São Paulo - Há um brasileiro à frente do desenvolvimento de aplicativos e serviços da plataforma Android, o sistema operacional do Google para smartphones. Hugo Barra, 34 anos, nasceu em Belo Horizonte (MG) apenas três anos depois da criação do primeiro telefone realmente móvel pela Motorola, o Dynatac 8000X, nos EUA. Ele atualmente é diretor de produtos móveis no Google e, a partir da sua experiência na área, acredita que 2011 será o "ano da virada" para smartphones e para as conexão móvel, não só nos países mais ricos, mas também aqui, no Brasil.
Para ele, o preço dos celulares tende a cair muito até o ano que vem. Nesse cenário, o custo do plano de dados também passará a ser bem menor do que é hoje. "Vender um smartphone e não negociar um plano de dados não compensa, comercialmente falando. Isso vai mudar."
A história de Barra no mundo da informática internacional é marcada por duas características que se repetem entre os executivos das grandes empresas do setor: qualificação acadêmica e empreendedorismo. Já formado no Brasil, com seu diploma de engenheiro elétrico, ele pegou um avião e voou para Boston, na costa leste dos EUA, para fazer mestrado em computação no MIT, um dos institutos de tecnologia mais importantes do mundo. Lá, reuniu alguns amigos e, juntos, abriram uma empresa "bem fundo de garagem", a Lobby7, que desenvolvia tecnologias de reconhecimento de voz humana por máquinas.
Passado um tempo de trabalho, uma das maiores empresas do setor, a Nuance Communications, comprou a empresa dos rapazes. Barra virou diretor de produtos, cresceu e assumiu a cadeira de diretor da empresa. Na Nuance foi um dos responsáveis pela produção do primeiro celular com o sistema operacional Android e motor de reconhecimento de voz.
Em Londres
Em 2007, o brasileiro Mário Queiroz, que na época era o responsável pelos produtos da área mobile no Google, sabendo do trabalho de Barra, o convidou para fazer parte da equipe no escritório de Londres o maior do Google, excluindo-se a sede, na Califórnia. Três anos depois, Queiroz deixou o setor para se dedicar à Google TV, e seu amigo mineiro assumiu a sua cadeira, passando a ser o responsável pelos projetos relacionados ao Android (e seus 500 engenheiros que trabalham dedicados à plataforma), aplicativos e todos os produtos do Google adaptados para a plataforma móvel (Google Mobile, YouTube, Gmail).
Nesse período, o brasileiro participou de dezenas de projetos. Em um deles, o Google Buzz, inclusive gerou acusações de invasão de privacidade pelos usuários, por tornava exposta a lista de contatos com os quais o usuário havia se relacionado recentemente. Barra trabalhou em um mecanismo de geolocalização que exibia em tempo real no Buzz o endereço do usuário, mas rebateu a ideia de violação de privacidade dizendo que só dependeria do usuário, aceitar ou não o serviço. "Quem quiser, coloca."
Quando o assunto é Android, Barra fica animado e diz, orgulhoso, que o crescimento da plataforma se deve essencialmente ao tipo de ecossistema que o Google criou. Nesse meio, ecossistema é um ambiente no qual todos os elementos se relacionam em harmonia, neste caso ele se refere aos desenvolvedores (que criam novos programas ou aplicativos para o Google), a empresa, os suportes e ferramentas para que tudo isso dê certo.