Com as portas fechadas desde o fim do carnaval, o barracão do Instituto Brasileiro de EcoTecnologia (Biet) voltou a receber doações na última semana. Principal iniciativa envolvendo reciclagem de materiais eletrônicos no estado, a entidade precisou desse tempo para organizar as toneladas de mouses, teclados, televisores e até batedeiras que se empilhavam no seu barracão instalado no Sítio Cercado.
"Recebemos alguns carregamentos que não estavam agendados e o barracão ficou completamente lotado. Não era possível entrar mais nada", conta o presidente e criador do Ibet, Maurício Beltrão Fraletti. O engenheiro civil não sabe ao certo quantos equipamentos estão lá é um trabalho que a enxuta equipe de cinco pessoas não consegue fazer , mas estima algo em torno de 20 toneladas.
As montanhas de equipamentos que o Biet recebe dão uma noção do enorme problema que o desenvolvimento tecnológico trouxe junto com o conforto muito "lixo" eletrônico. Estima-se que, em média, cada brasileiro produza 500 gramas de desse tipo de descarte por ano. Parece pouco? Na China, onde se imagina que há um impacto muito maior, o volume por habitante é de cerca de 200 gramas anuais.
Na última semana, a aprovação da lei que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) completou um ano. Porém, ainda não existem regras específicas para o descarte deste tipo de material. A demora ocorre, principalmente, por causa da burocracia e por falta de uma definição legal. A lei obriga fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de eletrônicos a criar uma rede de coleta e destinação de aparelhos usados mecanismo chamado de logística reversa. Ela não define, no entanto, os detalhes de como isso deve ser feito.
O que se vê são iniciativas pontuais de algumas indústrias, e ações da sociedade civil organizada como é o caso do Biet. Cabe aos brasileiros recorrerem a alternativas para descartar computadores, impressoras, celulares, e outros eletrônicos usados. Os aparelhos estragados ou substituídos por versões mais modernas que perdem o valor dentro de casa, mas podem ser valiosos para outros usuários, ou mesmo para a própria indústria, quando reciclado. Além disso, quando isso não acontece, podem significar um risco à natureza e às pessoas.
"Esses equipamentos contaminam o solo e a água principalmente com metais pesados, como o chumbo e o cádmio", explica o presidente do Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (IBDS), Carlos Renato Garcez do Nascimento. Além do próprio entulho em si, esses materiais podem causar uma série de problemas de saúde.
Segundo Nascimento, entre 1% e 3%, apenas, dos resíduos eletrônicos são reciclados atualmente no Brasil. Com a assinatura de um acordo setorial que determine as regras e metas para o plano nacional (leia mais na matéria abaixo), o presidente do IBDS acredita que será possível dobrar esse montante no prazo de dois anos. "É uma questão de educação e conscientização dos brasileiros. E uma parte disso depende das ações das empresas."
Serviço: O Biet recebe doações de eletroeletrônicos apenas com agendamento prévio. Informações e agendamento pelo e-mail falecom@biet.org.br