Entre alguns economistas, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) ganhou novo apelido: BN-JBS-DES. A sigla adicional é referência ao frigorífico JBS Friboi, maior produtor de carne processada do mundo para muitos, posição alcançada apenas graças à ajuda do banco estatal. Em fevereiro passado, por exemplo, quando a JBS Friboi emitiu R$ 3,476 bilhões em debêntures para pagar a aquisição da americana Pilgrims Pride, o BNDES comprou mais de 99% do total da oferta na ocasião, investidores privados não mostraram interesse nos papéis. Há duas semanas, o banco também anunciou que vai subscrever integralmente a emissão de debêntures no valor de R$ 2,5 bilhões do frigorífico Marfirg para a compra da Keystone Foods, dos EUA, e da OKane Poultry, da Irlanda do Norte.
A escolha dos beneficiados pelo crédito barato e de longo prazo oferecido pelo banco é a maior crítica à atuação do BNDES, que desde 2008 se transformou na ferramenta favorita do governo para uma atuação forte na economia, sob o argumento da necessidade de políticas anticíclicas em período de crise. Somente para frigoríficos foram destinados mais de R$ 16 bilhões. Até empresas como a Vale e a Petrobras se beneficiaram do dinheiro subsidiado do BNDES.
O governo se defende argumentando que é preciso consolidar grandes competidores internacionais, e também afirma que o dinheiro para as grandes corporações não faz parte da política industrial do banco, e sim da área de investimento via BNDESPar, seu braço de participações, o banco compra parte das empresas. "Teoricamente não seria preciso subsidiar tanto algumas empresas que são competitivas e de setores em que o Brasil possui ampla vantagem comparativa", defende Mansueto de Almeida, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "O país tem as maiores companhias do mundo do setor de carne. Essas são empresas que têm acesso a crédito em qualquer banco internacional não precisam do dinheiro do BNDES", completa.
Dívida pública
Uma das consequências do crescimento da atuação do BNDES no mercado de crédito é o aumento da dívida pública brasileira. Até 2007, o banco estatal vivia apenas com os 40% dos recursos do Fundo do Amparo do Trabalhador (FAT), conforme prevê a Constituição Federal. No ano seguinte, porém, para que fizesse frente ao que se exigia dele, o BNDES precisou de aporte do Tesouro Nacional. Foram R$ 35 bilhões em 2008, R$ 100 bilhões em 2009 e R$ 80 bilhões neste ano todos recursos aprovados pelo Congresso. Para os cofres nacionais, o custo apenas das últimas duas transferências é estimado em R$ 66 bilhões. Essa perda ocorre por causa do subsídio implícito no empréstimo ao banco estatal há uma diferença entre o custo de captação (em taxa Selic, 10,75% ao ano) e a taxa cobrada do BNDES (indexada à TJLP, de 6% ao ano).
"A atuação do BNDES melhorou, o banco tem emprestado para mais empresas, mas os recursos acabam se concentrando nas grandes", afirma o economista Felipe Salto, da Tendências Consultoria. "O banco está financiando alguns tipos de estratégias de investimento que não necessariamente têm o objetivo de ampliar a infraestrutura e o desenvolvimento nacional", argumenta.