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O governo vem empurrando com a barriga uma série de desequilíbrios na área econômica que vai exigir um forte ajuste de quem assumir a presidência em 2015. O crescimento do PIB tem sido baixo, a inflação aumentou, a situação fiscal é a pior desde 1998, a indústria encolheu e os juros voltaram a subir. Essa "herança" inclui ainda a baixa taxa de investimento, problemas nos marcos regulatórios e de gestão no setor de energia e petróleo, desconfiança em relação à independência do Banco Central e um plano de concessões ainda amarrado, principalmente na área de portos e ferrovias.

INFOGRÁFICO: Veja como estão os indicadores da economia

Parte desses problemas são estruturais e começaram antes do atual governo, mas, pelo menos até agora, não foram enfrentados de frente. "A arrumação da casa deve ocorrer somente a partir de 2015, seja em um eventual segundo mandato da presidente Dilma Rousseff ou de um outro adversário", diz o professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Alexandre Barros da Cunha.

"Será um ano de ajuste forte, que será pago tanto pelo governo, que terá que cortar gastos, quanto pelo consumidor. A questão será saber se ele será feito de uma única vez ou em etapas nos próximos quatro anos. Quem quer que se eleja, terá que carregar esse fardo e por enquanto ninguém tem um plano de voo para isso" diz o economista Claudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios.

Petrobras

A empresa vive a pior crise da sua história. A maior companhia do país afunda em meio a um mar de más notícias. Piora dos resultados, aumento do endividamento e ingerência do governo na sua gestão – que inclui o represamento dos aumentos da gasolina para controlar a inflação. A compra de uma refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos, que pode ter custado indevidamente US$ 1 bilhão será investigada por uma CPI. Com tantos problemas, 2015 promete ser um ano decisivo para a empresa e para o governo, que terá que encontrar maneiras de recuperar a companhia.

Energia

O imbróglio envolvendo o setor elétrico no Brasil vai se alongar até 2015. Em meio ao risco de apagões e racionamento, baixo nível dos reservatórios, ajuda para as distribuidoras e a necessidade de reestruturar o setor, há um problema adicional: essa conta vai sobrar para o consumidor e pressionar a inflação. Se for confirmado o empréstimo de R$ 8 bilhões que o governo pretender fazer com bancos para quitar as contas extras geradas pelas usinas térmicas, o consumidor brasileiro terá que absorver um aumento médio de 4% em sua conta de luz em 2015, apenas para quitar metade desse financiamento. Outros 4% estão reservados para 2016. "A matriz brasileira é altamente dependente da geração hidrelétrica. O novo modelo terá que colocar na mesa outras opções, como a nuclear e a eólica" diz Lucas Dezordi, da UP.

Comércio Exterior

O atual governo não avançou nos acordos comerciais, como a negociação com a União Europeia, e priorizou o comércio com os demais países da América do Sul. Para o professor de economia Alexandre Cunha, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) será preciso destravar essa agenda de comércio exterior nos próximos anos, sob pena de o resultado da balança comercial brasileira se deteriorar ainda mais. Em 2013, o superávit comercial, foi o menor desde 2000, US$ 2,56 bilhões. Um dos efeitos da queda na balança comercial é o agravamento das contas externas. Para o economista Lucas Dezordi, da Universidade Positivo (UP), a principal ameaça à economia brasileira é o aumento significativo do déficit em transações correntes (que leva em conta todas as entradas e saídas de moeda estrangeira), que se aproxima perigosamente dos 4% do PIB. "Esse é um sinal de vulnerabilidade externa e instabilidade macroeconômica importante. É um sinal de que a economia brasileira não vai bem", diz.

Investimentos

Os investimentos não deslancharam nos últimos anos. O programa de concessões andou apenas no setor de rodovias e parcialmente em aeroportos. Os grandes projetos na área de portos e ferrovias devem ficar para o ano que vem. Os investimentos em infraestrutura equivalem hoje a 2,4% do PIB, mas o ideal era que ele chegasse a 4,5%, segundo Claudio Frischtak, da Inter.B consultoria. Em termos gerais, a participação do investimento ficou em 18% do PIB em 2013, contra 19,5% do PIB em 2010.

Perda de credibilidade

Analistas de mercado passaram a duvidar da real independência do Banco Central e a cobrar uma postura mais agressiva de combate à inflação. Em paralelo, as mudanças nas regras do setor de energia tiveram efeito negativo sobre investidores. Para completar, a agência de classificação de risco Standard&Poor´s rebaixou a nota de crédito do Brasil e colocou o país a apenas um degrau de perder o grau de investimento, classificação que é usada para balizar a decisão de investidores. A retomada da credibilidade, segundo Claudio Frischtak, economista da Inter.B consultoria, será um desafio para os próximos quatro anos e será alcançada apenas com "estabilidade regulatória e responsabilidade macroeconômica".

Juros

O novo ciclo de alta de juros, iniciado em abril do ano passado, deve durar pelo menos até maio. Fica para o futuro a proposta da presidente Dilma Rousseff de o país ter juros "de primeiro mundo", de um dígito. Em fevereiro deste ano, a Selic voltou ao mesmo patamar de quando a atual equipe econômica assumiu, em 2011: 10,75% ao ano. Na última semana, o Banco Central elevou a taxa para 11% ao ano.

Crescimento baixo

O país não conseguiu cumprir, nos últimos quatro anos, suas expectativas iniciais, de crescimento do PIB de 3% a 4% ao ano. Até agora, a média no governo Dilma Rousseff foi de 2% ao ano, metade do número verificado na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (4%), e ligeiramente inferior ao registrado no período de Fernando Henrique Cardoso (FHC), 2,3%. A fórmula de incentivo ao consumo deu sinais de esgotamento na gestão Dilma. As medidas fiscais e monetárias adotadas nos últimos três anos, especialmente as desonerações, as concessões ao setor privado, a liberação de crédito, a redução das tarifas de energia elétrica em 2013 e a manutenção do preço da gasolina, não surtiram efeito desejado sobre o investimento e o PIB e, de quebra, pioraram a situação fiscal, segundo a economista Melody Porsse, professora do setor de Administração da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Crescer mais do que 2% nos próximos anos será um dos principais desafios a partir de 2015.

Inflação

A inflação deve ficar acima do teto do regime de metas – de 6,5% – durante praticamente toda a campanha eleitoral. A previsão é que ela atinja 6,72% em setembro, às vésperas do primeiro turno, caindo para níveis abaixo do teto apenas em dezembro. E as previsões são de uma inflação ainda alta em 2015. Pressionada pelos preços dos serviços e dos alimentos, a inflação só não está maior porque o governo segurou os aumentos dos preços administrados, como energia e combustível. A economista Melody Porsse, da UFPR, lembra ainda que ao segurar o preço da gasolina e da energia, o governo deixa para o próximo mandato o custo inflacionário de recompor as margens da Petrobras e das distribuidoras de energia.

Emprego e renda

A despeito do baixo desempenho da economia, a renda no Brasil tem crescido acima da média mundial e o desemprego tem se mantido em patamares baixos, ainda que em parte porque uma parte da população esteja adiando a estreia no mercado de trabalho. Emprego e renda são importantes também porque influenciam a percepção de segurança e de confiança na economia e estão ligados ao dia a dia da população. A boa notícia é que o cenário para 2015 não prevê nenhuma alteração radical nesses dois indicadores. O desafio, porém, é manter o ritmo de geração de vagas. Segundo dados do Ministério do Trabalho, a criação líquida de vagas formais no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) somou 1,117 milhão em 2013, o menor número em dez anos.

Política fiscal

O governo Dilma economizou, na média, menos para pagar os juros da sua dívida – o chamado superávit primário – do que seu antecessor Lula. No ano passado, o superávit primário ficou em 1,9% do PIB, o pior resultado desde 1998. Com gastos em alta, o governo passou a adotar a chamada "contabilidade criativa", caracterizada pelo uso de medidas para inflar o registro das receitas e reduzir o das despesas. Para o professor de economia Alexandre Barros da Cunha, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o ajuste fiscal deve ficar para o próximo mandato. "Não há como evitar e o governo terá que reduzir despesas", afirma.

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