As startups de tecnologia avaliadas em mais de US$ 1 bilhão já foram tão raras que ganharam a alcunha de unicórnios. Hoje elas são abundantes e maduras o suficiente para que surja uma nova geração – bem diferente da anterior.Entre os 50 potenciais unicórnios da nova geração, há três brasileiras: a plataforma de locação QuintoAndar; o sistema de logística de caminhões CargoX; e a Grow, fruto da união da brasileira Yellow à mexicana Grin.
A atual safra de startups altamente valorizadas do Vale do Silício inclui nomes como Uber e Airbnb. São empresas que se beneficiaram da popularização de smartphones e da computação em nuvem barata. Muitas construíram impérios globais simplesmente usando negócios existentes – como táxis, entrega de alimentos e hotéis – e tornando-os móveis.
Algumas das startups acabaram virando gigantes: a Uber, por exemplo, pode chegar a uma avaliação de US$ 120 bilhões este ano. Mas, conforme essas empresas amadurecem e se preparam para abrir capital, as oportunidades de interferir em indústrias tradicionais vão diminuindo.
Entre as novas startups que podem se tornar os próximos unicórnios há nomes como Benchling e Blend. Estas empresas se dedicam em grande parte a softwares para indústrias específicas, como fazendas, bancos e empresas de ciências biológicas.
Isso tudo segundo uma análise para o The New York Times feita pela CB Insights, empresa que rastreia capital de risco e startups. A CB Insights utilizou uma variedade de dados – incluindo a saúde financeira, a força e o tamanho do mercado que uma empresa atende – para identificar 50 startups que podem estar no caminho certo para atingir uma avaliação de US$ 1 bilhão (embora não haja garantia de que alcançarão esse valor).
Assuntos “chatos”
Startups que desenvolvem softwares para o mercado podem parecer entediantes. “Talvez não sejam tão sexy quanto as empresas da primeira onda”, disse Kirsten Green, capitalista de risco na Forerunner Ventures. “Muitas dessas indústrias são gigantes dos quais necessitamos na vida e nos negócios, e elas precisam ser modernizadas.”
Muitas dessas startups crescem rápido porque setores como a agricultura vão exigindo cada vez mais ferramentas de software conforme se adaptam à era tecnológica, disse Jason Green, investidor da Emergence, empresa de capital de risco que investe em empresas de software de nuvem.
Outros unicórnios potenciais, como a Checkr e a Earnin, estão construindo empresas inspiradas na última geração de unicórnios, oferecendo-lhes serviços. A CB Insights também apontou três startups populares entre as mulheres da geração do milênio – Glossier, Zola e Faire – como candidatas a unicórnio.
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Menos tempo para virar unicórnio
Algumas delas podem atingir o limiar de US$ 1 bilhão muito rápido, pois as startups unicórnios são criadas mais rapidamente do que nunca, disse Anand Sanwal, executivo-chefe da CB Insights. Rodadas de financiamento de US$ 100 milhões ou mais – quantia que já foi considerada absurda – tornaram-se comuns. Hoje, existem 315 unicórnios em comparação com os 131 de 2015.
“Se você é uma das empresas que cresce rapidamente, os acionistas virão bater à sua porta, porque há muito interesse em investir no próximo grande vencedor”, disse Sanwal.
Unicórnio de biologia molecular
Em 2012, Saomar Wickramasekara fundou a Benchling. Seu objetivo: resolver algumas das frustrações pessoais que tinha com as ferramentas tecnológicas ultrapassadas que usava nos laboratórios de biologia molecular do Instituto de Tecnologia de Massachusetts quando era estudante.
A Benchling, sediada em San Francisco, começou a fornecer um software que permite que cientistas de laboratório substituam seus cadernos de papel por registros armazenados na nuvem, que podem ser pesquisados. Dessa forma, os cientistas poderiam usar os registros mais facilmente para colaborar uns com os outros, afirmou Wickramasekara. Além disso, pesquisadores mais jovens pediam, cada vez mais, essas ferramentas.
“O software chegou a diferentes setores da economia, mas não se manteve no campo da ciência”, disse Kaiser Mulla-Feroze, diretor de marketing da Benchling.
Hoje, 140 mil cientistas utilizam o software da empresa, incluindo acadêmicos da Universidade de Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, que usam uma versão gratuita, e clientes pagadores como a Pfizer e a Regeneron. A Benchling cobra US$ 15 mil anuais de empresas menores, enquanto grandes clientes que usam recursos mais avançados pagam milhões de dólares por ano, disse Mulla-Feroze.
A Benchling levantou quase US$ 30 milhões de financiamento. Mulla-Feroze afirmou que, no ano passado, a startup triplicou sua receita e seu número de clientes.
Empresas de nicho
A empresa representa uma nova classe de startups de software, à medida em que diferentes indústrias adotam mais tecnologia. Green, que é investidora em startups, diz que agora está claro que o software destinado a setores de nicho oferece oportunidades maiores do que se esperava antes.
“Empresas de cuidados de saúde, automotivas, de varejo, de bens de consumo e de manufatura avançada – todas tentam descobrir como a tecnologia poderia ajudar a reduzir custos, ou como poderia ajudá-las a desenvolver seu próximo modelo de negócio”, disse Sanwal, da CB Insights.
Outras startups de rápido crescimento que se encaixam nessa descrição incluem a Farmers Business Network, que foi fundada em 2014 por Charles Baron, ex-gerente de programação do Google, e Amol Deshpande, empreendedor e capitalista de risco. A empresa cobra US$ 700 por ano dos agricultores para compartilhar e analisar dados sobre suas fazendas, comprar suprimentos e vender colheitas. Baron disse que a startup tem 7.700 fazendas como clientes e levantou quase US$ 200 milhões em financiamento.
Uma empresa como a Farmers Business Network não teria sido possível há 10 anos, antes da proliferação da computação em nuvem e da “digitalização” dos processos agrícolas, acrescentou Baron. Agora, as fazendas geram um monte de dados, que a Farmers Business Network está ajudando a processar, para que sejam usados na tomada de decisões.
“A agricultura está passando por uma revolução digital”, diz ele.
Unicórnios para millenials
Em 2013, quando as amigas de Shan-Lyn Ma começaram a casar, ela percebeu que a maioria das ferramentas digitais para o planejamento de casamentos estavam ultrapassadas e não eram bem projetadas nem gratuitas.
Então, Ma – que antes trabalhava em um site que promovia vendas-relâmpago de mercadorias de designers, a Gilt Groupe – iniciou a Zola, que oferece um lugar simplificado para criar registros gratuitos de casamentos.
A Zola vende agora 70 mil artigos em seu registro. Conta também com ferramentas como listas de convidados on-line e rastreamento de RSVP, tudo projetado para atrair mais casais para seu produto. O site faz muito sucesso com os millennials, permitindo que a empresa arrecade US$ 140 milhões em financiamento e atinja uma avaliação de US$ 600 milhões.
A Zola é uma das três empresas na lista de potenciais novos unicórnios que cresceram com a ajuda dos millennials. A Glossier, companhia de produtos de beleza em Nova York, e a Faire, mercado on-line em que butiques e vendedores locais podem comprar e vender itens por atacado, também cresceu em grande parte atendendo a um público jovem.
Max Rhodes, que fundou a Faire em 2017, disse que as mulheres dessa geração estão fazendo ressurgir as butiques locais. Essas compradoras “não querem ter de ir ao shopping e comprar um monte de coisas extremamente baratas. Elas querem produtos únicos, com uma história por trás deles”.
Startups para abastecer outras startups
A ascensão de empresas como Uber e Airbnb criou sua própria minieconomia de startups.
Uma delas é a Checkr, que foi fundada em 2014 por Daniel Yanisse e Jonathan Perichon, que trabalhavam como engenheiros de software na Deliv, uma startup de entregas. Ambos ficaram frustrados com as lentas verificações de antecedentes dos entregadores que queriam contratar para a Deliv, de modo que criaram seu próprio negócio para agilizar o processo.
Agora a Checkr trabalha com a Uber, a Lyft e a Instacart. Há também outros tipos de clientes, como a companhia de seguros Allstate.
A Checkr está vendendo ferramentas básicas para a economia de compartilhamento, disse Rich Wong, parceiro da Accel Partners, empresa de risco que investiu na startup.
Outro unicórnio em potencial que atende esse setor é a Earnin, fundada em 2012 e sediada em Palo Alto, na Califórnia. A Earnin, que faz um aplicativo que fornece adiantamentos de dinheiro para os trabalhadores, tem uma parceria com a Uber, que permite que seus motoristas saquem seu dinheiro imediatamente após um passeio.
Ram Palaniappan, fundador da Earnin, disse que o aplicativo foi baixado mais de um milhão de vezes e que seus usuários o abrem 25 vezes por mês, em média.
Lista completa
Confira a lista completa com 50 startups que são unicórnios em potencial, segundo o estudo da CB Insights. Três delas são brasileiras: a startup de logística CargoX; a QuintoAndar, que faz aluguel de imóveis; e a Grow Mobility, fusão das startups de aluguel de patinetes e bicicletas Grin e Yellow.
Confira a lista completa:
Airwallex
(Hong Kong)
O que faz: permite às empresas enviar e receber dinheiro no exterior.
Alto Pharmacy
(São Francisco/EUA)
O que faz: farmácia online
Amplitude
(São Francisco/EUA)
O que faz: ferramentas de análise que ajudam as empresas a executar negócios digitais
Beisen
(Pequim/China)
O que faz: ferramentas de gerenciamento de talentos e medição
Benchling
(São Francisco/EUA)
O que faz:Faz software para pesquisadores e empresas de ciências da vida
BetterCloud
(Nova York/EUA)
O que faz: fornece segurança cibernética para empresas de software em nuvem
Blend
(São Francisco/EUA)
O que faz: hipoteca e software de empréstimos para locatários
Braze
(Nova York/EUA)
O que faz: software de marketing mobile
C2FO
(Leawood, Kansas/EUA)
O que faz: plataforma de serviços financeiros que fornece às empresas acesso a capital de giro
CarDekho Group
(Jaipur/Índia)
O que faz: vendas on-line, financiamento e seguro para automóveis e serviços de educação
CargoX
(São Paulo/Brasil)
O que faz: utiliza tecnologia para tornar empresas de transporte de caminhões mais eficientes
Carta
(São Francisco/EUA)
O que faz: fornece serviços de gestão de patrimônio para investidores, fundadores e funcionários
Checkr
(São Francisco/EUA)
O que faz: fornece verificações de antecedentes dos trabalhadores
Citymapper
(Londres/Inglaterra)
O que faz: aplicativo de mapa, trânsito e navegação para cidades
ClearTax
(Bangalore/Índia)
O que faz: software para arquivar impostos e gerenciar investimentos
Contentful
(Berlim/Alemanha)
O que faz: software para conteúdo digital
DailyHunt
(Bangalore/Índia)
O que faz: aplicativo de notícias e entregenimento
Datrium
(Sunnyvale, Califórnia/EUA)
O que faz: provedor de armazenamento em nuvem
DeepMap
(Palo Alto, Califórnia/EUA)
O que faz: tecnologia de mapeamento para veículos autônomos
Deputy
(Sydney, Austrália)
O que faz: softwares para empresas gerenciarem agendas de funcionários e quadros de horários
Domino Data Lab
(São Francisco/EUA)
O que faz: software para gerenciamento de dados
Earnin
(Palo Alto, Califórnia/EUA)
O que faz: provedor de empréstimos de curto prazo
Embark Trucks
(São Francisco/EUA)
O que faz: caminhões autônomos
Expanse
(São Francisco/EUA)
O que faz: fornece segurança para dispositivos conectados à internet a grandes organizações
Faire
(São Francisco/EUA)
O que faz: mercado de atacado para boutiques e pequenos fornecedores
Farmers Business Network
(São Carlos, Califórnia/EUA)
O que faz: plataforma on-line para agricultores compartilharem e analisarem dados, comprarem suprimentos e venderem colheitas
Flywire
(Boston/EUA)
O que faz: software de pagamentos para transações globais
Front
(São Francisco/EUA)
O que faz: software de email colaborativo
Glossier
(Nova York/EUA)
O que faz: produtos de beleza e cuidados com a pele
Grow Mobility
(Cidade do México e São Paulo/Brasil)
O que faz: serviços de bicicletas e patinetes compartilhados
HackerOne
(São Francisco/EUA)
O que faz: localiza e corrige vulnerabilidades de software
KRY
(Estocolmo/Suécia)
O que faz: fornece serviços para os pacientes consultarem médicos por meio de dispositivos móveis
MapBox
(Washinton e São Francisco/EUA)
O que faz: fornece tecnologia de mapeamento
Marqeta
(Oakland, Califórnia/EUA)
O que faz: fornece infraestrutura de pagamentos para emissão de cartões de pagamento físicos, virtuais ou via token
Medbanks Network Technology
(Pequim/China)
O que faz: sistemas de oncologia
Miaoshou Doctor
(Guangzhou/China)
O que faz: comunicação online entre médicos e pacientes
Onshape
(Cambridge, Massachussets/EUA)
O que faz: ferramentas de design baseadas em nuvem para manufatura
Outreach
(Seattle/EUA)
O que faz: plataforma de engajamento de vendas
Practo Technologies
(Bangalore/Índia)
O que faz: conecta pacientes a prestadores de cuidados de saúde usando tecnologia
QuintoAndar
(São Paulo/Brasil)
O que faz: plataforma de locação imobiliária
Razorpay
(Bangalore/Índia)
O que faz: tecnologia de pagamentos para comerciantes on-line
RigUp
(Austin, Texas/EUA)
O que faz: plataforma online para trabalhadores contratados na indústria de energia para encontrar trabalho
SalesLoft
(Atlanta/EUA)
O que faz: tecnologia para as empresas aumentarem as vendas
Segment
(São Francisco/EUA)
O que faz: plataforma para coletar e gerenciar dados
SiSense
(Nova York/EUA)
O que faz: software para analisar e visualizar dados
Sonder
(São Francisco/EUA)
O que faz: fornece hotéis semelhantes a apartamentos nas cidades
Standard Cognition
(São Francisco/EUA)
O que faz: fornece ferramentas de inteligência artificial para lojas físicas
Upgrade
(São Francisco/EUA)
O que faz: plataforma de empéstimos online
Xiangwushuo
(Xangai/China)
O que faz: plataforma de compartilhamento que permite às pessoas trocar itens usados
Zola
(Nova York/EUA)
O que faz: registros de casamento online e ferramentas de planejamento de casamento