A identificação dos produtos transgênicos primários está se tornando cada vez mais complexa, em consequência da evolução da biotecnologia e da presença de uma lista cada vez maior de grãos geneticamente modificados no mercado. O cenário altera a rotina de laboratórios e exige a formulação de novos acordos internacionais.
Como parte dos organismos transgênicos aprovados no Brasil ainda não tem consumo autorizado na China e na União Europeia, os testes são comuns em armazéns e portos do país que precisam aferir os produtos exportados. Para identificar as sementes que devem chegar ao campo na próxima safra serão necessárias pelo menos duas baterias de testes.
"O milho com cinco eventos (modificações genéticas) vai ter de passar por dois a três testes. O custo do serviço, que para a identificação de apenas um evento fica hoje em R$ 500, deverá chegar a R$ 3 mil", afirma Marcelo Malaghini, doutor em biotecnologia e um dos responsáveis técnicos do laboratório Frischmann Aisengart, de São José dos Pinhais, que atende o Ministério da Agricultura.
A empresa fez investimento de R$ 200 mil e se especializa nesse tipo de serviço. Passou por uma série de auditorias para conseguir acreditação da norma ISO 17.025 e, com métodos reconhecidos internacionalmente, atenderá também importadores localizados do outro lado do Atlântico.
Das 34 sementes transgênicas aprovadas no Brasil, 17 possuem mais de um gene embutido (uma de soja, quatro de algodão e doze de milho). Um mesmo grão pode ter uma tecnologia aprovada e outra proibida em determinados mercados, aponta Rodrigo Lima, gerente geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone).
Especialista no assunto, Lima afirma que ainda não estão definidos acordos que impeçam a devolução de cargas, mesmo em casos de contaminação acidental. A discussão segue para a definição de níveis de tolerância, apontou durante debate realizado em São Paulo. "O Codex (código das Nações Unidas) tem padrão para esses problemas, mas nem todos os países seguem essas regras."
"Com a biotecnologia, temas internacionais passaram a envolver os produtores agrícolas e a definir a escolha das sementes", disse Marcus Vinícius Coelho, técnico do Ministério da Agricultura. Sem acordos internacionais, as novas tecnologias podem ter de ficar na "gaveta".
Passo rápido
O Brasil entrou na era da produção de transgêncios há menos de uma década, com a soja Roundup Ready (RR), cultivada legalmente há seis safras. Na época, o país estava atrás de seus principais concorrentes no mercado de grãos (Estados Unidos e Argentina) em relação às novas tecnologias.
Em alguns casos, o Brasil tem autorização interna para plantar variedades que não pode vender ao exterior. O setor aguarda, por exemplo, a aprovação do mercado internacional para duas sementes divulgadas como mais produtivas e menos vulneráveis a insetos e plantas daninhas, a soja Intacta, da Monsanto, e o milho PowerCore, da Dow AgroSciences.