O governo não descarta nenhuma ação para conter a valorização do real e espera fazer pelo menos mais duas a três captações externas em reais até o fim do ano, em um esforço para manter fora do país os investimentos estrangeiros de curto prazo, afirmou o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin.
Mantendo o clima de incerteza no mercado, que ele mesmo diz ser favorável aos interesses do governo, Augustin acrescentou que não há definição sobre a possibilidade de acabar com a isenção de Imposto de Renda sobre aplicações de estrangeiros em renda fixa.
"O governo não está se colocando limite para sua intervenção cambial, o que for necessário a gente vai fazer", afirmou Augustin à Reuters.
Questionado se aumentos adicionais de IOF para investimentos em renda fixa e nova ampliação dos limites de compra de dólares pelo Tesouro estariam entre as possibilidades a que o governo pode recorrer, Augustin disse que "nada está descartado".
Para garantir que os títulos externos em reais passem a ser uma alternativa para os investidores que atualmente aplicam na dívida interna brasileira, o secretário afirmou que o Tesouro quer aumentar o volume dos papéis em mercado e reduzir os prazos.
"A próxima emissão poderá ser num prazo menor do que a primeira, poderá ser de 10 anos", disse o secretário, acrescentando que os prazos menores facilitam a negociação dos papéis no mercado secundário. Na semana passada, o governo voltou a emitir papéis denominados em reais após um jejum de três anos, com prazo de 18 anos.
"Nós estamos achando que o melhor é ter um mercado mais forte lá fora", afirmou Augustin. "Construir esse mercado mais forte implica ter um volume maior, bem maior do que temos hoje."
O programa anual de financiamento do Tesouro para 2011 deverá trazer uma programação mais detalhada da estratégia para as emissões em reais no próximo ano.
Para 2011, o governo cogita ainda a emissão de um título externo em dólares de 100 anos, a exemplo do que foi feito recentemente pelo México.
"É uma hipótese de trabalho", disse. "O valor simbólico (do bônus de 100 anos) talvez seja importante, é mais uma demonstração de fundamento sólido, também é um aspecto que a gente tem que considerar."
Déficit externo
Agostín argumentou que, caso a política do governo de frear a valorização do real tenha sucesso, o financiamento do déficit em transações correntes será facilitado, uma vez que as exportações do país tendem a ficar mais competitivas e as importações, mais caras.
O país acumula um déficit em conta corrente de 35 bilhões de dólares até setembro. A estimativa do Banco Central é de que o déficit atinja 49 bilhões de dólares até dezembro e 60 bilhões de dólares em 2011.
Alguns analistas argumentam que, ao dificultar a entrada de investimentos estrangeiros no país, o governo correria o risco de enfrentar dificuldades no financiamento de seu déficit externo.
"As pessoas esquecem que o objetivo de não deixar a valorização (do real) ser excessiva é exatamente o governo olhando para a conta corrente no longo prazo", afirmou o secretário.
"Seguramente uma resposta da balança comercial ocorreria num prazo bem menor do que qualquer problema de médio e longo prazo de conta corrente", disse, acrescentando que o fato de o país ter 280 bilhões de dólares em reservas internacionais afasta o risco de qualquer dificuldade transitória de financiamento externo.