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Tuiteiros suecos se revezam em nome do país

 | NYT
(Foto: NYT)

As chances de se envergonhar seriam enormes se você fosse a pessoa por trás da @Sweden, a conta de Twitter oficial da Suécia.

"Em um dos meus primeiros tuítes eu escrevi ‘finish’ (fim) errado – usei dois enes, como em ‘Finnish’ (finlandês)", afirmou Erik Isberg, um estudante de 18 anos que ocupou o cargo de @Sweden durante uma recente semana. "Eu pensei: ‘como vou dar conta disso por uma semana, se não sei escrever nem uma palavra simples como aquela?’. Então eu pensei: ‘Bom, essa conta deveria representar o sueco típico – e muitos suecos não falam inglês perfeitamente’."

Se existe algo que poder ser aprendido com a experiência do @Sweden – uma iniciativa do governo que permite que a conta nacional do Twitter seja comandada por um cidadão durante sete dias –, é que não existe um sueco típico.

Um dos @Sweden postou fotos de quando caçou um alce no natal. Outro deles criticou intensamente o ministro das relações exteriores, Carl Bildt. Outra disse que estaria fazendo amor, por assim dizer, naquele exato momento. Um advogado muçulmano discutiu a onipresença do nome Mohamed entre os imigrantes e brincou que se alguém se esquecesse do nome de um de seus seis irmãos, Mohamed já estaria ótimo.

E Jack Werner, o primeiro @Sweden, ganhou milhares de seguidores e o apelido de "masturbador sueco", depois que decidiu ser honesto quando listou sua lista de atividades de lazer. (Mas, além disso, ele gosta de "beber muito café" e "passear com meus amigos".)

"Eu queria mostrar que, com frequência, eu sou um pouco imaturo e bobo, assim como esse país, e eu imagino que você também seja, assim como muitas pessoas em todo o mundo", afirmou Werner, de 23 anos, em uma entrevista por telefone. "Isso é muito mais interessante do que dizer coisas como "Veja essas incríveis fotos da natureza’."

O mais velho @Sweden até o momento tinha 60 anos de idade. O mais jovem foi Isberg, que vive com seus pais e seu irmão mais novo em uma cidade no sudeste da Suécia, antigo lar da fabricante de carros Saab, que infelizmente fechou suas portas. Sua entrevista foi feita no dia da Suécia, um feriado nacional. Ele acordou tarde e o mesmo aconteceu com a conta do @Sweden.

"Até o momento eu comemorei o dia da Suécia da forma mais comum: dormi a manhã inteira", tuitou.

Em casa, ele era tratando antes de tudo como um adolescente e depois como o @Sweden.

"Você já comeu alguma coisa?", perguntou sua mãe, Monica, de forma incisiva (já era quase a hora do almoço). Isberg aceitou uma fatia de pão e desligou seu celular. Um fotógrafo tirou uma foto sua.

"Tuitando enquanto um fotógrafo corre ao meu redor tentando tirar uma foto, para mostrar como sou enquanto estou tuitando", postou Isberg.

O programa @Sweden, conhecido como Curadores da Suécia, foi concebido quando o Swedish Institute e a Visit Sweden, a agência de turismo do governo, tentavam desenvolver um plano para apresentar o país para o resto do mundo por meio do Twitter. Eles contrataram uma empresa de marketing, a Volontaire.

"A Suécia defende determinados valores – ser progressista, democrática, criativa", afirmou Patrick Kampmann, diretor criativo da Volontaire, em uma entrevista. "Nós acreditávamos que a melhor maneira de provar isso seria entregar a conta de maneira progressista, transferindo seu controle a suecos comuns."

Os @Swedens são indicados por outras pessoas – não é permitido indicar seu próprio nome – e são selecionados por um comitê de três pessoas, incluindo Kampmann. Os pré-requisitos são que essas pessoas sejam interessantes, saibam mexer no Twitter e desejem postar em inglês.

Eles são instruídos a não cometer nenhum crime, expressar somente suas próprias opiniões políticas e deixar claro que "nem todos na Suécia pensam daquela maneira", afirmou Cherin Awad, o advogado muçulmano, que ficou no comando do @Sweden entre 27 de fevereiro e 4 de março.

Kampmann afirma que aconselha os @Swedens a fazer o que sempre fazem no Twitter.

"Eu lhes digo: ‘Por favor, façam isso com alguma decência – lembrem-se de que esse é um canal oficial e de que há muitas pessoas lendo, portanto, não façam papel de bobos", afirmou. "Mas essa é apenas uma leve sugestão."

O programa inspirou projetos em outros lugares, incluindo a Irlanda, a Nova Zelândia e a cidade de Leeds, na Inglaterra, ainda que muitos desses projetos tenham sido organizados de maneira privada e sem o apoio do governo.

Mesmo que Isberg tenha ficado surpreso com a possibilidade de ocupar o cargo de @Sweden, ninguém ficou mais surpreso do que sua mãe, uma professora de engenharia. Entre outras coisas, ela não sabia ao certo o que era o Twitter.

"Eu disse: ‘Calma, Eric, relaxa’", recordou Isberg, a respeito do momento em que seu filho anunciou que ele talvez viesse a falar para 9 milhões de pessoas em um site que ela nunca tinha visto. "Não faça muitos planos porque isso não vai acontecer."

Mas aconteceu ("Eles foram muito corajosos em escolhê-lo", afirmou sua mãe). E ainda que ele não tenha se tornado famoso a ponto de ser perseguido por fãs nas ruas de Trollhattan, descrita por ele como um lugar que "não é exatamente a Times Square", Isberg descobriu algumas vantagens inesperadas com o emprego.

Os diretores de sua escola cancelaram a regra que proíbe que ele tuite durante as aulas (e um professor falou que ele poderia matar todas as suas aulas se precisasse de mais tempo para tuitar).

Como voz de sua nação, Isberg contou que se sentia obrigado a responder as perguntas feitas a ele pelos seguidores de seu país – o @Sweden tem mais de 28.000. Muitas pessoas perguntavam sobre o dia da Suécia, um dia de celebração patriótica criado em 2005.

Ele não sabia todos os detalhes – "Eu só tinha uns 11 anos na época" – então ele pesquisou no Google. "Ninguém sabe direito porque a gente comemora isso", ele postou. "Normalmente, a gente só come alguma coisa legal no jantar."

Ele também não soube responder a uma pergunta feita por um seguidor que gostaria de saber o melhor lugar de Estocolmo para observar o trânsito de Vênus. "Eu precisei explicar que eu estava a 400 quilômetros de Estocolmo e que eu não fazia ideia, mas eu mandei um link da sociedade astrológica", afirmou.

Mas outra questão, sobre o que ele gostaria de fazer no futuro, o deixou perplexo. "Eu não sou um produto comercial – eu acho que vou simplesmente ser eu mesmo", afirmou Isberg. "E isso fala mais sobre a Suécia do que qualquer outra coisa."

63 mil pessoass seguiam o @Sweden no Twitter até a semana passada. Todas as semanas, um novo sueco é escolhido pelo governo para gerenciar a conta.

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