Três meses e meio depois de assumir o comando da Organização Mundial de Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevêdo conseguiu arrancar dos 159 países-membros o primeiro acordo em 20 anos para liberalização do comércio mundial. Em entrevista por telefone de Bali, Indonésia, Azevêdo fala do próximo passo: destravar a Rodada de Doha, a grande negociação para abertura do comércio, paralisada há anos. Ele sugere que a saída para Doha pode ser reduzir o nível de ambição das negociações.
É um acordo tímido para as ambições de Doha, mas é o primeiro acordo em 20 anos. Como se sente?
Muito contente por ter conseguido contribuir para avançar o sistema multilateral. A paralisia do braço negociador da OMC era muito preocupante. Nós vimos a organização ficando progressivamente desatualizada e até com um pouco de irrelevância nas regras do comércio.
A relevância da OMC está garantida ou ainda vê riscos?
A OMC tem que ser permanentemente atualizada. Como disse na conferência, o pacote de Bali foi o começo, mas temos que continuar atualizando. Nosso próximo passo é tentar retomar a Rodada Doha de alguma forma.
Vai ser possível destravar a Rodada de Doha ou ainda há falta de vontade política?
Agora temos que fazer uma revisão, um balanço dos últimos acontecimentos e entender melhor os sucessos e os fracassos. O que deu certo, deu certo por quê? O que deu errado, foi por quê? Qual a melhor maneira de avançar? Que tipo de ambição, cobertura? Tudo deve ser repensado e tiramos os próximos 12 meses para fazer um mapa para o futuro.
Nessa revisão, vê algum consenso sobre o que precisa ser mudado na OMC?
Tenho ideias minhas, próprias. Por exemplo, um dos motivos que fez com que Bali fosse possível, foi não demandar dos países um esforço impossível. Um dos principais problemas que tivemos com Doha foi de que, em algum momento, e é difícil precisar quando, a ambição dos textos negociadores ultrapassava em muito os limites dos países-membros.
É preciso esquecer os textos acordados e recomeçar?
Não, acho que temos que repensar, recalibrar, para ver se foi um problema de metodologia, de ambição ou circunstância política. Tudo tem que ser repensado. É uma reflexão complexa, que não pode estar limitada aos atores centrais. Tem que ser abrangente, com todos os países fazendo parte.
Em 2005, a OMC decidiu pela eliminação dos subsídios às exportações agrícolas até 2013, o que não ocorreu. Foi um erro a ausência do tema?
Na verdade, a decisão da reunião de Hong Kong é interpretada de maneira diferente pelos países-membros. Uma parte acha que a decisão é independente, autônoma. Outra parte acha que estava vinculada à Rodada de Doha. Para eles, à medida que Doha não aconteceu, o compromisso de eliminar os subsídios em 2013 não existe. Segundo a interpretação de alguns países, 2013 tinha a ver com a implementação de Doha. Produziu-se uma declaração. Não é legalmente vinculante, mas é uma declaração política forte, que inclusive retoma a discussão do tema como prioritária no período pós-Bali. É importante.
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