O futuro presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, defendeu ontem que o governo trabalhe para que a meta de inflação seja reduzida do atual patamar de 4,5%, de maneira a se aproximar da média adotada em outros países. Segundo ele, essa meta menor poderia começar a ser perseguida daqui a dois anos.
Em tese, uma meta de inflação mais baixa significa juros mais altos para que os preços sejam mantidos sob controle. Há quem argumente, por outro lado, que o fato de o governo adotar uma meta menor ajuda a induzir o setor privado a crer que a inflação vai, de fato, ser mais baixa, o que poderia reduzir o ritmo de reajustes de preços.
A declaração foi dada pelo economista durante sabatina realizada na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Tombini, indicado para o comando do BC pela presidente eleita, Dilma Rousseff, voltou a defender o compromisso da instituição com a estabilidade de preços.
Ele fez elogios ao atual comandante do BC, Henrique Meirelles, e repetiu palavras já usadas por Meirelles ao defender que a instituição busque "de forma incansável e intransigente'' o compromisso com o cumprimento das metas de inflação.
Autonomia
"Para isso, a presidente eleita conferiu autonomia operacional plena ao Banco Central para perseguir o objetivo pretendido pelo governo, por meio do CMN, de meta de inflação medida pelo IPCA de 4,5% para os próximos dois anos'', afirmou.
Ao falar sobre o tema, porém, Tombini defendeu que, passado esse prazo, se discuta uma redução na meta traçada pelo governo. "Precisamos construir as condições necessárias para, no futuro, convergir a nossa meta de inflação para o padrão observado nas principais economias emergentes'', disse o economista, sem entrar em mais detalhes.
Levantamento feito pela Fazenda em setembro mostrava que, dos países do G-20, 11 apresentavam inflação abaixo de 4,5% perseguidos como meta pelo BC. Tombini também defendeu a política fiscal e o sistema de câmbio flutuante adotados pelo governo, embora, sobre este último assunto, tenha ressaltado que, em momentos como o atual, intervenções mais fortes do governo se justificam para evitar valorização maior do real.
Aprovado
Funcionário de carreira do BC, Tombini ocupa atualmente a diretoria de Normas da instituição. Ontem, por 22 votos a 1, seu nome foi aprovado em votação secreta pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Antes de tomar posse, ainda precisa passar pelo crivo do plenário do Senado, o que pode ocorrer hoje. O economista recebeu elogios não apenas de senadores da base aliada, mas também da oposição.
O tucano Tasso Jereissati (CE), por exemplo, se disse tranquilo ao saber que "o Banco Central estará em mãos bastante competentes". Apesar de 23 senadores terem participado da votação, apenas 8 fizeram perguntas Tombini.
Declarações
Veja algumas das principais falas de Alexandre Tombini durante a sabatina:
Autonomia
"Para isso [assegurar o poder de compra da moeda], a presidente eleita conferiu autonomia operacional plena ao Banco Central (...)"
Falso dilema
"Hoje há consenso de que é falso o dilema que contrapunha o crescimento econômico à estabilidade de preços. Nos últimos anos, consolidamos a inflação em um patamar baixo e observamos o crescimento médio muito maior, quando comparado às décadas passadas, quando vivíamos com inflação elevada."
Inflação
"Taxas elevadas de inflação têm efeitos nocivos sobre a economia e perversos sobre a renda da população; em particular, sobre os segmentos de renda mais baixa. Neste sentido, o objetivo primordial da política monetária é manter a inflação em nível baixo e estável."
Redução da meta
"Precisamos construir as condições necessárias para, no futuro, convergir a nossa meta de inflação para o padrão observado nas principais economias emergentes."
Mudança nos compulsórios
"As medidas não são substitutas da política monetária, mas têm impacto e devem ser levadas em conta."
Câmbio
"Temos de trazer mais proximidade do câmbio flutuante em relação aos fundamentos da economia, e não simplesmente deixar que políticas de outros países determinem a direção dessa importante variável econômica."