O mercado de trabalho para pessoas com deficiência nunca esteve tão aquecido. Tanto que muitas empresas com 100 ou mais funcionários têm encontrado dificuldades para preencher as cotas da lei que determina a reserva de vagas para deficientes. Mas, a despeito da necessidade pura e simples de preencher vagas, muitos deficientes vêm conquistando espaços importantes nas empresas e construindo carreira a custa de qualificação e competência.
VÍDEO: Assista a um vídeo com o criador do site Deficiente Online, Cláudio Tavares
Embora a lei tenha sido criada em 1991, a mudança que democratizou o mercado de trabalho para deficientes começou no ano de 2.000, com a regulamentação do texto, que obrigou as empresas reservarem de 2% a 5% de vagas conforme o número de funcionários. "Desde então, aquelas que contratam com o único propósito de cumprir a lei têm obtido poucos resultados", explica Carolina Ignarra, diretora da Talento Incluir, consultoria especializada na inclusão Pessoas com Deficiência (PCD) no mercado de trabalho. Por outro lado, as empresas que entenderam o objetivo de transformação social da lei estão contribuindo para desenvolver esses profissionais.
Cadeirante há 11 anos, Carolina tinha acabado de se formar em Educação Física quando sofreu um acidente. "Voltar ao trabalho foi essencial, porque me mostrou que eu podia fazer tudo".
Trabalhando há quatro anos com inclusão de PCDs, ela diz que a capacitação dessas pessoas é fundamental, mas não basta. "Muita gente acha que pode entregar menos, justamente por causa da deficiência. Isso é um equívoco para quem almeja construir uma carreira".
O curitibano André Cordeiro da Silva sempre rejeitou a acomodação e sua postura o levou longe. Ele nasceu sem a perna direita do joelho para baixo, mas sempre foi tratado como uma criança absolutamente normal pela família. "Isso moldou a minha vida profissional". Ignorando a limitação, ele se formou na área de informática, fez MBA em Gestão de Projetos, adquiriu fluência em francês e espanhol e hoje é analista de estudos econômicos da Renault do Brasil. "As empresas podem abrir oportunidades iguais e oferecer as condições necessárias, mas não podem assumir a responsabilidade que é da pessoa com deficiência".
Para a gerente de recrutamento, seleção e projetos da GD9 Assessoria em RH, Josimeiry Gonçalves Mattos, as empresas que se preocuparam primeiro com a inclusão de PCDs estão mais maduras e buscam pessoas qualificadas independentemente das suas limitações. Nessas empresas é que estão as melhores oportunidades.
Formada em Ciências Aeronáuticas com pós-graduação em Marketing, Larissa Magna Bosco, de 27 anos, tem uma má formação na mão esquerda. Aos 19 anos, com a ajuda da Lei de Cotas ela entrou no Itaú. Começou como agente comercial e depois trabalhou como assistente de gerente, gerente de contas e agora é gerente Uniclass, para clientes com alto rendimento. Há oito anos no banco, sempre teve as mesmas possibilidade de crescimento dos demais colegas, com direito a broncas e cumprimento de metas. "Nunca me coloquei na posição de vítima e sempre soube aonde queria chegar", diz ela.
Larissa faz parte de um grupo de 4.115 PCDs que trabalham nas agências do Itaú Unibanco em todo o Brasil. Segundo a superintendente de Atração, Seleção, Integração e Diversidade do banco, Marcele Correia, serão ofertadas mil bolsas de graduação para os PCDs que já trabalham no banco no próximo ano.
Economia | 3:15
O curitibano Claudio Tavares nasceu sem a mão direita. Formado em Sistemas de Informação e com MBA em Banco de Dados, ele decidiu usar a sua qualificação e experiência para criar o site Deficiente Online para facilitar o acesso de outras pessoas com deficiência ao mercado de trabalho.