos de crise como a atual. No caso brasileiro, entretanto, a mudança vinha ocorrendo desde o início do ano sinal de que o mercado doméstico vinha trabalhando há meses com a possibilidade de uma queda drástica no mercado de ações.
As aplicações de renda fixa são aquelas que rendem juros ao investidor. Boa parte delas é formada por títulos públicos, considerados mais seguros do que papéis de empresas privadas, como as ações. Adicionalmente, a alta nos juros básicos da economia brasileira tornou mais atraentes as opções de renda fixa.
Até 1.º de agosto, a captação líquida (valor das novas aplicações menos os saques) dos fundos de renda fixa foi de R$ 52,3 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O valor equivale a 9,5% do patrimônio líquido dos fundos na data final. Nos fundos multimercados, que incluem proporções diversas de títulos de renda fixa e também papéis de renda variável, a captação líquida ficou negativa em R$ 34 milhões.
No Tesouro Direto, instrumento de venda de títulos públicos federais pela internet, o estoque de papéis em poder dos investidores cresceu 29% entre o fim de 2010 e julho deste ano. O total chegou a R$ 6,019 bilhões. A vantagem do Tesouro Direto é que a pessoa física pode comprar os títulos com os mesmos preços e taxas que o governo federal oferece a bancos e fundos de investimento de grande porte.
"Há algum tempo a gente estava se preparando para uma queda maior", diz Alessandro Helpa, sócio da Toro Investimentos, empresa curitibana de agentes autônomos de investimentos. "O que nós não temos como saber é o momento exato e a intensidade da queda." Helpa tem observado um aumento na procura de clientes que querem abrir contas para investir no Tesouro Direto.
Na semana passada, os papéis da dívida prefixada (que têm uma taxa pré-definida) voltaram a subir com a perspectiva de redução dos juros em 2012. Caso essa previsão se realize, esses papéis darão melhor resultado para o investidor, porque permitem "travar" os ganhos com as taxas atuais. Antes do agravamento da crise, os investidores se voltavam para títulos pós-fixados, como a LFT (Letras Financeiras do Tesouro), que paga taxa Selic e tem menor risco de flutuação.
No Tesouro Direto era possível comprar na sexta uma LTN (Letra do Tesouro Nacional) com vencimento em 2017 com taxa de 12,47%. Para janeiro de 2013, a taxa era de 12,31% embutia queda de 0,25 ponto nos juros em 2012. "É muito provável que haja uma migração de títulos pós para prefixados", disse Alexandre Espírito Santo, professor do Ibmec-RJ.
Para Fabio Colombo, administrador de investimentos de São Paulo, os pós-fixados ainda deverão render mais do que os prefixados em agosto por conta do aumento de juros. "São opções de diversificação para investidores moderados e agressivos", disse.
Uma outra opção para os investidores é constituída pelos Certificados de Depósito Bancário (CDBs), um tipo de título de renda fixa emitido pelos bancos. Os CDBs só costumam pagar taxas boas próximas da Selic para grandes investidores, o que pode tornar o retorno menor do que o da poupança, em alguns casos.