Apontados há alguns anos como a modalidade de aplicação que mais crescia no país, os clubes de investimento atravessam desde o início do ano passado uma longa maré baixa. Mas não deixaram de ser indicados para iniciantes graças a uma fórmula que permite aportes iniciais relativamente baixos, carteiras diversificadas de aplicações e investimentos feitos em conjunto até com familiares, amigos ou colegas de trabalho.
Depois de crescer por 12 anos consecutivos, o número de grupos ainda enfrenta baixas representativas. De modo geral, eles funcionam como uma reunião de investidores, que compram cotas da carteira de investimentos montada por um gestor que eles próprios escolhem. Segundo regras do órgão que regula o setor, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), estes grupos podem ter de três a 50 membros e o valor mínimo de investimentos de todo o clube é de R$ 200 mil.
"Mas isso não quer dizer que cada pessoa tem de desembolsar R$ 4 mil. São definidos valores para as cotas e cada integrante compra o número que desejar delas", explica Tatiana Zen, coordenadora de relacionamento da corretora Omar Camargo.
A rentabilidade é um atrativo, podendo ser superior à de investimentos concentrados apenas na renda fixa como os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), que vêm rendendo pouco mais de 10% ao ano. Outro está na capacidade de diversificar: juntos, os membros de um clube podem montar uma carteira com vários e diferentes ativos, o que dá certa segurança aos investidores e pode levar a bons resultados. Isso acontece porque parte dos recursos pode ser investida, por exemplo, em aplicações de renda fixa (que garantem certa segurança de retorno) e outra em ações da bolsa, que podem apresentar altas mais elevadas.
"E o investidor estará contando com uma parcela de tudo isso", diz Tatiana. Ela lembra ainda que valores administrativos e de corretagem são divididos entre todos os cotistas, diminuindo custos individuais.
A possibilidade de investimentos menores e bons retornos foi o que chamou a atenção do médico Pedro Santoro. Com certa quantia de dinheiro "parado", ele ouviu falar nos clubes de investimento e resolveu apostar em um deles. No ano passado, colocou R$ 2 mil em um clube acompanhado pela sua empresa de investimentos, que envolve diversos correntistas da corretora.
"Eu já tinha investido em outras modalidades, mas de rendimento bem baixo, e queria algo que desse chances de uma maior rentabilidade. Em uma palestra, comentaram a possibilidade dos clubes e me interessei também pela ideia de ser um investimento mais democrático, que tem seus rumos decididos pelo conjunto dos cotistas", conta Santoro.
Mudanças regulatórias e Bovespa em baixa diminuíram procura
O número de clubes de investimentos em exercício no Brasil experimentou mais de uma década de crescimento, mas, desde janeiro 2011, o volume de grupos da modalidade não para de cair. O período de 2006 a 2010 registrou um crescimento de 87,2%, chegando a 3.054 unidades ao final do ano retrasado. Porém, dados de 2011 mostram que vários destes grupos foram fechados e o ano acabou com somente 2.582 clubes em operação.
Esse movimento é motivado por novas modalidades que vêm sendo oferecidas aos iniciantes como o Tesouro Direto e outras aplicações em renda fixa além de restrições recentes impostas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). No ano passado, uma regulamentação do órgão limitou o número de cotistas participantes dos clubes de 150 para 50 e ainda fixou o valor mínimo para sua operação em R$ 200 mil. A medida foi tomada para corrigir uma distorção: os clubes vinham crescendo tanto e com tantos associados que se tornavam mais e mais parecidos com fundos.
"Isso não diminuiu as possibilidades que um clube pode oferecer para seus investidores. Porém, reduziu o acesso a estes grupos, uma vez que em vários casos as cotas ficaram mais caras, com o número limitado de participantes", afirma Mehanna Mehanna, da Toro Investimentos. O especialista afirma que os valores de entrada nos clubes continuam atrativos se comparados aos de outros investimentos e ainda há clubes que com valores de cotas acessíveis.