O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou neste sábado (23) que a política monetária brasileira tem operado com sucesso no ambiente desafiador de mudanças estruturais no mercado de trabalho do país. Em discurso durante a conferência anual de Jackson Hole, nos Estados Unidos, Tombini destacou que essas mudanças têm pressionado os preços dos serviços devido à maior renda dos trabalhadores. Como consequência, o peso dos serviços na inflação ao consumidor aumentou consideravelmente na última década.
Apesar da persistência da inflação dos preços de serviços e o choque de oferta, o presidente do BC afirmou que a política monetária tem sido capaz de manter a inflação sob controle. Ele lembrou que, por dez anos consecutivos, a inflação tem se mantido dentro da margem de tolerância prevista no regime de metas de inflação.
Num discurso acadêmico sobre a evolução do mercado de trabalho no Brasil e as suas implicações na política monetária, o presidente do BC destacou que o desemprego no Brasil está num patamar de mínima histórica. Segundo ele, a queda do desemprego foi particularmente forte para os trabalhadores menos qualificados.
Na sua avaliação, a evolução econômica e demográfica nas últimas duas décadas têm levado a mudanças estruturais no mercado de trabalho que afetaram tanto a demanda de trabalho como a oferta de trabalho. "Por um lado, as mudanças estruturais na economia brasileira - em particular, a queda acentuada em situação de pobreza e de desigualdade - têm aumentado a demanda por mão de obra pouco qualificada, enquanto o investimento em capital humano tem aumentado a oferta de trabalho mais qualificada, contribuindo para adiar a entrada dos jovens adultos no mercado", afirmou o presidente do BC. Por outro lado, a transição demográfica mudou o perfil etário da força de trabalho.
Esses desenvolvimentos no mercado de trabalho na última década, disse o presidente do BC, contribuíram para um gradual declínio na taxa real e natural de desemprego. Um desafio para a definição de política monetária que se coloca em um ambiente de mudanças estruturais no mercado de trabalho é distinguir entre os componentes cíclicos e estruturais da evolução do desemprego.
Para o presidente do BC, nesse sentido, os desafios enfrentados pelo Brasil são semelhantes aos enfrentados pelas economias avançadas. No entanto, o Brasil vive o outro lado da moeda. "Enquanto o desafio para a política monetária em muitas economias avançadas é avaliar se a taxa natural de desemprego aumentou na sequência da crise financeira global, no Brasil agora o desafio é descobrir o quanto a taxa natural de desemprego caiu".
Tombini concluiu dizendo que uma mensagem clara de que se aplica a ambas as economias avançadas e emergentes do mercado é a necessidade de avaliar um conjunto mais amplo de indicadores para medir com precisão o estado do mercado de trabalho." Ele também acrescentou que o BC está aumentando esforços em pesquisar o desenvolvimento do mercado de trabalho.