O popular costume de usar mais de um chip de telefone no mesmo celular pode estar com os dias contados. Em um movimento inédito no mercado brasileiro, TIM e Oi anunciaram na última semana que não vão mais cobrar tarifas diferentes em ligações para outras operadoras –o que torna as chamadas mais baratas e, em tese, torna desnecessário o usuário ter planos em outras empresas.
A estratégia foi alardeada como uma ação pró-consumidor, mas também é uma tentativa de dar sobrevida à receita de voz das teles, que, apesar de seguir em queda, ainda é fundamental para o caixa das companhias.
INFOGRÁFICO: Veja a disputa entre as operadoras de telefonia que operam no Brasil
Tanto no caso da TIM quanto da Oi, a expectativa é que a receita com tráfego de dados ultrapasse a fatia vinda dos serviços tradicionais já no ano que vem. No terceiro trimestre deste ano, voz e SMS representaram 65% das receitas totais da TIM –os minutos de uso, porém, caíram 13% em comparação com 2014, fazendo com que a receita média por usuário diminuísse 6%. Por outro lado, a receita com tráfego de dados cresceu 41% no ano, compensando parte da queda.
Na Vivo, a fatia dos serviços de voz na receita móvel é de 50%, enquanto na Oi esse porcentual chega a 40%. Os números mostram a equação delicada a que as operadoras estão sujeitas e servem como argumento para as críticas constantes das teles a aplicativos como o WhatsApp, que têm ganhado terreno na troca de mensagens e chamadas (leia mais nesta página).
Por trás das ações da TIM e da Oi também está uma mudança fundamental capitaneada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel): a redução das tarifas de interconexão (conhecidas pela sigla VU-M), que são justamente os valores extras cobrados por minuto quando um usuário de determinada operadora faz uma chamada para um número de outra empresa. Esse valor a mais, que era de R$ 0,35 em 2012, foi reduzido em fevereiro para R$ 0,16 e será diminuído ainda mais nos próximos anos, chegando a apenas R$ 0,02 em 2019.
“É uma tendência internacional, você olha para os mercados de outros países e não existe essa diferença de tarifas. Isso possibilitou a nós analisar esse fenômeno e efetivar a nova oferta. Queremos que o nosso chip seja o único utilizado pelo nosso cliente”, destaca o diretor de Produtos e Mobilidade da Oi, Roberto Guenzburger. Junto do fim da cobrança diferenciada, a operadora ampliou as franquias de dados para as novas ofertas, movimento também seguido pela TIM.
“Nos adaptamos aos nossos clientes. Fizemos várias pesquisas e constatamos algo óbvio, que o consumidor não quer ter um celular com vários chips. Ele quer tirar o celular do bolso e simplesmente ligar. Estender a vida útil da receita com voz é apenas uma consequência dessa nova postura”, defende o diretor comercial da TIM Sul, Carlos Eduardo Spezin Lopes.
Estratégia
A ação das duas teles tem como foco o segmento pré-pago, justamente onde são mais fortes – e em que os usuários são mais afetados pelas cobranças mais caras para outras operadoras. “A TIM e a Oi querem aumentar o interesse dos usuários pelos seus serviços e assim vender mais planos. Elas estão se adaptando a uma nova realidade, não porque são benevolentes, mas porque assim conseguem reduzir as chamadas por aplicativos como o WhatsApp e desafogar a rede de dados”, avalia o especialista em telecomunicações e coordenador dos cursos de Engenharia da FIAP, Almir Meira Alves.