Quem caminha na região central de Curitiba pela praça Generoso Marques, próximo ao Paço da Liberdade, pode não saber, mas está circulando por um local que contém um conceito: o de economia criativa. O termo faz menção a um universo que leva em conta ideias, imaginação e criatividade para conceber projetos e modelos de negócio inovadores. E Curitiba que já foi referência ao dar espaço a esse tipo de pensamento busca agora reacender o espírito vanguardista do passado.
Antiga sede da prefeitura, e depois do Museu Paranaense, o Paço da Liberdade teve sua estrutura desgastada ao longo do tempo. Para recuperar o prédio, órgãos públicos e a iniciativa privada se reuniram e discutiram alternativas. A Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio) participou do processo, e segundo o presidente Darci Piana, aspectos de diferentes áreas foram colocados em pauta para debater o projeto. "Além do prédio, era necessário uma melhora no entorno, repensando as ruas, o comércio e até mesmo a iluminação", diz.
Piana relembra que a obra serviu para mostrar que o debate entre diferentes áreas e grupos era capaz de gerar resultados positivos. A economia criativa estava sendo aplicada na prática. "Percebemos que era importante a análise sobre diferentes óticas, e que muitas cabeças podem pensar melhor que apenas uma", afirma. O projeto se propagou: ações similares foram feitas em cidades como Castro, Maringá e Londrina, e uma comitiva visitou Londres e Barcelona, reconhecidas como metrópoles criativas.
Neste ano a iniciativa ganhou proporções ainda maiores. Sebrae, Fecomércio e a Escola de Criatividade se reuniram e lançaram o Movimento Curitiba Mais Criativa. O objetivo é reunir e estimular a troca de experiências entre profissionais de diferentes áreas, como moda, arquitetura, cultura, música e design, para melhorar a cidade. Serão realizados encontros mensais com cerca de 60 convidados, que vão pensar formas de promover a valorização de espaços urbanos. As ações buscam repetir experiências bem-sucedidas em outros pontos da cidade, como na Rua Riachuelo, que passou por uma revitalização nos mesmos moldes da que foi feita no Paço.
A ação será do tipo "multiplataforma", com discussões presenciais e em sites de redes sociais. A página no Facebook é o espaço para quem não foi chamado para os encontros e deseja se manifestar. De acordo com Jean Siegel, sócio da Escola de Criatividade e um dos apoiadores do movimento, o objetivo é fazer com que o debate se torne diário. "O interesse é fazer com que o movimento se automobilize, se construa no dia a dia por pessoas que estejam interessadas em participar", comenta. Qualquer pessoa pode participar, e um blog está sendo produzido para facilitar ainda mais interação.
Vocação
A vocação de Curitiba para projetos inovadores vem do passado. O diretor de Operações do Sebrae/PR, Julio Cezar Agostini, relembra que essa postura partia da própria população. "Muitas empresas testavam e lançavam novos produtos aqui, pois o curitibano tinha esse perfil inovador", diz. Para ele, a cidade perdeu parte dessa força, mas isso pode ser resgatado com o movimento.
Lourival Peyerl, diretor de informação do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), também destaca o pensamento criativo do curitibano. "Durante muito tempo a cidade foi acostumada a planejar seu destino com ideias inovadoras. Isso pode ser visto em exemplos como os sistemas trinários e o uso de trincheiras", afirma.
Projeto vai premiar iniciativas
Promover a diversidade e a criatividade, de forma democrática e por meio de ideias inovadoras. Esse é o objetivo do Movimento HotSpot, que vai avaliar e premiar projetos de destaque em áreas como arquitetura, design, música, fotografia, entre outras. Será realizado um processo eliminatório em cinco etapas, até a escolha final de 12 propostas, que receberão recursos para serem viabilizadas.
Para participar, o candidato deve criar um perfil no site oficial, onde poderá apresentar ideias, compartilhar conteúdo e interagir com outros integrantes. Na sequência serão realizados em 16 cidades os scoutings, que são seletivas para avaliar as propostas e procurar novos candidatos. A etapa seguinte será a realização de festivais culturais, em dez capitais brasileiras, que selecionarão os finalistas. Nos festivais, além da avaliação dos candidatos, serão realizadas palestras e ações para fomentar iniciativas criativas. Quem quiser participar deverá ser convidado, mas haverá distribuição de convites em locais estratégicos.
A avaliação dos candidatos será feita por curadores selecionados, tidos como referência em cada área. Para Paulo Borges, idealizador do movimento, a participação deles vai ajudar a promover a troca de informações. "O conhecimento dos curadores vai ser aplicado para promover a criatividade de forma regional", afirma. Após a seleção nos festivais, um grupo de 60 finalistas participará de uma imersão no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde deverá desempenhar tarefas específicas ligadas ao tema escolhido.