A dona de casa brasileira passa atualmente pela mesma dificuldade em conseguir uma empregada doméstica que a britânica no início do século XX, diz reportagem da revista britânica "Economist" publicada na edição da última quinta-feira. O que o Reino Unido pode ensinar? "O serviço não morre, mas renasce de outra forma", diz o artigo da revista.
Segundo a análise, o trabalho doméstico no Brasil vai se transformar, como ocorreu no Reino Unido. Cada vez menos empregadas vão dormir na casa do patrão e cada vez mais os serviços domésticos vão ser fornecidos em estabelecimentos especializados, como lavanderias. No Brasil, serviços de babá, desnecessários quando empregadas domésticas moram na casa do patrão, vão ter aumento de demanda.
Escolas brasileiras vão ter que se adaptar. Refeições prontas vão ficar mais populares. Jantar refinado em casa vai praticamente desaparecer, prevê a revista, já que é estimado que sairá mais barato comer em um restaurante caro do que manter um bom cozinheiro contratado em casa.
A dificuldade cada vez maior de contratar empregadas domésticas no Brasil do século 21 é um problema britânico exacerbado nos idos de 1880. "Problema que enfurece os ricos, capacita os pobres e diverte os dramaturgos", brinca a revista.
Outras características da sociedade brasileira lembram a britânica do século XX: desigualdade de renda acentuada, educação limitada para a população e longa tradição de serviço doméstico.
Em 1881, o censo britanico estimou que havia 1,25 milhão de mulheres empregadas em trabalho doméstico, de longe a maior categoria assalariada britânica. E a demanda só cresceu nas décadas seguintes enquanto a classe média procurava por serviçais.
Só que ao longo dos anos surgiram novas opções de trabalho para mulheres, particularmente em lojas, escritórios e fábricas. Mulheres deixaram de trabalhar como empregadas domésticas e algumas nunca mais voltaram a prestar esse serviço. O mesmo processo está acontecendo no Brasil, segundo a
A escritora Virginia Woolf (1882-1941) viveu o período de auge da dificuldade de contratar serviçais no Reino Unido. Sua mãe casou em 1867 e tinha cozinheira, governanta, babá e jardineiro, entre outros trabalhadores domésticos. A escritora escolheu por outro estilo de vida, mas de todo jeito encontraria dificuldade para contratar equipe doméstica equivalente.
Muitas empregadas domésticas do Nordeste que migraram para cidades mais ricas do Sul estão voltando para a terra natal, diz a revista. Isso porque passam a trabalhar em outras áreas como a construção civil em projetos de infraestrutura na região.
Pesquisa do Ipea, citada pela "Economist", apontou que a proporção de empregados domésticos com mais de 30 anos aumentou de 57% para 73% do total na última década.
Nos últimos quatro anos, enquanto a mão-de-obra da região metropolitana de São Paulo cresceu 11% e o salário médio, 8%; a quantidade de empregados domésticos caiu 4% e os salários dessa categoria aumentaram 21%
Margarida, uma mãe de dois filhos citada pela revista que voltou a São Paulo após quatro anos no exterior, tentou sete babás em menos de um ano. Agora procura a nona babá. "Aprendi a ignorar coisas que não gosto. Sei agora que esperava muito. Não tinha percebido como o Brasil mudou depois de quatro anos fora", afirmou.
No Brasil, cada vez mais mulheres preferem não trabalhar como domésticas e abandonam essa ocupação com mais facilidade do que antigamente, porque sentem que são tratadas como "escória" por muitas pessoas.
Priscila Leite e Isabella Velletri, fundadoras da agência Home Staff, recrutam empregadas domésticas. Foram procuradas por 5 mil donas de casa e conseguiram funcionárias para 650 interessadas. E está cada vez mais dificil: atualmente tem uma empregada disputada por até 30 clientes.Sem surpresa, a escassez desse tipo de trabalhador elevou os salários da categoria. Babás já ganham cerca de R$ 5 mil por mês no Brasil, segundo a revista.Clientes mais antigos, particularmente, esperam pagar salários baixos para empregadas que fazem de tudo. São rapidamente desencorajados pela agência.
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