As negociações sobre uma possível consolidação no setor de telecomunicações fracassaram e voltaram a colocar a Oi numa posição difícil. Agora, a operadora de telefonia terá de enfrentar sozinha um volume elevado de dívidas de curto prazo em meio a um ambiente econômico recessivo. Para especialistas, a Oi corre o risco de não conseguir quitar todas as suas obrigações apenas com o resultado de suas operações e um processo de reestruturação de dívida torna-se mais provável.
Nesta quinta-feira (25), a Oi informou ter sido comunicada pelo fundo LetterOne Technology de que a TIM “não deseja aprofundar negociações a respeito da possibilidade de uma união”. Controlado pelo bilionário russo Mikhail Fridman, o LetterOne assinou, no ano passado, um contrato de exclusividade com a Oi para tentar uma consolidação do setor no país. A oferta do grupo russo, feita em outubro de 2015, envolvia um aporte de até US$ 4 bilhões, tornando o LetterOne peça crucial em uma possível fusão.
A injeção de capital russo e a consolidação com a TIM eram vistas no mercado como possíveis soluções para equalizar as dívidas da Oi, que se aproximam dos R$ 50 bilhões, e criar uma nova companhia, mais completa, capaz de ganhar mercado. “Após o fracasso da proposta da LetterOne, a Oi está de volta à estaca zero, com ainda mais pressões de liquidez frente a vencimentos iminentes de dívida”, disse o banco UBS, em nota assinada por Richard Dineen e Maria Tereza Azevedo.
Em 2016, a companhia tem de amortizar R$ 11,3 bilhões em dívida bruta, de acordo com números presentes no balanço do terceiro trimestre. Os especialistas do UBS disseram que Oi deve usar mais de 60% do caixa de R$ 16,4 bilhões para cumprir obrigações. No ano seguinte, estão previstos ainda o pagamento de cerca de R$ 8,9 bilhões.
Cortes
“Embora a administração da Oi tenha implementado grandes cortes de investimento, o consumo de caixa permanece elevado, com mais de R$ 2 bilhões por ano. Uma deterioração maior nas tendências operacionais, um aumento na competição, com contínuo cenário macroeconômico fraco, poderia exacerbar as pressões de liquidez”, avalia a equipe do UBS. “Depois da ruptura das suas expectativas de fusão, a rota orgânica ‘segura’ para a Oi parece cada vez mais complicada e a perspectiva de reestruturação da dívida se torna mais provável.”
Em comunicado, a Oi disse, sem dar mais detalhes, que “avaliará os impactos deste anúncio para as possibilidades de consolidação no mercado brasileiro” e informou que “continua a empreender seus esforços de melhorias operacionais e transformação do negócio, com foco em austeridade, otimização de infraestrutura, revisão de processos e ações comerciais”.
No fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Oi relatou que a LetterOne “informou que, sem a participação da TIM, não pode proceder neste momento com a operação da forma anteriormente prevista”. A empresa ressaltou, no entanto, que continua interessada em investir no Brasil.
Analistas apontaram uma série de motivos para o fracasso das conversas, incluindo investigações que envolvem a Oi e sinergias limitadas com a TIM. Ainda que o LetterOne não tenha mencionado as razões que levaram a TIM a tomar a decisão, os especialistas André Baggio e Marcelo Santos, do JPMorgan, apontaram algumas possibilidades, como a alavancagem da Oi, sinergias limitadas, baixo nível de investimento por parte da Oi e incertezas regulatórias. “Mantemos nossa visão de que a TIM está melhor sozinha.”