Após mais de uma década de intensa formalização do trabalho, o Brasil enfrenta uma guinada de volta à informalidade, alta do desemprego e queda na renda, iniciada em 2014 e intensificada no ano passado. Causada principalmente pela deterioração da atividade econômica, o mau resultado deve se fortalecer em 2016.
Em um ano, o país perdeu 1,2 milhão de postos de trabalho com carteira assinada no setor privado, o que representa uma queda de 3,4%, de acordo com os últimos dados disponíveis da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao terceiro trimestre do ano passado.
Ao mesmo tempo, o desemprego chegou a 8,9% no período, maior taxa da série histórica da pesquisa iniciada em 2012. Naqueles meses, a fila do desemprego contava com 9 milhões de brasileiros.
“Se a pessoa está no trabalho informal ela não contribui para a previdência e há uma redução natural da arrecadação. Além disso, a própria arrecadação como um todo cai por conta da atividade econômica enfraquecida. É um ciclo negativo que precisa ser alterado.”
O montante representa um salto de 34% no total de desocupados em relação ao mesmo período de 2014. Isso equivale a quase 2,3 milhões de pessoas a mais em busca de uma vaga no país.
A consequência imediata dessa deterioração foi o aumento no número de brasileiros trabalhando por conta própria, que teve um incremento de 4% em um ano.
“Com o aumento do desemprego as pessoas passam a serem donas de próprio nariz de uma forma informal. Elas têm uma habilidade e passam a se sustentar com isso. Isso gera um processo intenso de informalização com consequências negativas”, afirma Carlos Magno Bittencourt, professor de ciências econômicas da PUC-PR.
A queda na formalização do emprego começou a dar sinais de que ganharia força já em 2014, quando o porcentual de trabalhadores com carteira assinada – tanto dos empregados do setor privado quanto dos domésticos –, registrou a primeira queda desde o início da série história em 2004, passando de 61,4% em 2013 para 61,2% no ano seguinte.