Barbosa Ferraz, no Noroeste do Paraná, tem pouco mais de 12 mil habitantes. Cerca de 3 mil deles dividem o mesmo ramo de atividade: o crochê. Há 20 anos, quando a primeira fábrica de fios surgiu na cidade, crochetar ainda era passatempo das avós. Mas o trabalho ganhou corpo, chamou a atenção de outros estados e hoje soma uma fatia importante na economia municipal, gerando receita de mais de R$ 800 mil ao mês para o município, de acordo com a prefeitura.
O empresário Waldir de Oliveira, dono da Empório do Crochê, foi o responsável pela implantação da produção. Quando ainda era secretário de Planejamento do município, decidiu percorrer algumas cidades do sul de Minas Gerais, berço deste tipo de confecção, para entender melhor o setor. A ideia, segundo ele, era diversificar a economia local, baseada na agricultura. Como experimento, resolveu arriscar e voltou ao Paraná com 50 quilos de fios de algodão.
À época, conta o empresário, a dificuldade era tão grande que nem as agulhas usadas na confecção do produto eram encontradas na cidade. Foi preciso criá-las a partir de chapas de alumínio doadas pela Copel. Com o material trazido de Minas, algumas peças de cozinha foram feitas por vizinhas do empresário que conheciam as técnicas.
De volta às cidades do Sudeste do país, o paranaense apresentou o pequeno mostruário que caiu no gosto dos empresários locais. As viagens se tornaram constantes e a variedade de produtos aumentou. De jogos de cozinha a roupas exclusivas, tudo ganha forma e charme pelo crochê. Atualmente, a cada 20 dias, cerca de 7 toneladas de produtos saem da fábrica de Oliveira em direção às terras mineiras.
Além de comercializar o material pronto, a matéria-prima também passou a ser produzida e vendida para outros estados. Cerca de 90% da produção tem destino certo: Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais. O restante é distribuído na região, conforme o empresário. Hoje existem no município quatro fábricas de transformação de fios, quatro fábricas de barbantes, três teares e cinco lojas especializadas na venda do artesanato.
"O crochê se tornou um dos pilares da economia local. Muitas famílias complementam a renda com o que tiram da produção. Nossa solução caipira deu certo", comenta Oliveira.
Lavoura
Antônio Garcia foi um dos que também enxergaram a oportunidade. Por anos, o feijão se alastrou pelas terras do agricultor, mas o mau tempo o desencorajou a seguir com a lavoura. Após uma chuva de granizo assolar a leguminosa, a família mudou de ramo. Do campo para à cidade, o agricultor investiu em duas lojas em Itapema (SC), onde revende o que adquire na cidade natal. "Vendo o crochê e não me arrependo. Só me arrependo de não ter começado antes", diz.