Catástrofes naturais e epidemias diminuíram o movimento na agência de Elaine| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

Além dos números

Distribuição do lucro é desigual

Sem refutar os números da pesquisa, empresários da cadeia de serviços apontam particularidades de seus ramos de atuação. Ainda que o crescimento setorial seja sensível no dia a dia dos negócios, isso não resulta em aumento automático dos lucros para todas as empresas envolvidas.

Elaine Schneider, sócia proprietária da agência Órion Turismo, lembra que no período imediatamente posterior à pesquisa sua empresa registrou dificuldades causadas, literalmente, por forças da natureza. "Nosso foco de atuação é a América do Sul, além da Rússia. Nos últimos anos, tivemos quedas de procura por causa de eventos como as chuvas no Peru, o terremoto no Chile e o surto de gripe A, que desestimularam as viagens", relata. Mas ela reconhece o avanço "gritante" da classe C no setor de turismo. "A Classe C é exigente. Quer saber de todas as informações e exige produtos mais baratos. Os cruzeiros, antes com aura de requinte, se tornaram um produto extremamente popular", cita.

Altevir Trevisan, proprietário do restaurante Cascatinha, em Santa Felicidade, afirma ter percebido uma decréscimo muito grande do turismo com automóvel, levando esta modalidade de viagem quase à extinção. "Até os anos 1970, nós tinhamos muitos veranistas que passavam alguns dias em Curitiba antes de seguir para o litoral. Com as pistas duplas, as praias ficaram ‘mais perto’ e o fluxo destes turistas praticamente acabou", descreve.

Trevisan avalia que a compensação ocorreu com a chegada dos turistas de negócios. "Muitas pessoas vêm almoçar com o crachá no pescoço. De uns cinco anos para cá, surgiu o turismo cultural de negócios. As empresas trazem seus funcionários para visitar museus e teatros", conta. (OT)

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Tipos de transporte invertem participação

Entre os dados que mais chamaram a atenção na pesquisa do IBGE estão a queda de 80% na participação do transporte aéreo no total do setor de turismo entre 2003 e 2007 e o crescimento de 89% na fatia do transporte rodoviário no mesmo período.

Especialmente nos últimos anos do período analisado pela pesquisa, o setor aéreo brasileiro viveu momentos complicados. A Varig, que por muito tempo foi a principal companhia aérea brasileira, entrou com pedido de falência e foi comprada pela Gol em 2007, mesmo ano em que ocorreu o caos aéreo, com atrasos e cancelamentos de voos e greve de controladores – o acidente com o voo 3054 da TAM, em Congonhas, ocorreu em julho daquele ano. "A partir de 2008, voltou a haver um crescimento grande das empresas aéreas, com a criação da Azul e da Webjet. Hoje percebemos que este subsetor voltou a ficar aquecido, com os aeroportos lotados e a necessidade de ampliação", afirma Juliana Vosnika, presidente do Instituto Municipal de Turismo de Curitiba.

Um estudo do IBGE divulgado ontem mostrou que, entre 2003 e 2007, as atividades relacionadas ao turismo registraram crescimento de 22%, um desempenho superior ao do conjunto da economia brasileira, que cresceu 19,3% no mesmo período. Embora a pesquisa só apresente os dados coletados até três anos atrás, analistas do setor avaliam que o crescimento prosseguiu e se acelerou neste período mais recente.

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"A nossa perspectiva é que os próximos trabalhos apontem uma participação ainda maior do setor na economia, uma vez que o mercado interno está aquecido, com o ingresso de 30 milhões de brasileiros na classe C e ao fato de que essas pessoas passaram a incluir o turismo em sua cesta de produtos", disse em nota o ministro do Turismo, Luiz Barretto, referindo-se ao porcentual do turismo no PIB brasileiro em 2007: 3,6%, estável em relação aos anos anteriores, com faturamento de R$ 82,7 bilhões, de acordo com o estudo "Economia do Turismo - Uma Perspectiva Macroeconô­mica 2003-2007".

Os principais subsetores a puxar o avanço foram os serviços de alimentação (35% do total do setor), transporte rodoviário (21%) e atividades recreativas, culturais e desportivas (17,8%). Este foi, inclusive, o segmento que mais avançou dentro do setor, crescendo 1.400% entre 2003 e 2007.

A remuneração paga aos trabalhadores, porém, não acompanhou o crescimento acima do montante da economia. Em 2007, as atividades características do turismo ocupavam 5,9 milhões de pessoas, cujos salários avançaram 60,1% ante 2003, abaixo do verificado para o conjunto da economia (63,7%).

Curitiba

O otimismo com os números da pesquisa do IBGE são compartilhados pelo setor turistico em Curitiba. Desde 2005, a cidade registra aumento constante no número de visitantes. Naquele ano, 2,24 milhões de pessoas vieram à capital do estado, se­­gundo dados do Instituto Municipal de Turismo. Para 2010, a estimativa é de que a cidade receba 3,4 milhões de visitantes. Segundo o instituto, isso representará um aumento de 10% em relação a 2009.

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Para Juliana Vosnika, presidente do órgão, o aumento no fluxo de visitantes decorre do bom momento da economia brasileira e dos novos desejos de consumo estimulados pelo aumento do poder de compra. "Hoje, as viagens são um produto acessível a uma quantidade maior de pessoas. Recém-casados recebem pacotes turísticos de presente, por exemplo. A gente vem sentindo que as pessoas estão buscando estas experiências de vida, algo que fique na memória", avalia.

Sueli Gulin Calabrese, presidente do Curitiba Convention & Business Bureau, destaca ainda o crescimento do turismo de negócios na cidade. "Em 2010, o Curitiba Convention bateu o recorde de captação de eventos dos últimos dez anos. A cidade está se identificando com o turismo corporativo", define.

Segundo o Instituto Munici­pal de Turismo, cada turista em Curitiba gasta R$ 135 por dia, e permanece na cidade por 4,6 dias em média. As principais localidades de origem dos turistas são o interior do Paraná (34%), São Paulo (28%), Santa Catarina (15%) e o exterior (5%).