O economista francês Thomas Piketty, autor do best-seller "O Capital no Século XXI", recém-lançado no Brasil, afirmou ontem em palestra na Faculdade de Economia e Administração da USP que uma maior transparência em dados fiscais no Brasil ajudará a reduzir a iniquidade social, que é bem alta por fatores históricos. "Isso será positivo para o país, pois vai aumentar os mecanismos de controle institucionais que ajudarão a combater problemas sérios, como corrupção."
Piketty destacou que o Brasil é um país com grande economia e que a adoção de impostos progressivos sobre renda poderia ser oportuna para reduzir a "excessiva" concentração de riquezas em um segmento pequeno da população. Na avaliação do acadêmico, a rapidez da transmissão de informações pelo mundo e a alta velocidade dos mercados financeiros globalizados são elementos que ampliam de forma demasiada a má distribuição de renda em diversas nações.
"Em razão disso, acredito que ajudará o aumento de transparência fiscal, com a adoção de cooperação internacional, que poderia ocorrer entre os Estados Unidos e a Europa", comentou. "Contudo, a adoção de tributos sobre a renda líquida por vários países deverá ser um caminho inevitável, para proteger os menos afortunados."
Capitalismo
Para Piketty, apesar de o capitalismo hoje exibir mais mobilidade no segmento que representa o 1% mais rico da população em várias economias avançadas do que no século 19, o sistema ainda é "muito concentrador" de renda, o que causa grandes níveis de desequilíbrios de distribuição de riqueza.
"Mesmo que haja mobilidade na camada mais rica, o aumento da riqueza desse segmento da sociedade é três ou quatro vezes mais rápido do que o registrado pela maioria da população", comentou Piketty, ao responder uma pergunta de André Lara Resende, um dos pais do Plano Real.