Protegido pelo Exército dos violentos protestos contra a privatização que ocorriam no entorno, o leilão do campo petrolífero de Libra terminou com um triunfo estatal. A Petrobras ficou com 40% do consórcio (pelas regras, era obrigatório que ela tivesse pelo menos 30%). As estatais chinesas CNPC e CNOOC ficaram com 10% cada. As duas únicas companhias privadas que formaram o consórcio vencedor na verdade, o único a apresentar proposta foram a anglo-holandesa Shell e a francesa Total, ambas com 20% do capital. O grupo pagará ao governo R$ 15 bilhões pela concessão, mais de 41,65% de lucro-óleo sobre a produção, quantidade mínima exigido pelas regras da disputa.
INFOGRÁFICO: Entenda como foi o leilão
Libra é a maior área de petróleo concedida em toda a história do país. De acordo com a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, a área poderá ter pico de produção de 1,4 milhão de barris por dia, o equivalente a 70% da atual capacidade de produção nacional, hoje de aproximadamente 2 milhões de barris diários em média. Por isso, a operação era esperada com ansiedade. Após grandes multinacionais do setor, como Exxon Mobil, BP e Chevron, optarem por não disputar o leilão, o governo estimou que até quatro consórcios poderiam apresentar proposta pelo direito de exploração da área. O cenário mais otimista, contudo, não se confirmou.
Entre as preocupações dos investidores está a forte participação do Estado, por meio da Pré-Sal Petróleo S/A (PPSA), estatal que será a gestora e fiscalizadora de todas as operações. As companhias ficaram preocupadas com o fato de que a PPSA vai participar do comitê operacional que vai gerir os negócios, com direito a voto e a veto.
Onze empresas se inscreveram para participar da disputa além das cinco componentes do consórcio vencedor, estavam qualificadas Ecopetrol (da Colômbia), Mitsui (Japão), ONGC Videsh (Índia), Petrogal (Portugal), Petronas (Malásia) e Repsol/Sinopec (Espanha/China). Ecopetrol e Petronas não depositaram as garantias. E, pela manhã, a Repsol-Sinopec anunciou que não faria ofertas.
Comemoração
Mesmo com baixa concorrência, o governo comemorou o resultado. O Ministério de Minas e Energia publicou nota no início da noite avaliando que o leilão de Libra representa um marco na história do Brasil e afirmando que a maior parte 85% da riqueza a ser produzida no campo ficará no país.
"Não vemos as empresas petroleiras como agentes que busquem se locupletar de nossas riquezas minerais, mas como parceiras que pretendem investir no país, gerar empregos e renda e, naturalmente, obter lucros com esses investimentos", relata a nota. De acordo com o ministério, os recursos finitos que serão obtidos a partir da exploração do petróleo no pré-sal de Libra serão transformados "na infinita riqueza da educação de qualidade para a população brasileira".