Edson Campagnolo faz o discurso que se espera de um industrial. Reclama da falta de incentivos do governo à indústria, teme a competitividade "desonesta" da China e acha que o câmbio poderia ser elevado "um pouquinho" para motivar os exportadores. Mas ele se esforça por moderar a fala. Há três meses à frente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), onde ocupou uma das cadeiras de vice-presidente durante os oito anos de gestão de Rodrigo Rocha Loures, ele mostra consciência de que os problemas do setor não podem ser encarados de forma absoluta, como uma luta entre o bem e o mal. Frases como "os empresários brasileiros também se beneficiam com a China, comprando equipamentos, o que possibilita investimentos", "se fosse fácil controlar o câmbio o governo já teria feito" e "a Dilma tem tomado algumas medidas para proteger a indústria" expressam o outro lado de seu discurso.
Dono de uma fábrica de confecções em Capanema (Sudoeste do Paraná) e primeiro empresário do interior a assumir o comando da federação, Campagnolo, 52 anos, diz focar sua presidência naquilo que acredita que pode fazer a maior diferença: a educação dos trabalhadores. Com orçamento anual de R$ 450 milhões, ele pretende investir R$ 100 milhões todos os anos até 2015 na formação de mão de obra qualificada, por meio de cursos técnicos no Sesi e no Senai, que fazem parte do Sistema Fiep. O montante é mais que o dobro do que foi gasto na área durante a gestão anterior. A expectativa é que 250 mil jovens passem pelo Senai no período um batalhão de fazer inveja a qualquer universidade.
O maior obstáculo, segundo ele, é a falta de preparo do aluno egresso do ensino público. "Temos de dar um passo atrás e reforçar a educação desses jovens, ou eles não conseguem acompanhar o nível de ensino desejável para os nossos cursos", afirma. Os reforços serão de aulas de Matemática e Português. Formados, esses jovens devem migrar principalmente para as indústrias de construção civil, metal-mecânica e petroquímica, áreas com maior demanda no estado.
Para conseguir aplicar todos esses recursos na educação, Campagnolo teve de mexer em uma área que ganhou bastante espaço e dinheiro na Fiep nos últimos anos: as redes de desenvolvimento local, voltadas para a formação de capital social. "A gente deu uma freada nos programas. Diminuímos muito a intensidade. Não é que não sejam importantes; eles são, mas agora a prioridade é outra. Pelo menos essa é uma visão da diretoria da Fiep, com o suporte dos nossos empresários e sindicatos."
Desenvolvimento industrial
Quando o assunto é desenvolvimento industrial, Campagnolo faz um mea culpa. A Fiep foi bastante criticada pela morosidade em aproveitar as oportunidades que estão sendo geradas pela exploração do pré-sal e ele não discorda dessa avaliação. "Cometemos alguns equívocos", admite. "Mas estamos retomando com muita força a detecção de empresas que podem produzir para o pré-sal." Ele cita a fabricação das chamadas árvores de natal molhadas, equipamentos usado na exploração submarina e que já é fabricado no Paraná pela Aker Solutions. "Temos outra empresa nossa, fornecedora da cadeia automotiva, que tem capacidade de usinagem para o pré-sal e está em fase de negociação para receber investimentos do Oriente Médio. Os investimentos do pré-sal estão saindo."
Mais ou menos. Em setembro, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) inviabilizou um investimento de R$ 100 milhões da Subsea 7 no litoral, onde a empresa pretendia erguer uma unidade de soldagem e revestimento de dutos para exploração marítima de petróleo. Campagnolo não chega a criticar os órgãos ambientais, mas prega a moderação. "Não sou técnico em meio ambiente, mas gosto de estar rodeado por pessoas que me dão bons conselhos. Prefiro dizer que essa conclusão [do IAP] de que a construção ia ter um impacto no meio ambiente foi bem conduzida. Mas foi uma perda para o estado."