O cultivo de variedades transgênicas de soja e de milho está ameaçando a frágil cadeia de produção orgânica no Sudoeste do Paraná área cujo perfil fundiário é o da pequena propriedade rural. A dificuldade na obtenção de grãos convencionais e a deficiência da logística são apontadas como as responsáveis pela contaminação da produção.
"Está cada vez mais difícil obter sementes não transgênicas para os produtores orgânicos. Além disso, há o problema da contaminação na colheita ou no transporte da safra", explica Marcio Alberto Challiol, diretor da Gebana, empresa com sede em Zurique (Suíça). A Gebana, especializada na comercialização de soja, milho e trigo orgânicos, negocia por ano 10 mil toneladas de cereais do Brasil. É uma gota, diante dos volumes da safra brasileira.
Mas a história desse modelo de produção (livre de agrotóxicos e de transgênicos) tem relevo não pelos volumes, mas como prova de que a prerrogativa da Lei de Biossegurança no Brasil não está sendo cumprida.
Abandono
A liberação de mais de 20 variedades de soja, milho e algodão transgênicos no Brasil se deu sob a condição de que todo agricultor que queira uma produção convencional ou orgânica terá esse direito assegurado. A falta de controle, tanto na produção de sementes como na logística para segregar organismos geneticamente modificados (OGMs) e não OGMs, está burlando essa condição no Brasil.
O impacto é econômico, sobretudo para pequenos produtores rurais mais ligados ao método da produção orgânica. Essa situação está levando pequenos produtores a abandonar esse cultivo. Paulo Sobrinho Mackiewicz, produtor rural do município de Capanema, é um dos que desistiram do orgânico.
Na última safra, Mackiewicz havia negociado a produção com prêmio de 35% além do valor da saca de soja convencional. Após meses de trabalho duro para evitar o uso de uma gota de veneno, a má notícia. A produção de 54 toneladas de soja estava contaminada com sementes transgênicas. O prêmio de 35% foi perdido, um corte na receita no valor total de R$ 9 mil, uma cifra importante para a propriedade. "Fiz o possível. Trabalhei duro para conseguir um preço melhor para a soja. A contaminação, que não tenho ideia de onde veio, acabou com tudo. Depois disso, desisti do orgânico. Não vou fazer tudo novamente sem ter garantia", disse.
PrejuízoA Gebana, empresa que lhe forneceu a semente, garante que não havia contaminação no material genético. A suspeita, então, recaiu sobre a colheitadeira alugada por Mackiewicz, que poderia ter restos de soja transgênica.
Delézio Caciamani, 40 anos, também produtor da região, enfrentou o mesmo problema. Plantou 32 hectares de soja orgânica e também perdeu o prêmio de 35%. Perdeu R$ 12,6 mil com a contaminação dos grãos. "O cultivo orgânico é muito mais trabalhoso. O prêmio que é pago por saca torna essa produção mais competitiva. Mas, se você perder esse benefício, o prejuízo fica grande, afirma. Mais pela convicção da importância em se produzir com menos agroquímicos, Caciamani vai se manter no método orgânico por mais uma safra. Fará isso não sem um fio de preocupação.
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