Foi-se o tempo em que um caminhoneiro entendia de mecânica, andava com uma velha e encardida camisa regata e precisava "ter braço" para dirigir. Hoje, com os modernos caminhões disponíveis no mercado, um motorista precisa de muito mais. Noções de informática e relacionamento com o cliente estão entre os requisitos das empresas de transporte rodoviário. Responsabilidade também conta, tendo em vista que uma carreta custa de R$ 300 mil a R$ 500 mil. Como existe o problema do roubo de carga, o profissional precisa ainda passar pelo crivo da seguradora, que exige "ficha limpa". Por essas e outras, as transportadoras estão tendo dificuldade para encontrar profissionais qualificados, a ponto de planejarem uma escola de formação de pessoal.
"O mercado está aquecido, por conta do aumento da produção industrial e agrícola", explica o empresário Fernando Klein Nunes, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Paraná (Setcepar). De acordo com ele, o setor emprega 700 mil pessoas em todo o estado, entre motoristas, pessoal administrativo e operadores, mas ainda há espaço para caminhoneiros desde que qualificados, é claro. "É um setor que emprega muita gente, porque não há como mecanizá-lo, mas há um problema de qualificação. Os caminhões modernos são eletrônicos [com injeção eletrônica], têm computador de bordo, câmbio automático. Não é a mesma forma de conduzir."
O diretor-presidente da Cargolift e vice-presidente do Setcepar, Markenson Marques, diz que a tecnologia facilitou a operação e eliminou a necessidade de um motorista que entenda de manutenção. "A gente precisa de motorista zeloso, mas como a profissão sempre foi discriminada, os filhos dos caminhoneiros não seguiram a profissão do pai", opina. No primeiro semestre deste ano, a empresa de Marques registrou aumento de 20% nos pedidos de transporte em comparação com o mesmo período do ano passado. A demanda é tanta que o empresário comprou 27 caminhões novos em seis meses, o maior lote concentrado adquirido em toda a história da companhia. São veículos que custam por volta de R$ 300 mil. Com a falta de motoristas capazes de dar conta do recado, Marques montou um centro de formação em sua empresa. "Hoje qualquer um que tenha carteira diz que é profissional, mas não é bem assim."
A procura é generalizada. O presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná (Fetranspar), o empresário Anselmo Trombini, diz que está quase impossível encontrar motorista. De acordo com ele, quando a economia começa a crescer, imediatamente o setor de transporte rodoviário começa a reagir. Como está faltando mão-de-obra especializada, o setor pleiteia uma escola específica no Serviço Social do Transporte e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Sest/Senat), que já oferece cursos de direção defensiva e econômica para caminhoneiros. Para Trombini, a escola deveria seguir o modelo da Faculdade de Tecnologia no Transporte Pedro Rogério Garcia (Fattep), de Concórdia (SC), onde há treinamentos intensivos de 30 dias e cursos de nível superior.
Nunes, do Setcepar, que é proprietário da Transportadora Leal, acrescenta que, além das exigências do mercado, o caminhoneiro precisa suprir as exigências específicas de cada empresa. "Aqui temos o ISO 9000 e precisamos de gente mais experiente. Não contratamos pessoas com menos de 35 anos, o que prejudica a procura por mão-de-obra. Mas eu prefiro ser mais rígido, porque não dá para colocar um equipamento de R$ 500 mil na mão de alguém que não tem experiência de vida", justifica. Segundo ele, um profissional da área ganha de R$ 1,2 mil a R$ 3 mil, dependendo do tipo de carga. Viagens internacionais, fretes em cegonheiras ou de produtos químicos rendem mais.