As três principais categorias de trabalhadores com data-base no segundo semestre estão mobilizadas em torno das negociações salariais e reivindicam índices que, se confirmados e aceitos pelas entidades patronais, devem representar o maior aumento real dos últimos cinco anos para bancários, metalúrgicos e petroleiros do estado do Paraná.
De acordo com a estimativa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o bom momento da economia deve possibilitar um aumento médio nos salários de 5% acima da inflação neste segundo semestre, contra uma média de ganhos entre 1% e 2% no mesmo período do ano passado. Além disso, a entidade projeta um recorde no número de acordos salariais com ganho real, acima até mesmo dos resultados do primeiro semestre, quando 97% das categorias conseguiram reajustes acima da reposição da inflação.
"O aumento real deve ocorrer em função daquilo que a economia está proporcionando. Hoje temos uma demanda aquecida, com aumento real no salário mínimo, o que impacta nos pisos e nos próprios salários praticados. Alguns setores, inclusive, começam a apresentar dificuldade de encontrar mão de obra, o que também ajuda a pressionar a elevação de salários", avalia o economista do Dieese-PR Cid Cordeiro.
Mobilização
Ontem, os trabalhadores das montadoras Volvo e Renault, representados pelo Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC), deram o pontapé inicial nas mobilizações com paralisações de duas horas em frente às fábricas para pressionar as empresas a aprovarem as propostas salariais da categoria. Segundo o presidente do SMC, Jamil Dávila, a greve por tempo indeterminado não está descartada. "As empresas não apresentaram até agora nenhuma contraproposta. Vamos respeitar o prazo legal de 48 horas para que elas apresentem uma alternativa, do contrário podemos encaminhar uma proposta de greve em assembleia", diz o sindicalista.
Os metalúrgicos querem um reajuste salarial de 12% 7,5% de aumento real, mais 4,29% de reposição da inflação, medida pelo INPC , além de aumento de 15% nos pisos da categoria e reajuste de 50% no abono, que pode chegar a R$ 2,8 mil.
O SMC negocia os acordos individualmente com as empresas, já que as negociações coletivas com o sindicato patronal (Sinfavea) não avançaram. Segundo Dávila, o único acordo que avançou até agora foi o que garante a estabilidade no emprego de dirigentes sindicais e aumento no adicional noturno para 25% com a Renault. Hoje, o sindicato promove assembleia com os cerca de 4 mil trabalhadores da Volkswagen, em São José dos Pinhais, para votar indicativos de paralisação.
Petroleiros
Os trabalhadores da Refinaria Getúlio Vargas (Repar), da Petrobras, em Araucária, também participaram ontem de uma rodada nacional de negociações na sede da empresa, no Rio de Janeiro, na qual não se chegou a um acordo. A categoria reivindica um aumento real de 10% o que, se aceito, pode representar um aumento real acumulado de pouco mais de 38% nos salários dos petroleiros nos últimos seis anos. "A categoria já está em estado de greve e pode parar a qualquer momento", afirma o diretor do Sindipetro Claudiney Batista.
Já os bancários realizam hoje a quarta e última rodada de negociações com os representantes dos bancos. O presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, Otávio Dias, no entanto, considera que a possibilidade de se chegar a um acordo é "quase nula". A categoria reivindica um aumento real de 7% nos salários. "Os bancos já falaram que o reajuste não é possível, que não veem a pauta como negociável, mas não apresentaram uma contraproposta", alega.
No fim da tarde de ontem, a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) divulgou nota na qual afirma que o processo de negociações prossegue no dia de hoje. Segundo a entidade, "a categoria dos bancários já conta com uma convenção coletiva de ampla cobertura de salários e benefícios", que inclui itens como participação nos lucros dos bancos, que pode chegar a mais de quatro salários no ano. "Os banqueiros estão empurrando todas as nossas reivindicações como quem quer levar a categoria para uma greve. Hoje o comando nacional de negociação se reúne para definir as próximas ações, mas, pelas expectativas, a gente não vê outro caminho", afirma Dias.