Foto do repórter fotográfico Rodolfo Bührer mostra em quais mãos (ou pés) está o destino do Atlético nesta quarta-feira| Foto: Rodolfo Bührer / Gazeta do Povo

Cortes aprofundam "trauma"

Os cortes dos últimos três meses em Campo Largo aprofundam uma espécie de "trauma" do município de 100 mil habitantes, que viu a montadora Chrysler fechar as portas em 2001 e deixar sem emprego 250 pessoas, apenas três anos após o início da produção. Curiosamente, seu terreno foi ocupado em seguida pela TMT Motoco, que atualmente está em processo de recuperação judicial.

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O município de Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba, sofreu sua terceira demissão em massa em pouco mais de três meses. Depois do encerramento das atividades da fábrica de motores TMT Motoco, em abril, e de cortes na Porcelana Sdchmidt, em maio, a fabricante de motores automotivos Tritec Motors demitiu ontem 240 trabalhadores. No total, mais de 1,1 mil pessoas perderam o emprego nas três empresas – TMT e Schmidt demitiram, respectivamente, 680 e 211 pessoas. Todas foram prejudicadas, em graus diferentes, pela desvalorização do dólar.

A Tritec fez o anúncio aos funcionários na noite de segunda-feira. Horas antes, sua controladora, a montadora norte-americana Chrysler, anunciou que pretendia vender a fábrica "o mais rápido possível", sem descartar a possibilidade de fechá-la caso não encontrasse compradores.

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Na reunião da diretoria da Tritec com o Sindimovec (sindicato que representa os trabalhadores), ficou definido que 114 pessoas continuam empregadas até que haja uma definição sobre o futuro da fábrica – por falta de encomendas, a linha de produção está parada há um mês. A empresa assegurou, até outubro, a continuidade do plano de saúde, do plano odontológico e do fornecimento de vale-alimentação aos demitidos. O presidente do Sindimovec, Adriano Carlesso, disse que a Tritec também se comprometeu a preparar uma espécie de currículo para os dispensados e enviá-lo a pelo menos cem empresas de Curitiba e região metropolitana.

Durante todo o dia de ontem, grupos de até 30 funcionários compareciam por hora ao departamento de recursos humanos da empresa. Em média, de cada três, um recebia a notícia de que continuaria empregado e outros dois recebiam o aviso de demissão. Um funcionário que pediu anonimato disse que, embora alguns colegas já estivessem à procura de emprego desde que a produção foi interrompida, a maioria ainda tinha expectativa de continuar na empresa.

"Tínhamos a esperança de que a empresa conseguiria renovar os contratos que já tinha ou negociar com novos clientes. Por isso, eu não cheguei a procurar emprego. Além disso, aqui em Campo Largo dificilmente vou encontrar trabalho na área em que eu atuo", disse o funcionário demitido, que é casado, tem três filhos e trabalhava na Tritec desde sua inauguração, em 1999.

Em nota, a empresa informou que "sempre honrou os compromissos que estabeleceu com seus clientes, funcionários e comunidade". Mas, com o fim do contrato com a alemã BMW e a falta de pedidos dos atuais clientes, "teve de readequar suas operações, reduzindo seu quadro de funcionários". "Embora essa medida tenha se revelado necessária, a Tritec permanece com perspectivas de se sustentar a longo prazo. A Chrysler continua buscando alternativas viáveis para o futuro da fábrica, e existem negociações em andamento nesse sentido", concluiu o comunicado.

Até meados de junho, a Tritec empregava cerca de 380 pessoas. Com o fim das encomendas de seu principal cliente – a BMW, que até semana passada era dona de 50% da fábrica –, a produção foi suspensa. Ao menos 30 pessoas haviam deixado a empresa nos últimos 30 dias, segundo o Sindimovec. Parte delas pediu demissão, e as demais eram trabalhadores temporários cujos contratos chegaram ao fim.

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Além da extensão, por três meses, de alguns dos benefícios, muitos dos demitidos contam ainda com uma gratificação paga, no fim do mês passado, pela BMW. Em razão do fim da joint venture firmada com a Chrysler, a montadora alemã pagou a cada trabalhador o equivalente a 0,9 salário por ano trabalhado.