Em Wall Street existe a máxima de que os bancos vivem de aparência e por isso precisam parecer fortes, com prédios imponentes e sinais deliberados de riqueza. A crise que teve seu ponto de maior tensão após a falência do Lehman Brothers há exatos 12 meses é um lembrete de que as aparências, tão necessárias para o funcionamento do que é o sistema nervoso central do capitalismo, enganam. E um dos desafios que governos em todo o mundo têm no momento é fazer com que algo tão óbvio se torne parte de um modelo mais hábil em evitar catástrofes financeiras como a que o mundo viveu nos últimos dois anos.
Existe o risco de que, passada a crise, a esperada regulação sobre o sistema financeiro não seja esperta ou dura o suficiente. Os banqueiros centrais terão de estabelecer limites para que os bancos vivam de seus fundamentos, e não de aparência o que se traduz em um índice máximo na relação entre capital e empréstimos, cortes na remuneração de executivos, e maior transparência na formulação de produtos complexos, como os derivativos imobiliários que fizeram os calotes em hipotecas de baixa qualidade se espalharem pelo sistema.
Espera-se que os bancos se adaptem às normas quando os governos retirarem de campo suas políticas que, com garantias e estímulos, salvaram o mundo de uma nova depressão como a da década de 30. A ação pública, porém, tem limitações os governos ficam mais endividados, o que é insustentável no longo prazo. Podemos esperar uma fase de transição que não é livre de riscos, porque uma retirada antecipada do apoio poderá causar uma nova fase de retração.
A recuperação da economia global se dará em um ambiente muito diferente do que ocorreu na longa onda de expansão que foi de 2003 a meados de 2008. Os consumidores do mundo rico, estrangulados por dívidas e pelo desemprego alto (em especial nos EUA, Reino Unido e Espanha), não terão condições de comprar como antes. O crescimento terá de vir de outro lugar e a aposta agora é que as classes emergentes em países como China, Índia e Brasil farão parte importante do trabalho. É uma tendência que precisa de comprovação ao longo do tempo.
Há, por último, uma falta de balanço no comércio global que está intimamente ligada à dinâmica da crise. A China tem mantido por anos um superávit enorme com os EUA e esse dinheiro voltou à economia americana, permitindo, com uma mão dos juros baixos, que o sistema bancário cometesse os excessos que cometeu. A tensão entre os dois países pode crescer com a bem-vinda correção dessa falta de balanço, com maior pressão americana para cortar importações da China.