Válvula de escape para quem perdeu emprego na crise, o trabalho autônomo pode estar se “esgotando”, afirma o coordenador de Trabalho e Renda do IBGE, Cimar Azeredo.
No trimestre encerrado em maio, havia no país 22,97 milhões de pessoas trabalhando por conta própria, 1,3% a menos do que no três meses anteriores. Isso equivalia a 314 mil pessoas a menos, a maior queda desde o período de fevereiro a abril de 2014.
O motivo mais óbvio do encolhimento é que a crise tornou menos favorável empreender. Trabalhadores que abriram um negócio com recursos do seguro-desemprego e o FGTS podem ter simplesmente fechado.
Os trabalhadores autônomos têm as mais diferentes profissões: pedreiros, camelôs, contadores, dentistas, jornalistas. Segundo a metodologia do IBGE, eles não têm funcionário ou qualquer auxiliar remunerado.
“A questão agora é até que ponto esse canal [do trabalho por conta própria] vai se estreitar. Será preciso esperar e acompanhar”, afirmou o técnico do IBGE.
“O conta-própria é um canal que absorve as pessoas que perdem o emprego. Quando 1,5 milhão de pessoas perdiam emprego formal, o conta-própria crescia em ritmo igual. Isso não acontece mais. Essa saída está mais complicada”, disse.
Uma das possíveis consequências da redução dessa válvula de escape é aumento do número de pessoas na fila de emprego no país. Isso vai pressionar ainda mais o mercado de trabalho.
Conforme dados divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira (29), a taxa de desemprego estava em 11,2% no trimestre encerrado em maio deste ano, ligeiramente acima das expectativas dos economistas (11,4%).
Naquele período, o país tinha 11,4 milhões de pessoas procurando emprego sem conseguir, um recorde. Eram 10,3% a mais na comparação ao trimestre anterior – ou 1,1 milhão de novos de desocupados nesse período.
Parte desse aumento é fruto das demissões. No trimestre, o país tinha 90,85 milhões de pessoas ocupadas (formal ou informalmente), 0,3% a menos que nos três meses anteriores. São 285 mil pessoas a menos trabalhando.
Em relatório, o banco Credit Suisse avaliou que o dado aponta para uma “moderação” no ritmo de perdas de postos de trabalho. Mas essa visão não foi compartilhada por todo o mercado.
“As demissões continuam como estavam nos últimos meses. E isso só vai mudar com a melhora mais vigorosa da atividade econômica”, disse Rodrigo Myamoto, economista do Itaú Unibanco.
As demissões ocorreram, sobretudo, na atividade de comércio e reparação de veículos. A ocupação encolheu 1,3% de março a maio, frente aos três meses anteriores, o que representa perda de 228 mil postos de trabalho.
O corte de vagas já seria suficientemente ruim para a dinâmica do mercado. Mas o quadro foi ainda pior por causa do crescente número de pessoas que saíram em busca de emprego para recompor o orçamento de casa.
O rendimento real habitual (descontada a inflação) dos trabalhadores foi de R$ 1.982 no trimestre, estatisticamente estável frente aos três meses anteriores (R$ 1.972), mas 2,7% abaixo de igual período de 2015 (R$ 2.037).
A força de trabalho cresceu 0,8% no trimestre até maio.