"Marx estava errado ao dizer que a desigualdade de renda no capitalismo tende naturalmente a crescer. A desigualdade é uma função das forças econômicas e das políticas públicas em jogo em cada país". Com esse desafio ao pensamento socialista, o economista francês Thomas Piketty explicou, em São Paulo, parte das conclusões lançadas por ele em seu livro "O Capital no século XXI", considerada a mais polêmica obra em economia na última década. Ele está na cidade para promover o lançamento de seu livro.

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Piketty faz uma historiografia da desigualdade de renda e de riqueza desde o século XIX em 20 diferentes países. O Brasil não está entre os analisados por falta de dados sobre riqueza e imposto de renda. Um trabalho dessa magnitude de dados empíricos é inédito, e mesmo aqueles que discordam das conclusões e recomendações econômicas de Piketty reconhecem a importância dos dados reunidos pelo pesquisador.

A conclusão mais importante de Piketty é que a razão entre crescimento de riquezas e o de rendas está aumentando. O que quer dizer que aqueles que possuem propriedades têm ficado mais ricos do que os demais cidadãos que, por meio dos seus salários, não conseguem se aproximar dos mais ricos. Esse é o desafio de Piketty para os liberais, para quem o mercado é capaz de se regular e otimizar a satisfação de todos sem intervenção do Estado. Para ele, o cenário só pode ser mudado com política pública.

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"Se nenhuma medida for tomada, os países desenvolvidos tendem a ter uma concentração de riqueza semelhante ao das oligarquias do século XIX", afirmou Piketty. Dessa maneira, a economia ficaria cada vez mais dominada por herdeiros abastados. Em um cenário extremo, seria o fim da meritocracia e da livre iniciativa.

Piketty destaca a importância de um crescimento econômico robusto, que significa melhora econômica para todos igualmente. Mas apenas crescimento não bastaria. Isso porque os retornos de investimentos costumam ser muito superiores ao crescimento do PIB dos países. Piketty sugere um esforço mundial de taxação de grandes fortunas para combater o problema.

"A diminuição de desigualdade de renda depende de políticas de valorização do salário mínimo e de políticas inclusivas. A difusão de educação de qualidade é o mais importante mecanismo para diminuir a desigualdade de renda" afirmou ele, que concluiu: "Se você olha para essa breve história de taxação você verá que é preciso criar taxações progressivas de renda, fortalecer movimentos trabalhistas, investir em educação para mudar essa trajetória".