Governos de todo o mundo têm pressionado a Uber Technologies para oferecer benefícios de emprego ao seu exército de motoristas parceiros. Enquanto isso, a companhia está adotando uma tática diferente: aplicar seu modelo de economia de prestação de serviço para todos os tipos de trabalho.
Ainda em dezembro, a plataforma planeja anunciar a expansão de um serviço de pessoal temporário que está em fase de testes em Chicago. O programa, chamado Uber Works, conecta trabalhadores com empresas que oferecem empregos de curto prazo em hotelaria, eventos, indústrias leves e outros setores. Conforme as previsões da companhia, Miami se tornará a segunda cidade com Uber Works, com mais planos para 2020.
O programa tem se concentrado principalmente nos trabalhadores de agências de recrutamento tradicionais, mas a empresa planeja oferecer a opção de atuação em outros serviços ao seu "exército" de motoristas nos próximos meses, disse Andrey Liscovich, diretor executivo do projeto Uber Works. Isso permitiria a qualquer pessoa nessas cidades oferecer sua mão de obra para uma série de atividades que não exigem carro ou carteira de motorista, potencialmente desbloqueando um mercado de trabalho ainda maior. "Para investirmos em algo, o segmento precisa ser equivalente ou maior que o de transporte compartilhado", disse Liscovich.
Dara Khosrowshahi, CEO da empresa, tem se esforçado para definir o que é a Uber e por que os investidores devem suportar pelo menos mais dois anos de perdas. Para justificar investimentos em veículos autônomos, bicicletas, patinetes elétricos, carros voadores, serviços de entregas, Khosrowshahi traçou paralelos com a Amazon, que começou vendendo livros e agora vende praticamente tudo; nesse sentido, sugeriu que Wall Street faça algo semelhante para o transporte.
Com 2019 chegando ao fim, a Uber aparece como uma das estreias de pior desempenho do ano no mercado de capitais. Ela caiu mais de 30% desde sua oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) em maio, sobrecarregada por preocupações com as perdas e a viabilidade dos negócios no longo prazo. Em resposta, Khosrowshahi prometeu que a Uber obterá lucro ajustado até o fim de 2021.
Com o Uber Works, a empresa acredita que pode obter mais receita e, eventualmente, lucrar, redirecionando as tecnologias – e as pessoas – que comandam seus negócios de carona para outros empregos, disse Liscovich. A medida também reforça a argumentação da Uber de que é uma plataforma tecnológica, e não um serviço de transporte – defesa que a empresa costuma sustentar em processos trabalhistas.
O Uber Works é uma oportunidade para a companhia defender sua versão de crescimento responsável. O pessoal temporário é uma extensão natural da tecnologia da Uber, disse Tom White, analista da DA Davidson, mas a empresa deve mostrar que isso pode ser feito com lucro e sem colocar em risco a segurança dos trabalhadores ou clientes.
"O relatório de segurança inédito da Uber demonstra que ainda existem problemas, e com prestadores de serviços isso realmente precisa ser tratado", disse White. "Espero que o Uber tenha aprendido sua lição nos últimos dois anos."
Embora o projeto de temporários surja em uma nova era para a Uber, suas origens foram lançadas há três anos, quando o conceito foi testado em restaurantes de Los Angeles que mantinham relações com a companhia de tecnologia via Uber Eats. Naquela ocasião, a plataforma ajudou os estabelecimentos a lidar com demandas de pedidos de entrega, encontrando trabalhadores adicionais em tempo real para ajudar na preparação de alimentos, embalagens e lavagem de louça.
No formato em teste, o aplicativo atua como intermediário entre empresas que procuram agendar turnos e agências de pessoal, que empregam os trabalhadores, oferecem benefícios e administram a folha de pagamento.
Conteúdo editado por: Cristina Seciuk