O que o Brasil precisa é ampliar os debates sobre nosso sistema de metas de inflação e nossa política de juros para além do mercado financeiro.

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A ata do Copom é tratada pelo "mercado" como algo inacessível aos não iniciados. Também, pudera: chega a ultrapassar 30 páginas. São tantos dados (inflação, emprego, renda, câmbio, PIB) que realmente o documento parece obscuro às "pessoas comuns". Do enorme compêndio, os analistas de mercado financeiro pinçam não mais que três ou quatro pequenos trechos para embasar suas "análises".

Na última ata, houve os que preferiram enfatizar a tendência de alta dos preços ("O cenário prospectivo para a inflação não evoluiu favoravelmente desde sua última reunião") para justificar que novos aumentos de juros serão necessários. Já aqueles que quiseram destacar a importância do esforço fiscal do governo utilizaram o trecho "desenvolvimentos no âmbito fiscal e parafiscal são parte importante do contexto no qual decisões futuras de política monetária serão tomadas, com vista a assegurar a convergência tempestiva da inflação para a trajetória de metas". E, finalmente, analistas que consideram acertada a decisão do Banco Central de passar a utilizar novos instrumentos de política monetária que não à taxa de juros aproveitaram a seguinte passagem: "Ações macroprudenciais recentemente implementadas – um instrumento rápido e potente para conter pressões localizadas de demanda –, e ações convencionais de política monetária ainda terão seus efeitos incorporados à dinâmica dos preços".

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Enquanto no Brasil o debate sobre aperfeiçoamento no sistema de metas de inflação está interditado, o FMI, por meio do seu economista-chefe, Olivier Blanchard, promoveu esta semana um grande seminário em Washington, cujo objetivo foi debater o futuro da política econômica em geral e da política monetária em particular. Na palestra de abertura, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, afirmou que "os últimos anos representaram uma crise não apenas para a economia global, mas também para os economistas". Ou, como afirmou Blanchard, "antes da crise, convergimos para o belo em termos de políticas macroeconômicas (...) Infelizmente, beleza não é sinônimo de verdade".

Talvez a única verdade no momento seja a não existência de verdades absolutas no mundo da política econômica. O que o Brasil precisa é de ampliar os debates sobre nosso sistema de metas de inflação e nossa política de juros (que custam mais de R$ 150 bilhões por ano) para além do mercado financeiro, que contém excelentes analistas, mas tão enviesados (ou politizados) quanto os analistas dos sindicatos, patronais ou de trabalhadores. Afinal, a ciência econômica nunca deixou de ser também economia política!

Fábio Tadeu Araújo é professor de Economia da PUCPR e sócio da Brain – Bureau de Inteligência Corporativa.