Depois de crescer (e sofrer) com os ciclos econômicos provocados pela construção de Itaipu e pelo trânsito de sacoleiros, cidade do extremo Oeste paranaense esbanja otimismo com a expansão do ensino superior| Foto: Fotos: Christian Rizzi/ Gazeta do Povo

Condomínio

200 lotes vendidos em 5 horas

A Alphavile Urbanismo é um dos grupos que lançaram projetos imobiliários em Foz do Iguaçu. Em 12 de dezembro de 2009, a empresa paulistana colocou à venda seu primeiro empreendimento na cidade, o condomínio horizontal Terras Alpha, com a oferta de 383 lotes em uma área de 227 mil metros quadrados na Avenida Paraná, nas proximidades da Unila.

A procura surpreendeu. Clientes chegaram a formar filas de madrugada para garantir os melhores terrenos, e mais de 200 lotes foram vendidos em apenas 5 horas. Hoje, 95% dos terrenos já têm dono, na maioria moradores de Foz. "Nós esperávamos que a venda fosse um pouco mais cadenciada. Nossa surpresa foi muito positiva", diz o diretor comercial do Terras Alpha, Fábio Valle.

Pesquisas

Segundo Valle, a empresa vem acompanhando a movimentação e a economia da cidade há pelo menos 18 meses, inclusive por meio de pesquisas de mercado. Os indicadores, revela o diretor, desenham um cenário animador. "Observamos que Foz do

Iguaçu tem um indicativo de crescimento muito interessante, em comparação a outras cidades do Paraná e mesmo do Brasil. Isso nos colocou a oportunidade de fazer um investimento imobiliário." O Terras Alpha é apenas o primeiro dos empreendimentos que a Alphaville pretende fazer em Foz – o primeiro condomínio ocupa apenas um terço do terreno que ela comprou.

Classe média

A percepção do mercado local é que a maioria dos compradores de lotes em condomínios horizontais pretende construir para alugar ou vender o imóvel – em especial para professores e estudantes da futura universidade. Professores tendem a trazer a família, enquanto estudantes podem se reunir em "repúblicas", comprando ou alugando casas de "padrão classe média" nos condomínios.

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Dono de restaurantes, Dias quer alugar imóveis aos novos universitários
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Depois de quase uma década de estagnação, a construção civil vive um surto de crescimento em Foz do Iguaçu, no extremo Oeste do estado. Considerando-se apenas os condomínios horizontais lançados no ano passado, o setor imobiliário movimentou cerca de R$ 80 milhões, e a perspectiva para 2010 é das melhores. O otimismo se apoia no desenvolvimento de um polo universitário na cidade – o que, a exemplo dos ciclos de Itaipu, dos sacoleiros e do turismo, tende a gerar efeitos em cadeia na economia da cidade.Em agosto, terão início as atividades da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e, em 2011, estreiam os cursos superiores do Instituto Federal do Paraná (IFPR). Juntas, as duas instituições devem atrair pelo menos 12 mil estudantes nos próximos anos. Esse é o número de universitários que a cidade tem hoje, matriculados em seis instituições particulares e uma pública, a Univer­­sidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). No total, elas empregam cerca de 800 professores.A Unila espera abrir pelo menos mil vagas neste ano e contratar cem professores, além dos demais funcionários. Quando estiver em pleno funcionamento, terá 10 mil alunos, a metade estrangeiros, e 500 professores, a maioria de fora da cidade. O IFPR, por sua vez, funciona provisoriamente no Parque Tecnológico de Itaipu e tem 120 alunos em cursos técnicos. Em 2011, abre seu primeiro curso superior e, em cinco anos, espera abrir 2 mil vagas.

Aquecido que está, o mercado imobiliário responde por algo entre 25% e 30% da movimentação de dinheiro na cidade, garante o vice-presidente do Sindicato de Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi-PR), Jilson José Pereira. Boa parte desse fenômeno se deve aos condomínios horizontais, tendência que surgiu na cidade em 2002. "Hoje as pessoas procuram casas em condomínios fe­­chados, em busca de segurança", diz o empresário do setor imobiliário José Augusto Caldart. Pelo me­­nos seis condomínios horizontais estão na fase de lançamento, com um total de mil novos lotes que custam cerca de R$ 50 mil cada.

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Como a construção de imóveis residenciais praticamente parou entre 1997 e 2006, hoje faltam moradias que custem de R$ 60 mil a R$ 150 mil em Foz do Iguaçu. Por isso, segundo corretores, se a Unila começasse a funcionar hoje não haveria imóveis para acomodar todos os estudantes e professores que viessem à cidade. O potencial de crescimento do setor é grande e já atrai investidores de outras cidades, revela Paulo Castegnaro, delegado do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci).

Na região norte de Foz, área que abriga a hidrelétrica de Itaipu e a Unioeste e onde a Unila está sendo construída, o valor dos terrenos mais que dobrou nos últimos tempos, diz Pereira. "Lotes que eram vendidos por R$ 5 mil a R$ 10 mil hoje custam entre R$ 25 mil e R$ 30 mil." Mas a região da Unila não é a única com potencial de crescimento. Em Foz ainda há muitos vazios urbanos propícios para a construção, no centro e nos bairros. Exemplo disso é a porção leste da cidade, outra que se tornou referência em condomínios horizontais. Segundo o Secovi, são de Foz do Iguaçu 90% dos 320 condomínios cadastrados em seis cidades situadas na regional Oeste.

O empresário Fernando Rodrigues Dias está entre os que apostam na prosperidade de Foz. Chegou de Maringá há dois anos e já tem três restaurantes no primeiro shopping center da cidade, o Cataratas JL. O terceiro ele inaugurou no fim de 2009, já pensando nos futuros moradores da cidade. "O público universitário é um público de shopping e de aluguel", diz o empresário, que recentemente comprou um imóvel no centro para alugar a estudantes, e com o mesmo objetivo predende aquirir outros apartamentos de dois e três quartos. De olho no mesmo público, Dias também quer investir na área de vestuário. "Em Maringá, quando tem vestibular, a cidade movimenta milhões em poucos dias. O público universitário vai procurar certos tipos de marcas e roupas que aqui ainda não tem."

Cidade tenta superar histórico de altos e baixos

Embora tenha localização estratégica, na fronteira com o Paraguai e a Argentina, Foz do Iguaçu só ganhou notoriedade a partir da construção da usina hidrelétrica de Itaipu, em 1970. Naquele ano, a cidade tinha 33.970 mil habitantes; uma década depois, o número chegou a 136.320. O fenômeno Itaipu gerou crescimento – novas moradias, escolas, casas comerciais e até bairros inteiros no entorno da usina –, mas também mazelas.Com a desmobilização da obra da hidrelétrica e o fim dos grandes investimentos em energia, milhares dos chamados "barrageiros" – trabalhadores nômades que migravam conforme se anunciavam novas obras de hidrelétricas – ficaram sem emprego. O mercado formal não conseguiu absorver a maioria, e muitos deles migraram para o trabalho informal. "A população que veio acabou ficando, mas a cidade não teve outra grande obra depois da usina", diz o professor do curso de Administração da Unioeste Guido José Schlickmann.

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Na sequência, a cidade passou por vários ciclos econômicos, como o do chamado comprismo, protagonizado por sacoleiros vindos de todo o Brasil para comprar no comércio paraguaio e que acabavam por movimentar hotéis, restaurantes e bares de Foz. Com a repressão ao contrabando nos últimos anos, essa fonte diminuiu, e a cidade passou a sobreviver apenas do turismo e da renda gerada pelo funcionalismo público – que cresceu à medida em que ficou mais intensa a atuação na região de órgãos como Receita, Polícia e Justiça federais.

Retomada

Hoje, três quartos dos 320 mil habitantes vivem com até 3,5 salários mínimos. Estima-se que, do total de trabalhadores da cidade, 56% sejam informais. Além disso, a maioria da população tem baixo nível de escolaridade – quase metade dos jovens de 16 e 17 anos estão fora da escola.

Mas, para Schlickmann, a vinda da Unila e do IFPR devem consolidar Foz do Iguaçu como cidade universitária e recolocá-la no caminho do desenvolvimento. "Foz estará muito bem dentro de dez anos e isso deve ter como impacto uma diminuição da violência e da pobreza", diz. Para a presidente da Acifi, a associação comercial e industrial da cidade, Elizangela de Paula Kuhn, a maior vitória é a melhora da imagem. "Estamos mudando a imagem da terra da ilegalidade."