A Uber não ficou sozinha na disputa dos aplicativos de transporte. Se a empresa reinava na briga por passageiros com os motoristas de taxis, concorrentes de peso entraram no mercado brasileiro no último ano para abocanhar uma fatia da bilionária indústria de mobilidade urbana. E, apesar de competirem entre si, todas levantam a mesma bandeira: querem que você abandone o seu carro.
INFOGRÁFICO: o mercado de apps de transporte no Brasil
O caso mais emblemático foi a entrada da chinesa Didi Chuxing no mercado brasileiro. A empresa aportou cerca de R$ 320 milhões no aplicativo 99 (antiga 99 Taxis), destinado a pedir taxi. O dinheiro será usado para a expansão da plataforma no Brasil, que já está presente em mais de 300 cidades e tem 140 mil motoristas cadastrados, e para ampliar o alcance do 99Pop, serviço de motorista particular disponível apenas em São Paulo.
A Didi foi responsável por derrotar a Uber na China. A startup avaliada em US$ 35 bilhões comprou a concorrente americana no ano passado e passou a controlar 90% do mercado de aplicativos de transporte na China. Nos Estados Unidos, em 2015, firmou parceria com a Lifyt para que cada companhia pudesse servir o cliente da outra. Agora, no Brasil, espera expandir o 99Pop.
Fidelizar o cliente e mudar cultura do carro próprio estão entre os desafios dos aplicativos
Outra concorrente de peso é a Cabify. A espanhola começou a operar no Brasil no ano passado e conta com US$ 140 milhões em aportes financeiros para financiar a sua expansão no país. A plataforma funciona de maneira semelhante ao Uber, com o diferencial de poder colocar preferências, como se prefere que o motorista abra a porta do carro e ligue o ar-condicionado. A empresa está funcionando em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte e começa a operar em Curitiba e Brasília neste mês.
Há, ainda, a pioneira no modelo de aplicativo de transporte. Fundada em 2011, a Easy Taxi reinou no início desta década como a principal plataforma para pedir taxi no país. Mas, com a entrada da 99 e da Uber, a startup sentiu o baque da concorrência. No ano passado, lançou o Easy Go, serviço de carros particulares com motoristas privados. Ainda na disputa dos aplicativos, a Easy responde por 8% do mercado brasileiro, mesmo percentual da Cabify, e está atrás apenas da 99, com 15% de market share, e Uber, com 65%.
E mesmo sem ameaçar a hegemonia da Uber, empresas como Pegcar e Blablacar impactam o mercado ao trazer novos modelos de negócio. A Pegcar permite que pessoas ofereçam seus carros para aluguel por um curto período de tempo e a Blablacar trabalha com a ideia de se um aplicativo de carona para viagens - ideia similar ao Waze, que já testou o serviço nos Estados Unidos e Israel e deve lançar a funcionalidade em São Paulo em breve.
A coordenadora da divisão da América Latina da União Internacional de Transporte Público (UITP), Eleonora Pazos, afirma que há espaço para diversos modelos de negócio que busquem facilitar a mobilidade urbana no país e que o próprio mercado vai fazer a seleção dos melhores. “A gente viu um boom de empresas crescendo ao oferecer o mesmo serviço [app de transporte] porque eles atendem a uma demanda personalizada, no horário e no local em que o cliente quer. Agora, o tempo dirá quem serão os mais eficientes.”
Uber em xeque
Com 65% de participação de mercado no Brasil, a Uber ainda está longe de perder o seu reinado. Mas a entrada de novos concorrentes começa a ser uma ameaça à companhia, que se vê também em um período de inferno astral. Nesta semana, seu CEO, Travis Kalanick, teve que pedir desculpas após vazar um vídeo seu xingando um motorista da Uber que questionava o executivo sobre as constantes mudanças na ferramenta. Ainda nesta semana, na terça-feira (28), demitiu seu vice-presidente de engenharia e ex-chefe de buscas do Google, Amit Singhal, por suspeita de assédio sexual a funcionárias. Uma semana antes, ficou sabendo que o Google a está processando por roubo de tecnologia de carro autônomo. Tem ainda a ação perdida na Justiça brasileira, que reconheceu vínculo empregatício de um motorista com a plataforma e os testes fracassados com um carro autônomo que furou o sinal vermelho no estado da Califórnia, nos Estados Unidos.
Fidelizar o cliente e mudar cultura do carro próprio estão entre os desafios dos aplicativos
Com o aumento do número de concorrentes, os aplicativos de tecnologia disputam entre si para ver quem é mais eficiente e quem consegue fidelizar o cliente. Mas, ao mesmo tempo em que se preparam para vencer a concorrência direta, competem com o transporte coletivo e a cultura do brasileiro de ter o carro próprio.
“No começo, a tecnologia por si só era a inovação do mercado. O passageiro tinha que pegar uma corrida na rua ou pedir para uma central que demorava cerca de 30 minutos. Agora, os aplicativos não são mais novidade”, afirma Fernando Matias, CEO da Easy Taxi no Brasil.
“O desafio é melhorar a qualidade dos aplicativos, diminuir o preço e tornar a ferramenta a principal fonte de renda para os motoristas”, completa o executivo, ao citar o que fazer para se diferenciar dos concorrentes diretos.
Já para combater a concorrência indireta, todas as empresas atuam junto ao tentar evangelizar os motoristas de que ter um carro próprio em grandes cidades não é vantajoso financeiramente, além de prejudicar o meio ambiente e a mobilidade urbana. “Todos trabalhamos com o modelo de economia compartilhada. O nosso lema é fazer com que a população abandone o carro próprio. Queremos mudar a cultura do carro particular”, explica Matias.
Se o objetivo foi alcançado, espaço não deve faltar para novas empresas no mercado.
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