O dólar fechou abaixo de R$ 4 nesta quinta-feira (24) e os contratos de juros futuros interromperam a escalada dos últimos dias após nova ação coordenada do Banco Central e do Tesouro. A trégua veio após um pronunciamento não programado do presidente do BC, Alexandre Tombini, que enfim deu referências aos investidores.
Ele indicou que o Banco Central não pretende elevar a taxa básica de juros (Selic) e disse que não descarta vender recursos das reservas em moeda estrangeira, apesar de o BC utilizar no momento outras ferramentas, como empréstimos de dólares e contratos futuros de câmbio (swaps).
Reserva
Na queda de braço entre o mercado e o Banco Central, a principal arma do BC tem um poder de fogo que não pode ser desprezado. O Brasil integra hoje a lista das 10 maiores reservas cambiais do mundo. Com US$ 370,8 bilhões de respaldo, o BC brasileiro só fica atrás das máquinas exportadoras asiáticas (China, Japão e Taiwan), da Arábia Saudita e suas gigantescas reservas de petróleo e da Suíça, que vem comprando franco maciçamente no mercado para evitar uma grande valorização de sua moeda em relação ao enfraquecido euro.
Depois de atingir o valor máximo de R$ 4,249 durante a manhã, o dólar comercial fechou nesta quinta (24) em queda de 3,69%, a R$ 3,992. O contrato de DI com vencimento para 2021, que chegou a apontar 17,5%, recuou para 16%, ante 16,8% na quarta.
“Todos os instrumentos estão à disposição”, disse Tombini. “As reservas são um seguro que pode e deve ser utilizado.” Ele afirmou também que o BC vai manter a taxa básica de juros em 14,25% ao ano por um período “suficientemente prolongado” para derrubar a inflação.
A avaliação do Palácio do Planalto é que a disparada do dólar reflete uma crise de confiança do mercado na capacidade do governo de aprovar o ajuste fiscal e evitar um agravamento da crise.
Tombini disse que queria passar duas mensagens. A primeira, que a instituição irá assegurar que o mercado de câmbio funcione de modo eficaz, mas que não tem como objetivo fixar uma tendência de preços ou uma cotação.
Sobre os juros, o presidente do Banco Central disse que as recentes elevações nas taxas de mercado não devem ser entendidas como expectativa para a trajetória futura da política monetária. Tombini afirmou ainda que as simulações do BC indicam que o sistema financeiro e as empresas brasileiras têm condições de lidar com as condições atuais de mercado sem que haja insolvência.
Petróleo
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) avalia que o dólar mais forte frente ao real deverá estimular petroleiras estrangeiras a participar da 13ª Rodada de Licitação de áreas de petróleo e gás no início de outubro. O dólar, que voltou a operar nesta quinta (24) em máximas históricas frente ao real, pode ajudar a compensar eventual desinteresse decorrente dos preços mais baixos do petróleo, cujo mercado registra excedente, afirma a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard.
Intervenções
Na tentativa de reduzir a volatilidade nos mercados de câmbio e de juros, Banco Central e Tesouro Nacional vão manter intervenções. A partir desta sexta (25), o Tesouro inicia leilões diários de títulos públicos prefixados (NTN-F). O programa vai até 2 de outubro. Na próxima terça, será realizado leilão extraordinário de venda de LFT (corrigido pela Selic).
Segundo Marcelo Giufrida, sócio da Garde Asset Management, os leilões têm o objetivo de dar opções aos investidores que, diante do aumento da inflação e do risco Brasil, estão se sentindo “desconfortáveis” com aplicações a taxas prefixadas.
“É um anestésico. O Tesouro e o BC podem instaurar uma certa racionalidade no mercado, mas, enquanto não houver ataque aos problemas que estão mais no perímetro do Congresso e do Executivo, nós vamos continuar nessa situação desconfortável”, diz.
Banco Central prevê retração do PIB de 2,7%
O Banco Central revisou suas projeções e já prevê que a recessão econômica chegará a 2,7% neste ano. A previsão anterior era de retração de 1,1%. No relatório trimestral de inflação, divulgado nesta quinta-feira (24), o BC atribuiu o aprofundamento da crise econômica e a perda do grau de investimento do Brasil ao envio ao Congresso Nacional, pelo Executivo, do projeto de Orçamento de 2016 com déficit fiscal primário. O relatório traz um alerta: se não houver mudanças na área fiscal, haverá um comprometimento ainda maior da situação econômica do país e aumento da inflação.
Na visão do BC, o Orçamento no vermelho desorganizou a economia e atrapalhou o controle dos preços. A estimativa para a inflação oficial de 2015 subiu de 9% para 9,5%. E para 2016 a previsão passou de 4,8% para 5,3%. Com a mudança de projeções, o BC se alinha às estimativas do mercado financeiro, que também espera contração de 2,7% neste ano e inflação de 9,34%, segundo a última pesquisa Focus.
No relatório, o BC avisa que se o governo não resolver a questão fiscal, o dólar continuará a subir. E a volatilidade e aversão a risco podem contaminar os preços internos de uma forma mais rápida por causa da percepção de que a economia brasileira não vai bem.
“É necessário prosseguir nas políticas anunciadas para separar as causas da volatilidade, dar direção ao mercado e preservar sua funcionalidade”, disse o diretor de Política Econômica do Banco Central, Luiz Awazu.
Fed caminha para elevar juros ainda este ano, diz Janet Yellen
A presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, disse nesta quinta-feira (24) esperar que o banco central dos Estados Unidos comece a elevar os juros ainda neste ano, contanto que a inflação permaneça estável e a economia norte-americana esteja forte o suficiente para impulsionar o emprego.
Yellen, falando uma semana após o Fed postergar o tão aguardado aumento de juros, disse que ela e outros integrantes do Fed não esperam que os recentes desdobramentos econômicos e financeiros globais afetem significativamente a política monetária.
Essa mensagem, aliada à afirmação de Yellen de que a recente fraqueza inflacionária é possivelmente transitória, pode ser uma surpresa para alguns investidores que interpretaram a decisão da semana passada como um sinal de que o aperto da política monetária deixou de ser iminente e provavelmente aconteceria no ano que vem.
Grande parte da recente fraqueza dos preços se deve a fatores especiais, como o fortalecimento do dólar e a baixa nos preços do petróleo, que devem desaparecer, disse Yellen, permitindo que a inflação dos EUA volte à meta de 2% ao longo dos próximos anos.
A decisão do Fed de manter os juros inalterados era de certa forma esperada, dada a recente queda nos mercados financeiros globais que foi influenciada por receios de que a economia da China esteja mais fraca que o esperado. A presidente do banco central dos EUA disse, no entanto, que é melhor não adiar por “muito tempo” o aumento de juro, que deve ter em um ritmo “bastante gradual”.
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