Depois de 8 anos de Guido Mantega no Ministério da Fazenda, ao menos dois pretendentes começam a surgir no horizonte da presidente Dilma Rousseff para sucedê-lo, em caso de reeleição em outubro. Os economistas Nelson Barbosa, ex-número 2 de Mantega, e Alexandre Tombini, atual presidente do Banco Central (BC), estão entre aqueles com maior desenvoltura, e que contam com maior número de "entusiastas" dentro e fora do governo, no PT e inclusive no mercado financeiro.

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Com as crescentes críticas à política econômica, na esteira do rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência de rating Standard & Poor's (S&P), uma mudança de equipe poderia trazer mais confiança ao governo Dilma Rousseff, ainda que apenas em um eventual segundo mandato, avaliam economistas do mercado. O Palácio do Planalto só analisará a situação no segundo semestre.

Dos dois nomes mais citados, Barbosa é o único que vem trabalhando quase que abertamente para ocupar o cargo. Francamente desenvolvimentista, o economista foi levado ao governo federal pelo próprio Mantega, no início de 2003, quando o atual mandatário da Fazenda foi escolhido pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser ministro do Planejamento.

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O auge da passagem de Barbosa pelo governo se deu entre 2009 e 2010, quando era secretário de Política Econômica (SPE), e teve participação proeminente na política de combate à crise mundial, que contou com a criação do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. Barbosa chegou a apostar que seria o ministro da Fazenda do governo Dilma, dada a proximidade com a candidata eleita em outubro de 2010, mas Mantega foi mantido no cargo. Ele foi "promovido" para a secretaria-executiva, onde ficou até junho de 2013.

Contraponto

Ele tem dito a amigos que não será ministro em 2015, num eventual segundo mandato de Dilma. Mas, reconhece ele, as pessoas só acreditarão nisso no ano que vem, quando a presidente fizer sua escolha. Essa incredulidade tem uma explicação. Ao longo dos últimos três anos, Barbosa foi aos poucos se cristalizando como um contraponto, dentro da equipe de governo, à linha de atuação defendida por Mantega, e pelo secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. Mas isso, justamente, pode ser seu trunfo, avaliam fontes do governo federal, que "torcem" por sua volta.

Há duas semanas, Barbosa participou de um encontro promovido pelo ex-presidente do BC, Affonso Celso Pastore, um dos principais críticos da política econômica de Dilma, e falou sobre conjuntura para uma plateia que incluía economistas de bancos como Bradesco e Itaú Unibanco, além de integrantes de grandes consultorias e instituições financeiras. A recepção foi positiva, apurou o jornal "O Estado de S. Paulo". Barbosa é visto como "o melhor nome entre aqueles que têm alguma chance de suceder a Mantega entre os desenvolvimentistas", explicou uma fonte presente no encontro. Hoje, Barbosa dá aulas na Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), onde Mantega era professor até 2003.

Entusiastas de Barbosa veem nele alguém capaz de fazer a transição na área fiscal sem solavancos.

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Perfeito

O outro "candidato" sequer pode ser considerado desta forma. O nome de Tombini é forte dentro do PT e, principalmente, no mercado financeiro. De acordo com um economista de um dos principais bancos comerciais que atuam no Brasil, que falou ao jornal "O Estado de S. Paulo" sobre o assunto sob a condição de anonimato, o atual presidente do Banco Central seria o "nome perfeito", nas atuais circunstâncias, para substituir Mantega.

"O pior cenário seria ver Mantega substituído por Arno Augustin. Nelson Barbosa seria o menos pior entre os três, porque ele é mais 'grounded' ("pé no chão", na expressão em inglês). Mas o nome perfeito, dentro da lógica do governo, seria ver Tombini lá", disse.

Tombini tem a simpatia de muitos porque o excesso de medidas heterodoxas em áreas como energia e nas desonerações poderia ser estancado.

Funcionário de carreira do BC e um dos formuladores do atual regime de meta de inflação, Tombini tem tido uma atuação mais discreta que a de seu antecessor à frente do BC, Henrique Meirelles. No entanto, os economistas do mercado que tiveram contato recente com ele, seja em Brasília, em Davos ou em Londres, onde Tombini manteve reuniões técnicas na residência do embaixador brasileiro na Inglaterra, ficaram com a impressão de que ele ganhara mais liberdade para tratar de assuntos econômicos fora da alçada do BC, como a política fiscal.

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