Aula na academia M10: “boas intenções” salvam receita das empresas nos meses de frio| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Colônia de férias na Companhia Athletica: mães sem desculpas

Um chocolate quente, momentos preguiçosos enrolados no cobertor e a vontade de não fazer nada em boa parte do tempo. Esse "combo" de inverno quase irresistível é o terror das academias. O nível de frequência pode cair de 15 a 30% nesse período. "Estamos sempre fazendo eventos para que se estreitem os laços das pessoas dentro da academia, assim o próprio grupo pressiona o colega a não faltar. Mas sem dúvida nenhuma, o sofá quentinho é o nosso maior inimigo", brinca Renato Ramalho, sócio-proprietário do grupo Gustavo Borges, em que as ausências chegam a 20% neste período.

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Já o impacto na receita é menor que a porcentagem de faltantes – estima-se 10% a menos no lucro. Isso porque muitos alunos continuam pagando a academia com a intenção de vencer a preguiça. "Claro que existe a perda natural das pessoas que começam uma atividade física e na primeira viagem, primeira gripe, ou qualquer imprevisto não voltam mais. Mas no inverno geralmente o impacto no lucro da academia não é tão grande porque existe o ‘pagamento da intenção’. O aluno quer ir, paga, mas às vezes a preguiça vence", diz Ramalho.

Magda Gobetti, proprietária da academia M10, afirma que, por causa desse pagamento da "boa intenção", os 15% de faltantes no frio não geram nenhum impacto na receita, mas que ainda assim existe um trabalho grande para evitar que o fluxo de alunos diminua e que a academia fique com um clima desanimado. "Durante o ano todo, a gente promove eventos, aulões e incentiva que os professores interajam bastante com os alunos, motivando e conscientizando todos sobre a importância da atividade física. No inverno, isso é ainda mais forte. Investimos na qualidade dos professores e na criatividade das atividades para incentivar todo mundo a continuar vindo para a academia", conta.

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Na Companhia Athletica, meses de férias e o período de dias mais frios diminuem em 30% a frequência dos alunos. Para não ter prejuízos, a academia tem um sistema de bloqueio da matrícula. "Nesse esquema, o aluno continua pagando e depois fica com um crédito pelos dias que faltou", explica Michael Mucher, responsável pelo marketing da Athletica.

Colônias de férias e aulas especiais garantem público

A animação e energia dentro da academia M10 num sábado de inverno nada tinha a ver com o cenário do mundo lá fora – em que o resto das pessoas se encolhia numa manhã fria, de céu cinza e garoa fina. Na sala de ginástica, com direito a degustação de energéticos, mesa de frutas e uma comissão de professores empolgados com disposição para dar e vender, estavam também os alunos prontos para pedalar por horas a fio sem se importar com as baixas temperaturas.

Esses eventos e aulões especiais estão entre as muitas manobras atrativas que os espaços fitness organizam para combater a leseira quase natural que abate grande parte das pessoas no frio. "Estamos sempre organizando eventos especiais e alertando os alunos que nesta época do ano dá mais preguiça, há uma tendência a se consumir mais alimentos e, se não continuar a atividade física, isso vira gordura. Além do mais, quando o aluno para de treinar no inverno, a volta significa o recomeço. Vai ter que pegar mais leve, pois se treinar com o mesmo ritmo pode resultar em lesões e não resultados", afirma o professor e personal trainer Eduardo Marçal, que, junto com outros professores, fez a aula do sabadão ferver com gritos motivadores e animados: "Você pode, você consegue!", repetia para a legião de "ciclistas indoor" que se esvaíam em suor, alheios ao frio lá de fora.

A artimanha da Com­panhia Athletica foi deixar as alunas que têm filhos quase sem argumentos. Com uma colônia de férias dentro da academia, para atender os pequenos enquanto as mamães colocam o corpo em dia, a desculpa "agora o Pedrinho está de férias e fica difícil" já era. Em junho, a academia monta mesas com comes e bebes típicos, em que as mães podem trazer os filhos. "Eles se divertem, elas malham", explica Michael Mucher, responsável pelo marketing da Companhia Athletica. O serviço não está incluído na mensalidade de R$ 159.

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Na Gustavo Borges, entre as acrobacias de inverno está o "Desafio Canal da Mancha", em que os alunos de natação precisam – ao longo da semana – nadar 33 km, assim como a travessia entre Inglaterra e França.