Um boi rústico e de crescimento precoce será certificado como a primeira raça de gado legitimamente paranaense. O gado purunã começou a ser desenvolvido pelos pesquisadores do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) há 32 anos e, a partir deste sábado, ganha credencial do Ministério da Agricultura. Haverá até cerimônia para marcar o feito, durante a 35.ª Exposição Feira Agropecuária, Industrial e Comercial de Ponta Grossa (Efapi), que termina amanhã. O novo status do purunã permite a certificação ao produtor.
A raça começou a ser desenvolvida em 1980 pelos pesquisadores Daniel Perotto e José Luiz Moletta na fazenda Modelo, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais. Eles uniram as características genéticas do charolês, caracu, angus e canchin para formar o purunã, com predominância taurina (a maior parte do gado brasileiro é zebuína). O gado sintético ou composto garantiu precocidade sexual e de abate, tornando-se, segundo Perotto, uma alternativa à pecuária de corte.
Após 15 anos de experimentos, em 1995, a raça foi formada. O nome do boi, que com o credenciamento será conhecido mundialmente como purunã, foi dado em referência à Serra do Purunã, que separa o primeiro e o segundo planaltos paranaenses.
Com algumas gerações criadas, o Iapar passou a comercializar touros, sêmens e fêmeas em 2008. A produção é vendida aos interessados na fazenda Modelo, que tem perto de 800 matrizes.
O credenciamento da raça prevê que o Iapar seja o órgão emissor do Certificado Especial de Identificação e Produção (Ceip) ao produtor que comprovar as características genéticas do gado purunã.
Para o pecuarista Piotre Laginski, de Cascavel, a notícia é bem-vinda. "Isso vai trazer um grande benefício porque vai legalizar a raça, o que era muito esperado. Futuramente, pretendo comercializar genética do purunã", comenta. Laginski comprou sêmen e touro da fazenda Modelo e começou a criação em 2008.
Mais uma opção para a pecuáriaMaria Gizele da Silva, da Sucursal de Ponta Grossa A consolidação do boi purunã chega num período de retração da pecuária paranaense. Enquanto em 2002, por exemplo, havia 10 milhões de cabeças no Paraná, sendo 70% de gado de corte, hoje esse plantel não passa de 6,5 milhões de cabeças. Além disso, o avanço da soja e da cana-de-açúcar no território paranaense reduz a área da pecuária. "Há previsão de aumento da área de agricultura. Nós estamos trabalhando para incentivar o pecuarista a aumentar a produção, a aumentar a lotação da área", comenta o médico veterinário do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), Fábio Mezzadri. Ele acrescenta que hoje as propriedades paranaenses têm em média 1,4 animal por hectare. "Esse indicador precisa melhorar. Hoje a pecuária está migrando muito para os estados do Norte do país que têm mais área", observa. A participação do purunã no plantel ainda é tímida. Conforme dados do Iapar, há produtores espalhados nas regiões Oeste e Norte que, juntos, têm perto de 2,5 mil cabeças de purunã. Para um dos idealizadores da raça, Daniel Perotto, o purunã pode ser a terceira raça de gado de corte mais expressiva do Paraná, atrás do angus e do nelore. "Eu sei até onde o purunã pode chegar, ele não vai ser a primeira raça, mas estará entre as três primeiras", considera Perotto. Para Mezzadri, é possível que o purunã não alavanque a produção pecuária no estado, mas é uma ajuda. "O purunã, por si só, não vai salvar a pecuária, mas é uma ferramenta a mais", aponta. Raças brigam por espaçoJosé Rocher
Dos cerca de 210 milhões de bovinos que existem no Brasil, 90% são de raças zebuínas, restando pouco espaço para as taurinas. Entre as zebuínas, a nelore ocupa perto de 80% do espaço. Nos cinco estados que concentram metade do rebanho nacional -- Mato Grosso, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e Pará pastagens imensas salpicadas de pontinhos brancos vistos à beira da estrada mostram a predominância desse gado, que reflete a luz do sol e sofre menos com o calor tropical. Mesmo assim, cresce a competição entre as raças sintéticas, que mostram disposição para essa disputa.
Inserida no Brasil em meados dos anos 90, a raça sintética brahman, por exemplo, chegou neste ano a 220 mil animais, conforme o setor. O caminho trilhado pelo animal, criado nos Estados Unidos há meio século, é o mesmo que precisa ser percorrido por novas raças como a purunã. O brahman vem da mistura de guzerá, gir, khrisna valley e do prórpio nelore. É usado por criadores que querem acelerar o ciclo de criação em suas fazendas ou contar com fêmeas mais hábeis em reprodução, conta o pecuarista Jovelino Carvalho Mineiro Filho, um dos principais fornecedores de touros brahman e nelore do país.
Os pecuaristas de estados vizinhos como o Paraná, frequentam sua fazenda, em Rancharia, no Oeste de São Paulo, em busca de animais mais eficientes. O acesso à essa genética se dá por meio de leilões, na própria fazenda ou virtuais (www.fazendasantanna.com.br). Um reprodutor brahman vale cinco vezes mais que um boi de corte, relata Mineiro Filho, economista e apostador da pecuária.
A experiência com o gado brahman, no entanto, lhe mostrou que não é fácil tirar espaço do nelore. "Não tem muito espaço para raça nova. Sem zebu, não tem carne no Brasil. Uma nova raça bovina precisa provar performance econômica e exercer plenamente sua função produtiva, de forma sustentável", avalia. Por outro lado, nota interesse crescente no setor. "Cada vez mais pecuaristas descobrem as vantagens proporcionadas por reprodutores com genética provada."