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A transformação do etanol em commodity, como defende o presidente Luiz Inácio Lula da Silva , poderá provocar oscilações ainda maiores dos preços no mercado interno na opinião de especialistas.

Por definição, commodities são produtos negociados em bolsas internacionais, cujo valor é definido a partir de condições dadas pelo mercado, e não pelos produtores.

O professor do Instituto de Economia da UFRJ, Helder Queiroz, lembra que a transformação do álcool em commodity, a exemplo do que já ocorre com petróleo, soja e café, entre outros produtos, pode abrir caminho para que usineiros arbitrem o preço entre o mercado interno e o externo.

- O produtor de cana sempre fez arbitragem entre o etanol e o açúcar. Quando o açúcar está mais valorizado, ele deixa de produzir o álcool. Se o etanol se transforma em commodity, teremos a possibilidade de um segundo tipo de arbitragem. Ele pode deixar de abastecer o mercado interno para exportar a um preço melhor - diz.

Na prática, a artimanha já é adotada em períodos de entressafra. No ano passado, por exemplo, o governo tentou conter as altas sucessivas do álcool no Brasil ao reduzir a mistura do produto na gasolina, de 25% para 20%. Atualmente, este percentual está em 23%.

- Se o álcool virar uma commodity, estará sujeito às condições do mercado, como oferta e demanda, mas também ao clima e à temperatura, que determinam as características da safra - ressalta o consultor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura, Adriano Pires.

O especialista lembra ainda que os mercados também terão que distinguir especificações do produto.

- O petróleo atualmente é negociado na Nymex, em Cingapura e em Londres, com diferentes características. Este vai ser um desafio para o álcool - prevê.

Mas, no longo prazo, Pires garante que a mudança poderá ser boa.

- A partir do momento em que os preços forem determinados em bolsas internacionais, ficará mais difícil para determinados países concederem subsídios a seus produtores e aplicarem sobretaxas nas importações - diz.

O professor Elder Queiroz concorda:

- Quando você faz um mercado, a Organização Mundial do Comércio (OMC) fica mais de olho em relação a cobranças de tarifas de importação. Além disso, há a promoção de fóruns de debates, intermediação e conflitos, coisa que hoje é praticamente impossível de acontecer.

Para Pires, um eventual aumento de preço no mercado interno pode ser facilmente driblado:

- Não haverá risco porque a maior parte dos carros produzidos atualmente no Brasil têm mortor flex fuel. Se faltar álcool, é possível usar a gasolina.

Elder Queiroz, no entanto, acredita que ainda vai levar um tempo para que o álcool seja transformado em commodity.

- Para que isso aconteça, é preciso haver um número de produtores e de compradores significativo. Do ponto de vista da demanda, tudo vai depender da política energética dos países desenvolvidos - destaca, lembrando que a disposição da União Européia de reduzir as emissões em 20% até 2020 , conforme anunciado na semana passada, representa um bom sinal para o setor.

Ele lembra que o Brasil poderá liderar o abastecimento mundial. Atualmente, os EUA e o Brasil têm 70% da produção mundial de etanol.

- Se confirmadas as metas do Bush ( de redução do uso de combustíveis fósseis ), o mercado americano será tão grande que os produtores ficarão basicamente voltados para o abastecimento doméstico. No caso do Brasil, teremos uma produção de 38 bilhões de litros em cinco anos, contra os atuais 17 bilhões. Podemos nos colocar como liderança nesse mercado de exportadores - acredita.

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